Estudo revela o quanto a desigualdade impacta na mobilidade

Levantamento do Instituto Multiplicidade em 17 cidades mostra as dificuldades de acesso - por mobilidade ativa, app e transporte público - a trabalho, educação e saúde

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Fonte: Multiplicidade Mobilidade  |  Autor: Multiplicidade Mobilidade  |  Postado em: 28 de julho de 2022

São Paulo: oportunidades mal distribuídas, acesso

São Paulo: oportunidades mal distribuídas, acesso difícil

créditos: Rovena Rosa/ Agência Brasil

Um estudo feito em 13 capitais e 4 cidades de maior relevância econômica do país revela o quanto o crescimento desordenado e a desigualdade interferem na mobilidade e no acesso das populações periféricas a serviços de educação e saúde e empregos formais. Realizada pela 99, em parceria com a Multiplicidade Mobilidade, a pesquisa está em fase de lançamento, mas um relatório já traz seus resultados mais relevantes. 

 

No levantamento, foram utilizados dados oficiais (como PNAD, IBGE, RAIS), além de questionários respondidos por usuários da 99 sobre integração entre aplicativos e transporte público nas suas viagens. 

 

O objetivo foi medir a acessibilidade da população ao emprego formal, educação e saúde em 30 minutos (a pé, de bicicleta ou de aplicativo com até R$ 10) ou em 1 hora (ônibus). 

 

O resultado mostra que a população vulnerável, especialmente as pessoas negras, gasta mais tempo em seus trajetos sem a integração com carros de aplicativos.

 

Segundo o estudo, a população periférica de Natal (RN) se locomove para emprego formal e espaços de educação e saúde em 30 minutos (se for a pé, de bicicleta ou aplicativo com até R$ 10) ou em 1 hora (ônibus) em 57,1% dos casos. É mais do que os moradores têm em São Paulo (34,6%), Rio de Janeiro (36,5%), Recife (46,5%) e Curitiba (47%).

 

Indicadores

O estudo criou o Índice de Acesso à Cidade (IAC) para mostrar o quanto cada município está longe ou perto de proporcionar uma cidade que ofereça oportunidades iguais dentre as existentes em emprego formal, educação e saúde, independentemente de raça e local de moradia.

 

Aparecem em destaque positivo no IAC novamente Natal, além de Curitiba, como as duas únicas a oferecer mais de 50% de chances iguais em mobilidade para a população acessar oportunidades de emprego formal, saúde e educação. A capital paulista, com 40,9%, é a 5ª mais próxima de um IAC ideal entre as 17 cidades, atrás de Fortaleza (42,3%), Santo André (44,1%), Curitiba e Natal.

 

“O Índice de Acesso às Cidades recomenda intervenções que fomentem a equidade de oportunidades, alinhadas a Agenda 2030 da ONU que prioriza não deixar ninguém para trás (...), afirma Diogo Souto Maior, diretor de Relações Governamentais da 99.

 

Subindicadores

O IAC é composto por dois subindicadores. O primeiro é o Índice de Acesso às Oportunidades em Prol da Redução de Desigualdades (IAOD), que mede quantas oportunidades a população consegue acessar em 30 minutos (a pé, de bicicleta ou por meio de aplicativo) ou 1 hora de ônibus. Neste caso, um importante diferencial do estudo é dar maior peso à população de predominância negra, que tende a ser a mais periférica. o que evita distorções de dados que ocorrem quando se considera as médias nas cidades.

 

Quando analisado somente o IAOD, a capital paulista tem 34,6% de oportunidades que podem ser acessadas em meia hora (a pé, de bicicleta ou por aplicativo) ou uma hora (ônibus). Desempenho melhor é verificado em Natal (57,1%), Curitiba (47%), Recife (46,5%), Belo Horizonte (45,1%), Fortaleza (43,6%), Santo André (43%) e Rio de Janeiro (36,5%). 

 

A conclusão é que, apesar da grande densidade populacional paulistana, as oportunidades estão mal distribuídas e há um grande potencial para a integração com aplicativos, que ajuda a melhorar o índice. Decorre daí que as cidades precisam ser compactas e ter sobreposição de usos para conectar núcleos residenciais a comércio e serviços, favorecendo menores deslocamentos com integração e redução de custos de investimento no transporte de massa.

 

O segundo subindicador é o Índice de Integração com Transporte Público (IATP), que busca medir as viagens integradas do aplicativo com o transporte público e o potencial de usuários dispostos a fazer viagens assim. Passageiros responderam se fizeram ou gostariam de fazer integração aplicativo/ônibus. Se uma cidade tiver 100%, isso indica que todas as viagens foram feitas ou teriam o potencial de ser realizadas com integração entre aplicativos e transporte de massa.

 

Na análise somente do IATP, apenas 6 das 17 cidades analisadas têm menos da metade do caminho para atingir o ponto ideal de integração entre aplicativo e ônibus. Campo Grande (78%), Curitiba (66,4%) e São Paulo (66,2%) se destacam na integração modal. Belo Horizonte (11,2%), Campinas (12,8%) e Recife (16,2%) estão mais distantes.

 

“As oportunidades estão distribuídas de forma desigual. O estudo chama nossa atenção para as desigualdades das cidades e como pessoas brancas chegam mais rápido e mais facilmente a serviços  de saúde, educação e trabalho formal, reforçando como o CEP de uma pessoa diz muito sobre sua qualidade de vida”, conclui Glaucia Pereira, fundadora e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Multiplicidade Mobilidade Urbana.

 

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