A inauguração do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) de Maceió, há 11 anos, talvez tenha sido a última melhoria significativa em mobilidade urbana da capital alagoana em duas décadas. Embora o sistema sobre trilhos tenha se expandido em 2017, ele voltou a encolher a partir de 2019, com a interrupção de parte do seu trajeto, devido à evacuação de alguns bairros do município após afundamento provocado com a exploração do sal-gema pela petroquímica Braskem.
Com 16 estações e 34 km de linhas, o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) é a única alternativa do maceioense aos ônibus, como sistema público de transporte coletivo, modal que apesar de praticar uma das tarifas mais acessíveis entre as capitais brasileiras (R$ 3,35), peca pela falta de qualidade. É o que aponta o arquiteto e urbanista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Willian Felix de Oliveira. “Mesmo com aumento, a tarifa do VLT continua menor do que a tarifa dos ônibus, que vem diminuindo sistematicamente, tendo passando de R$ 3,75 para R$ 3,35. A qualidade, no entanto, é precária.”, apontou Oliveira, em entrevista ao Mobilize.
Willian Felix de Oliveira, parceiro do Estudo Mobilize em Maceió Foto: Arquivo pessoal
O arquiteto e urbanista coordenou as avaliações do sistema de transportes em Maceió para a elaboração do Estudo Mobilize 2022, um levantamento das condições de mobilidade nas 27 capitais brasileiras. Com uma população de 1.025.360 de habitantes (2020), a capital alagoana sofre diariamente com os congestionamentos de automóveis, veículos que por muitos anos foram e continuam sendo privilegiados na divisão dos tempos e espaços urbanos. “A mobilidade em Maceió ainda é voltada ao transporte por carro e ela acaba sendo deficiente exatamente por isso – o excesso de automóveis gera muitos congestionamentos, tornando o trânsito caótico a maior parte do tempo”, lamenta Willian.
Ônibus urbanos: redução gradativa da tarifa Foto: Prefeitura de Maceió
Mobilidade Ativa
Embora a cidade tenha renovado sua cartilha com as diretrizes para a construção e manutenção de calçadas, para pedestres e ciclistas a infraestrutura de deslocamento é totalmente precarizada. “Há quase 50 km de ciclovias, mas em condições de uso bem ruins e não são totalmente integradas entre si, além daquelas cujo uso é quase exclusivo para o lazer, como às da orla, dedicadas também a atividade física. Para o transporte, a infraestrutura cicloviária é bem precária.”, aponta o colaborador do Mobilize.
“Não existe um Plano de Caminhabilidade ou um projeto de calçadas estruturado para a cidade.”, aponta. “A condição das calçadas é tão boa quanto o proprietário do lote quer ou pode fazer. Há uma despadronização total das calçadas e uma desobediência completa às normas de acessibilidade, o que torna a infraestrutura para a mobilidade a pé completamente precária.”, completou o urbanista.
Ciclovia em avenida de Maceió: falta integração entre rotas. Foto: Gabriel Moreira/Secom
Respostas encaminhadas pela prefeitura de Maceió a um pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI) indicam que a cidade conta hoje com aproximadamente 44,14 km de estrutura cicloviária, uma das menores entre as capitais brasileiras. Para piorar, o município não possui um plano cicloviário aprovado ou um sistema público de bicicletas compartilhadas. Além disso, Maceió conta com algumas faixas e corredores exclusivos para ônibus, mas a prefeitura não especificou quantos quilômetros de extensão, pois não atendeu às solicitações de entrevista e não respondeu a esta questão na solicitação através da LAI.
Segundo Willian Felix, não existe integração entre os modais, e mesmo os ônibus que utilizam os corredores enfrentam problemas, pois seus trajetos não são realizados completamente por vias exclusivas. Enquanto disputa o espaço com “sua majestade, o carro”, o transporte público na capital alagoana ainda tem muito o que melhorar.