Um estudo da Universidade de Coimbra concluiu que as zonas mais pobres em Lisboa têm menos acesso a ciclovias e ao sistema de bicicletas compartilhadas da Gira do que as áreas mais ricas da capital. [No final da matéria, veja como esse assunto é tratado no Brasil]
O trabalho permitiu cruzar dados relativos à distribuição geográfica das ciclovias e estações de bicicletas com um indicador de vulnerabilidade social. Na capital portuguesa, o sistema de bicicletas compartilhadas Gira é gerenciado pela Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (Emel).
Coordenado pelo pesquisador Miguel Padeiro, do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, o estudo conclui que, até o momento, o desenvolvimento do sistema de bicicletas públicas e da rede de ciclovias ocorreu de forma desigual: em áreas onde o índice de vulnerabilidade social é mais alto esse acesso a ciclovias é pior do que nas áreas mais ricas da cidade.
O cientista social declarou à Agência Lusa que o desenvolvimento e a ampliação destas redes pouco fizeram “para diminuir as desigualdades pré-existentes”, podendo, na sua opinião, inclusive reforçá-las.
Em Portugal, no Chile, EUA, Colômbia...
O levantamento vai ao encontro de conclusões de investigações semelhantes realizadas em outros países - como Chile, Estados Unidos e Colômbia - e alerta para a importância de se expandir as infraestruturas cicláveis não apenas em Lisboa, mas no resto do país.
Lisboa Ciclável, programa de expansão de ciclovias em Portugal . Foto: Câmara Mun. de Lisboa
“É importante que este município [Lisboa] e outros tomem medidas no sentido de expandir as redes de ciclovias e de bicicletas partilhadas, e que essa expansão se faça de um modo mais justo, com maior cobertura territorial e com uma perspetiva mais social”, conclui Miguel Padeiro.
Observação do Mobilize
No Brasil não é diferente... Por aqui, vários estudos acadêmicos e de cicloativistas têm abordado também as desigualdades - sociais, de gênero, e outras - na distribuição da estrutura cicloviária em cidades brasileiras.
Para citar apenas dois trabalhos: "A bicicleta e as mulheres: mobilidade ativa, gênero e desigualdades socioterritoriais em São Paulo", de Marina Harkot (2018)
E o CicloMapa (UCB e ITDP), ferramenta que permite checar a presença, e falta, das infraestruturas cicloviárias nas cidades brasileiras.
A partir deste CicloMapa, desenvolvido em 2020, a conclusão é que somente 13% da população com renda mensal abaixo de um salário mínimo mora próximo a essa infraestrutura, enquanto 30% dos moradores com renda acima de três salários mínimos estão a 300 m de uma rota segura para ciclistas.
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