Metrô e trens de SP têm ao menos 15 roubos por dia

Número de casos refere-se ao 3º trimestre de 2022. Onda de assaltos no transporte público provoca mudanças na segurança, como convênio com PMs e uso de detectores

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Fonte: Folha de S. Paulo  |  Autor: William Cardoso  |  Postado em: 17 de novembro de 2022

Assaltos violentos em trens e estações, antes algo

Crimes violentos em trens e estações: antes, algo incomum

créditos: Rovena Rosa/ Agência Brasil

A Polícia Civil registrou ao menos 15 roubos por dia nos trens e no metrô da capital paulista no terceiro trimestre deste ano. Ao todo, foram 1.343 casos entre julho e setembro. A comparação com outros trimestres é afetada pela falta de padrão no registro das ocorrências.

 

Roubos são crimes cometidos mediante ameaça e violência, algo que era visto, no passado, como incomum no transporte sobre trilhos —diferentemente dos furtos, quando o ladrão aproveita uma oportunidade ou um descuido da vítima, o que sempre foi um problema em trens e estações.

 

O impacto dessa onda de assaltos levou o metrô a promover nos últimos meses uma mudança no setor de segurança e a buscar convênio com a Secretaria estadual da Segurança Pública (SSP) para contar com 180 policiais militares no dia a dia das estações, por meio de uma operação delegada —a Dejem (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Militar).

 

PMs vigiam estações do Metrô de SP. Foto: Silvani Pereira/Divulgação Metrô

 

O convênio também existe na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), segundo informa a pasta. O governo Rodrigo Garcia (PSDB) chegou, ainda, a resgatar portas detectoras de metais, já usadas sem sucesso no passado.

 

A operação delegada com PMs é alvo de críticas por parte dos metroviários, que apontam uma redução significativa no número de seguranças próprios do Metrô como uma das causas da onda de violência em trens e estações.

 

Números 

Para chegar aos números da criminalidade, a reportagem da Folha de S. Paulo usou como parâmetro os roubos apontados em boletins de ocorrência especificamente dentro do sistema metroferroviário, a partir de dados solicitados via LAI (Lei de Acesso à Informação).

 

Foram descartadas, por exemplo, aquelas ocorrências que são citadas apenas como em terminais e estações de maneira genérica, sem detalhamento claro sobre onde teriam acontecido (se dentro ou ao redor das paradas, por exemplo). Ou seja, embora o número ao qual se chegou seja elevado, trata-se ainda assim de uma contagem bastante conservadora.

 

Os 1.343 roubos de julho a setembro somente na capital paulista correspondem a mais de oito vezes o número de crimes da mesma natureza registrados no trimestre anterior, entre abril e junho (161 ocorrências). Também é um montante bastante superior a qualquer outro período analisado ao longo dos últimos quatro anos, mesmo no pré-pandemia, em 2019.

 

Questionada sobre a discrepância entre os dados apresentados pela própria pasta via LAI, a SSP afirma que "melhorou a forma de preenchimento dos boletins de ocorrência registrados no metrô, que passaram a incluir, de forma mais precisa, a geolocalização do crime noticiado, em lugar da expressão genérica via pública ou outros". Não foi informado, porém, desde quando isso passou a ser regra.

 

A Secretaria também apontou que o registro on-line ficou mais difundido entre a população e que, no levantamento realizado pela reportagem, cerca de 80% dos casos foram anotados por meio da Delegacia Eletrônica. 

 

Seja por subnotificação no passado ou atualização na forma de registro, o fato é que a grandeza dos números atuais, todos com data, horário e boletim de ocorrência, se apoia também na impressão de seguranças do metrô com quem a reportagem conversou, sob a condição do anonimato.

 

Metroviários afirmam que quadro reduzido de funcionários piorou o problema. Foto: Sindicato dos Metroviários

 

Os agentes apontam que a redução no número de seguranças está diretamente ligada ao aumento nos roubos. Eles afirmam que a "ação de presença" (funcionários circulando por trens e estações) sempre foi um fator intimidatório para evitar que ladrões agissem de forma violenta, cometendo assaltos. Com menos profissionais, criminosos se sentem mais à vontade.

 

A estimativa é de um déficit de cerca de 200 seguranças —o quadro atual é de cerca de 1.000 agentes, incluindo aqueles que são afastados rotineiramente por doenças laborais.

 

Segundo as pessoas com as quais a reportagem manteve contato, a situação é crítica a ponto de algumas estações terem passado a operar na abertura e no fechamento com um único funcionário —mesmo assim integrante do quadro operacional, não um segurança.

 

Os agentes questionam também a opção pelo convênio com a PM, no lugar da reposição do quadro de funcionários. Segundo eles, o metrô tem uma arquitetura e um sistema complexos, enquanto os policiais estão mais adaptados ao patrulhamento ostensivo, nas ruas.

 

Procurada, a SSP afirma que, além dos PMs, policiais civis da Delpom (Delegacia do Metropolitano) "realizam operações periódicas e prenderam 104 criminosos, em flagrante ou por mandados contra envolvidos em crimes cometidos no sistema metroviário".

 

Já a STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos), responsável por trens e metrô no estado, cita, além do convênio, reforço do patrulhamento nas estações e trens e a ampliação e renovação dos sistemas de segurança. Entre as ações está a chegada de um novo chefe da segurança, o coronel Eduardo Agrella, a compra de detectores de metal e investimento na ampliação e renovação das câmeras.

 

Fora os 180 policiais para trabalhar no metrô, a secretaria diz que outros cem vigilantes fardados fazem a ronda no entorno das estações. "Com isso, os agentes de segurança do Metrô podem concentrar seus esforços dentro das estações", diz, em nota.

 

Segundo a STM, o percentual de solução das ocorrências de segurança no Metrô é de 76% e a rápida comunicação dos casos pode ajudar a ampliar esses números. 

 

A secretaria diz que a CPTM investe constantemente em ações que reforçam o patrulhamento ostensivo e preventivo no sistema. Cita a escolta em mais de 80% dos trens fora dos horários de pico, equipe de segurança em todas as estações e convênio com a PM em 50% das estações da companhia.

 

Concessionárias

A pasta respondeu também pelas linhas 4-Amarela e 5-Lilás, de metrô, e 8-Diamante e 9-Esmeralda, dos trens, sob concessão da ViaQuatro e ViaMobilidade, respectivamente. Segundo a secretaria, houve investimento em bodycams para uso dos agentes de atendimento e segurança.

 

"As concessionárias também realizam novas contratações de agentes, principalmente mulheres, com o objetivo de tornar o atendimento mais igualitário. Juntas, as quatro linhas contam com 5.052 câmeras que realizam o monitoramento ininterrupto de todo o sistema operado pelas concessionárias, medida que contribui de forma decisiva para a segurança", afirma, em nota.

 

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