O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse em entrevista ao portal G1 que por conta da greve de ônibus ocorrida nesta semana (14 de junho), e que acabou por garantir um justo reajuste aos funcionários, só há duas saídas: aumentar a tarifa ou os subsídios. Mais uma vez voltamos à estaca zero sobre ideias que poderiam ajudar a reduzir custos e a melhorar a eficiência do transporte coletivo.
O Plamurb acredita que é possível muitas outras ações. Aumentar a tarifa ou os subsídios vai apenas alimentar aquela bola de neve que todos conhecem. Manter o sistema apenas com a tarifa paga pelo passageiro ou com grandes subsídios é um erro que já deveria ter sido mitigado. Esse atual modelo é insustentável e qualquer pessoa que esteja envolvida com a mobilidade urbana, sabe disso.
Esse discurso do prefeito vai de encontro com as boas práticas de mobilidade e mostra, de certa forma, uma certa preguiça na gestão de área tão sensível e de caráter tão social. O blog já elencou algumas ações que poderiam ser tomadas.
É até cansativo, mas vamos repetir:
+ Mais faixas para ônibus;
+ Mais corredores exclusivos;
+ Preferência semafórica nos cruzamentos;
+ Menos seccionamentos (importantíssimo);
+ Bilhetes temporais vantajosos;
+ Terminais de integração em locais adequados;
+ Novas fontes de financiamento oriundas, por exemplo, pelo uso do sistema viário;
+ Menos sobreposições de linhas;
+ Assunção da operação de algumas linhas;
+ Mais linhas perimetrais, e tantas outras coisas.
Essas ações acima dependem, quase que exclusivamente da própria prefeitura. Além delas existem outras que dependeriam do envolvimento de outros atores, como o governo estadual, federal e o setor privado.
É preciso ter muita cautela com esse discurso de aumentar a tarifa ou o subsídio. Todos sabem da complexidade do sistema paulistano e que não se faz um corredor do dia para a noite, mas repetir o discurso só reforça a falta de prioridade em políticas públicas de mobilidade urbana. Há anos que dizem isso.
O transporte cada vez mais é tratado como um produto de prateleira. A preocupação maior é no bem-estar do operador, sobretudo quando se trata de serviços concessionados. O lado social, infelizmente e definitivamente, foi escanteado.
Num futuro não tão distante, não haverá muito o que fazer. Essa omissão custará muito caro. Se hoje o prefeito reclama dos R$ 4 milhões, lá na frente os futuros prefeitos terão na mão uma bomba prestes a explodir. O impacto no transporte coletivo será drástico.
A título de curiosidade, o transporte paulistano custa cerca de R$ 9 bilhões por ano. O dinheiro arrecadado com as tarifas cobre por volta de R$ 5 bilhões. A prefeitura, então, arca com R$ 4 bilhões por meio de subsídios.
Ou seja, em quatro anos, a prefeitura desembolsa uma “Linha 6-Laranja”. Alguma coisa está errada. E parece que poucos estão dispostos a se debruçar sobre isso.
[Reiteramos, portanto, o título, agora no plural]:
"Aumentar a tarifa ou aumentar os subsídios" - prefeitos, vamos mudar os discursos?
Leia o artigo original no site Plamurb.
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