Tecnologia permite projetar ruas e calçadas melhores

Método desenvolvido pela Unicamp pode apoiar ações pontuais e de custo baixo para novas vias ou retrofit em áreas hostis ao pedestre, para se ter cidades mais caminháveis

Notícias
 

Fonte: Mobilize/ Inova Unicamp  |  Autor: Ana Paula Palazi  |  Postado em: 09 de setembro de 2022

Intervenções que podem levar a espaços mais humano

Intervenções que podem levar a espaços mais humanos

créditos: Arquivo pessoal/Marcela Noronha

No período em que morou na Itália, a aluna e pesquisadora da faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FecFau/Unicamp), Marcela Noronha, não precisava de carro e ia a todos os lugares a pé. Já em Campinas (SP), onde vive atualmente, enfrenta uma realidade bem diferente, e o uso dos veículos, próprios ou coletivos, é quase indispensável para sair de casa, conta a arquiteta. A experiência levou a arquiteta a repensar o que torna as ruas urbanas tão caminháveis em algumas regiões, e perigosas ou até inviáveis para os pedestres em outras.

 

O resultado da pesquisa foi o desenvolvimento de um novo método de avaliação que utiliza a computação e a matemática para auxiliar projetistas e planejadores urbanos. A tecnologia, com pedido de patente depositado pela Inova Unicamp, mapeia o desenho das ruas e fornece informações quantitativas que, de forma automatizada, podem dar suporte a projetos privados ou políticas públicas de mobilidade urbana.

 

Metodologia

Pelo método proposto, é feita uma avaliação do nível de serviço de ruas e calçadas a partir de vários padrões descritos na literatura e alguns desenvolvidos pela pesquisadora durante seu doutorado-sanduíche. São padrões que incluem cruzamentos, faixas de estacionamento até o raio de giro das esquinas e a arborização das vias. A análise desses pontos gera uma nota global que vai de A até E, informando se a via está ou não cumprindo seu papel, ou se precisa, no caso de ruas já existentes, ser “retrofitada” para a viabilização de um adensamento urbano sustentável. 

 

“Cada rua tem diferentes tipologias, fluxo de carros, número de faixas e largura da calçada. O que fizemos foi pensar quais são essas regras e como elas se combinam, com base na gramática da forma”, explica Marcela. Pela nova metodologia é possível comparar o estado inicial e final de uma rua para saber, antes do início da obra, o impacto que as intervenções podem causar no fluxo, segurança, acessibilidade, no nível de conforto para motoristas e, principalmente, para os pedestres.

 

Desenho de "retrofit" com objetivo de tornar caminhável uma área. Imagem: Arquivo pessoal/Marcela Noronha

 

Promover a caminhabilidade

A metodologia foi testada em State College, no distrito de Centre County, localizado no estado norte-americano da Pensilvânia. O levantamento, feito sob a orientação de José Pinto Duarte, professor de arquitetura e paisagismo da Universidade Estadual da Pensilvânia (Penn State University), apontou diversos problemas de caminhabilidade na pequena cidade universitária.

 

Segundo Duarte, há a crença - aqui desfeita - de que adaptar uma malha urbana a condições de tráfego diferentes para, por exemplo, promover o tráfego de pedestres em vez do veicular, implica grandes alterações no traçado das ruas e é dispendioso. “O interessante nesta nova abordagem é que ela permite identificar os pontos-chave em que alterações mínimas no traçado permitem atingir o impacto geral desejado. Assim, as intervenções são pontuais, podem ser feitas de forma incremental e com custos mínimos diferidos no tempo”, explica.

 

A aplicação da metodologia nas ruas do distrito norte-americano gerou um desenho elaborado, que amplia o espaço destinado aos pedestres. A partir da sintaxe espacial, foram definidas as hierarquias viárias e as ruas com maior fluxo de pedestres na malha inicial do distrito, e propostas alterações que incluíam a instalação de faixas de estacionamento junto às guias, travessias de pedestre elevadas, e até a transformação de uma das ruas em calçadão. Após o “retrofit”, o conceito de uma das vias passou da nota E para B, melhorando a caminhabilidade.

 

As regras e indicadores geométricos que apoiam o modelo gerado facilitam a coleta de dados e permitem a automação do processo, com uso de uma ferramenta de computador. Outra vantagem da metodologia está na capacidade de gerar múltiplas opções de intervenção para uma mesma rua, o que abre o diálogo com os projetistas, inclusive em processos participativos, nos quais a escolha não é determinada somente pela percepção do usuário ou apenas pelo resultado da máquina.

 

Projeto no campus paulista

O trabalho fornecerá subsídios para o plano de intervenção da área do antigo Ciatec 2, no polo de alta tecnologia de Campinas, explica a professora Maria Gabriela Caffarena Celani, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, e orientadora de Marcela Noronha: “Um projeto de urbanização dessa área está sendo desenvolvido com o objetivo de propor a aplicação de diversos conceitos de cidade sustentável, que incluem a mobilidade ativa como um de seus principais atributos. O trabalho de Marcela vai fornecer dados para esse projeto e certamente contribuirá para seu sucesso”, disse. 

 

“Existem vários manuais e regras de boa conduta, mas não um conjunto que te explique passo a passo qual a melhor solução para os diferentes tipos de vias. Conseguimos reunir tudo isso e intervir nesse universo complexo da sustentabilidade, fazendo pequenas modificações e produzindo cidades mais inteligentes, pensadas desde a fase do projeto”, finaliza Marcela.

 

Leia também:
Vitória (ES) persegue a via da mobilidade sustentável
Fortaleza adota cartilha da mobilidade sustentável
Crianças fazem expedição a pé e avaliam caminhabilidade em Jundiaí
Escolas ganham nova rua de trânsito calmo no Recife
Como os pedestres foram expulsos das ruas


  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário