São 7h. Uma balsa que minutos antes havia partido do Guarujá atraca em Santos. Dela, em vez de carros, desembarcam multidões de ciclistas, em um movimento que se repete várias vezes ao longo da manhã.
Um dia antes, no fim de tarde, em Sorocaba, trabalhadores voltam para casa de bicicleta em vias exclusivas e bem sinalizadas que cortam a cidade ligando regiões sem distinção, de bairros ricos a periferias com casas pobres.
As cenas fazem parte da rotina dos dois municípios, que passaram a ver nas bicicletas um meio de transporte de fato. Isso colocou Sorocaba (99 km de SP) e Santos (72 km de SP) entre os principais modelos cicloviários do Estado.
Com um plano que prevê cem quilômetros de ciclovias até 2012, dos quais 75 quilômetros em operação, Sorocaba é apontada hoje como uma das cidades que mais bem investiram no transporte por bikes.
Padronizadas com piso em vermelho e sinalização, as ciclovias são quase todas interligadas. Há bicicletários em terminais de ônibus, o que permite a integração, além de paraciclos pela cidade.
O projeto de criar uma malha cicloviária ampla começou em meados de 2006, segundo o secretário dos Transportes, Renato Gianolla.
Novas avenidas passaram a ser projetadas com canteiros largos, com espaço reservado para ciclovias, e vias já existentes foram adaptadas.
Em paralelo, a prefeitura implantou ações para tentar atrair a população, como passeios e conscientização.
Grupos independentes também entraram na tarefa, como o Sorocaba Bikers, que tem cerca de 300 membros.
Na prática, o uso das ciclovias ainda é maior por quem procura os espaços por lazer, reconhece o secretário dos Transportes. "Agora o desafio é incentivar [o uso] para o trabalho", afirmou Gianolla.
A Folha esteve na cidade em uma quarta-feira. À tarde, no bicicletário existente no terminal rodoviário Santo Antônio, no centro, com capacidade para 60 bicicletas, havia seis estacionadas.
Ao lado, em uma área reservada para motos, cerca de 40 ocupavam o espaço --fazer o trabalhador trocar o veículo motorizado pelo pedal, mesmo oferecendo a infraestrutura, ainda é difícil.
Cena da China
Santos é uma prova de que a consolidação do projeto cicloviário ao longo dos anos, aliada a uma boa infraestrutura, dá resultado. As primeiras ciclovias da cidade começaram nos anos 1990 e a expansão foi contínua - hoje são quase 30 km e ainda há obras em alguns trechos.
A travessia da balsa entre a cidade e Guarujá, descrita no início do texto, é a maior prova de que a bicicleta faz parte da vida de muita gente na Baixada Santista.
Segundo a Dersa, que administra a balsa, de dez a 12 mil ciclistas usam a travessia diariamente.
A imagem dos desembarques nas primeiras horas do dia impressiona e faz lembrar o que se vê em grandes cidades chinesas, onde multidões se locomovem de bicicletas.
O aspecto econômico é o que parece fazer mais diferença. "Se eu não usasse a bicicleta, teria de pagar dois ônibus, além da balsa, todos os dias", disse a secretária Maria José Soledade Silva, 37, que vai do Guarujá a Santos.
Quem cruza a balsa de bicicleta não paga nada - se estiver a pé, gasta R$ 2,20.
Segundo a Prefeitura de Santos, o uso da bicicleta já corresponde a 8% de todas as locomoções feitas na cidade, incluindo as de pedestres.
A administração atribui boa parte disso às ciclovias. A topografia da área urbana, quase toda plana, favorece.
A estrutura da rede cicloviária também é boa: há até semáforos exclusivos para bicicletas, embora muitos não respeitem o sinal vermelho.
Também há problemas, como no trecho de ciclovia próximo ao cais, que acumula água quando chove e que aparenta não estar tão bem cuidado como o que fica na parte turística à beira-mar.
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