Planejada para carros, Palmas precisa superar o velho modelo

Capital do Tocantins só agora inicia seu Plano de Mobilidade; enquanto isso, a população sofre com ônibus precários e calçadas e ciclovias sem conexão

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Du Dias/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 13 de julho de 2022

Carros ocupam todo o viário na capital do Tocantin

Carros ocupam todo o viário na capital do Tocantins

créditos: Prefeitura de Palmas


 

Fundada em 1989, às margens do imponente rio Tocantins, Palmas foi a última capital brasileira a ser construída de forma planejada, tal como Belo Horizonte, Boa Vista, Brasília, Goiânia, Aracaju e Teresina. E da mesma forma como aconteceu também com suas antecessoras, a infraestrutura e os serviços públicos da cidade se concentraram na região central, enquanto as periferias se expandiram carentes e desordenadas. 

 

Palmas tem o menor número absoluto de habitantes (306.296 pessoas/IBGE 2020) e a 18ª maior área urbana entre as capitais brasileiras (144,43 km²/Embrapa). Este espraiamento amplia os desafios de mobilidade em uma cidade que, mesmo banhada por um rio com mais de dois mil quilômetros navegáveis, adotou o modelo rodoviarista de transporte desde sua concepção. 

 

Com pouco mais de 300 mil habitantes, a cidade já deveria ter aprovado seu Plano de Mobilidade, conforme as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 12587/12), mas a primeira audiência pública sobre o tema só foi realizada no dia 4 de maio deste ano.

 

Sem um sistema de alta capacidade (trens, metrô, BRT ou VLT), Palmas depende basicamente dos ônibus como modo público de transporte, mas sequer conta com faixas ou corredores exclusivos para estes veículos, que disputam com automóveis particulares as ruas e avenidas sempre saturadas nos horários de pico. 

 


Na visão de Bayron Fernandes de Lima (foto), coordenador local do Estudo Mobilize 2022 em Palmas, nos últimos dez anos não houve grandes mudanças nas condições de mobilidade na região planejada da cidade. “Já nas periferias, que crescem mais organicamente, há grande deficiência de transporte público e falta integração com as poucas ciclovias espraiadas”, aponta Lima. Além disso, o parceiro do Mobilize em Palmas acredita que a tarifa de ônibus é muito pesada para a população: “A maioria das vagas de emprego em Palmas paga apenas um salário mínimo, e os trabalhadores que moram mais distantes do centro fazem um deslocamento longo dentro dos ônibus. Se a pessoa não receber algum extra, o custo do transporte impactará muito no seu orçamento.” 

 

Segundo dados encaminhados pela prefeitura de Palmas ao Mobilize Brasil, o poder público paga R$ 0,42 por passageiro embarcado, para manter o preço da tarifa do transporte público em R$ 3,85. Este valor, no entanto, não é universal. Para se deslocar até o centro da cidade, quem mora nos bairros mais afastados muitas vezes acaba pagando até R$ 5,50 no transporte informal, feito por vans no sistema de lotação, uma vez que, segundo moradores, os ônibus de linha atrasam muito e não circulam por estas regiões durante todo o dia. Com isso, os custos com deslocamento, apenas para ir e voltar do trabalho, podem representar até 20% do orçamento mensal do trabalhador. 

 

Transporte público: serviço é caro para a renda da população. Foto: Prefeitura de Palmas

 

Planejada para carros
Como a cidade é muito espraiada, as distâncias podem ser impraticáveis para serem percorridas a pé e tampouco há estrutura cicloviária suficiente para que estes deslocamentos sejam feitos com conforto, segurança e eficiência utilizando a bicicleta. “Os pedestres e ciclistas têm alguma infraestrutura espalhada pela cidade, mas ela não está conectada. Como Palmas foi planejada para os carros, há grande uso destes veículos no dia a dia, e as caminhadas são praticadas quase que exclusivamente em parques e vias delimitadas para essa atividade. Fora destes lugares não há muitos deslocamentos a pé”, revelou Bayron. “Já os ciclistas, muitas vezes pedalam nas vias mesmo, apesar de haver algumas ciclofaixas e ciclovias, dependendo da região”, conclui. 

 

Boa arborização oferece conforto a pedestres e ciclistas. Mas faltam calçadas e ciclovias. Foto: Prefeitura de Palmas

 

O que alivia o deslocar-se na cidade é a presença do verde. Apesar dos grandes desafios para a mobilidade na capital do Tocantins, felizmente desde 2016 a cidade tem um Plano de Arborização e recentemente foi incluída no rol das cidades da Rede Cities4Forests, que estimula a arborização urbana. 

 

Além de garantir o conforto térmico e a redução da poluição sonora e atmosférica, com a melhoria na qualidade de vida, essa ampla cobertura vegetal torna a cidade mais aprazível. A ampliação da arborização traz espaços de permanência, não apenas de passagem, tornando os deslocamentos ativos mais atrativos. Mas ainda assim, para isso falta ao poder público investir mais na qualidade das calçadas. Na campanha Calçadas do Brasil, realizada pelo Mobilize Brasil em 2019, a cidade ficou em 16º entre todas as capitais, quanto à oferta e qualidade da infraestrutura para pedestres. 

 

Observação do Mobilize
Para realizar o Estudo Mobilize 2022, além da coleta de dados locais, com o suporte de coordenadores e colaboradores em cada uma das 26 capitais e no Distrito Federal, o Mobilize encaminhou formulários aos gestores públicos, com perguntas objetivas sobre as condições de mobilidade, além de pedir entrevistas com porta-vozes da área. Na ausência de respostas, recorreu-se à Lei de Acesso à Informação (LAI), último recurso para obter estas solicitações.

 A prefeitura de Palmas, por meio de sua assessoria de imprensa, respondeu ao formulário com os dados da mobilidade urbana, mas até o fechamento desta matéria não atendeu ao pedido de entrevista para comentar os desafios do município nessa área.

 

Esta matéria integra o trabalho de preparação do Estudo Mobilize 2022, um levantamento da mobilidade urbana nas 27 capitais brasileiras que está sendo realizado pelo Mobilize Brasil. 

 

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