Mobilidade sustentável passa longe das favelas

Nas favelas paulistanas, ruas estreitas, preconceito e acesso são desafios para a mobilidade urbana, revela matéria da Agência Mural sobre Heliópolis e Paraisópolis

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Fonte: Agência Mural  |  Autor: Eduardo Silva e Ira Romão / Agência Mural  |  Postado em: 15 de junho de 2022

Paraisópolis, na zona sul de São Paulo

Paraisópolis, na zona sul de São Paulo

créditos: Léu Britto/ Agência Mural


Ruas estreitas impedem a passagem de ônibus, o que exige longas caminhadas para chegar até o transporte público, problema que leva ao aumento do número de carros e congestionamentos nesses bairros. Para piorar, essas localidades são consideradas como “áreas de risco”, o que faz os motoristas de táxis e carros de aplicativos evitarem corridas para as duas das maiores favelas de São Paulo: Heliópolis e Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Uma reportagem da Agência Mural discute os problemas de mobilidade nas periferias da capital paulista

 

A 8 km do centro de São Paulo, Heliópolis é considerada a maior favela da capital paulista. A comunidade faz parte do distrito do Sacomã e reúne cerca de 200 mil habitantes em um território de 1 milhão de m² (o equivalente à área de dez estádios do Morumbi). Nos últimos anos, a região sofreu uma grande transformação, comenta João Vitor da Cruz, 20, pesquisador social na União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS).

 

“De uns dez anos para cá, todo mundo comprou um carro ou aumentou a casa. Mas ninguém fez garagem, por exemplo, então as ruas do bairro começaram a ficar mais lotadas. Na minha infância não me lembro de ter tantos carros aqui dentro”, conta. Como consequência do aumento de carros estacionados nas ruas, houve mais trânsito, principalmente nos horários de pico. O pesquisador também conta que o fluxo de pessoas andando a pé costumava ser intenso antes da pandemia de Covid-19.  


“No início da manhã era um mar de adolescentes indo para as escolas. Outra parte era de moradores indo trabalhar. Muitos se concentravam [nos pontos de ônibus] na estrada das Lágrimas para sair de Heliópolis”, explica Cruz.


Por conta das ruas estreitas, não transitam ônibus dentro de Heliópolis. Assim, o acesso de moradores ao transporte público pode ser mais fácil ou mais difícil dependendo de qual ponto da comunidade o passageiro estiver, conta a auxiliar administrativa Tânia Maria de Jesus, 34. “A gente tem fácil acesso ao transporte público entre aspas, porque estamos dentro de um território extenso e temos apenas duas avenidas principais, que são a estrada das Lágrimas e a avenida Delamare, onde se dá acesso ao terminal Sacomã”, diz Tânia.

 

O terminal de ônibus do Sacomã faz integração com a Linha 2-Verde do Metrô. Outra opção de acesso aos ônibus municipais se dá pela avenida Guido Aliberti, junto ao limite com a cidade de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo.


Também na zona sul, fica Paraisópolis, a 15 km do centro da capital. Com cerca de 100 mil moradores, a comunidade pertence ao distrito da Vila Andrade e tem uma área de 798 mil m².

 

Em Paraisópolis, a estação de Metrô mais próxima é a São Paulo-Morumbi, da Linha 4-amarela, inaugurada em 2018. Além desta, a comunidade também tem acesso à estação Giovanni Gronchi, da Linha 5-Lilás, e aos ônibus municipais que fazem itinerários até regiões como Pinheiros e Santo Amaro.


No entanto, a estação mais próxima fica a 3,5 km da favela. Nos últimos anos, um projeto do Metrô prometia uma estação do monotrilho da Linha 17-Ouro na região. Mas, embora prevista para a Copa do Mundo de 2014, a ação não saiu do papel.


A moradora Osmarina Pereira da Silva, 56, trabalha como diarista três vezes por semana e usa as lotações para circular pela cidade. “Sempre vou de ônibus para os lugares, não sei me locomover muito bem de trem e metrô. Normalmente tenho que pegar dois ônibus: um que sai de Paraisópolis e outro até o local onde eu trabalho, que varia”, conta.


Carros de aplicativo
Segundo uma pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pela app 99, 31% dos entrevistados da classe C começaram a utilizar carros por aplicativo durante a pandemia (nas classes A/B, o percentual foi de 14%). O levantamento ouviu 1.542 moradores de seis estados com idades entre 18 e 75 anos.


Nas principais favelas da capital, moradores relatam que também começaram a utilizar esse meio de transporte, mas que enfrentam algumas dificuldades. O pesquisador João Vitor tem notado que o número de pessoas optando por usar carros de aplicativos em Heliópolis cresceu, principalmente quando o destino não é o centro de São Paulo. Ele mesmo tem feito isso com mais frequência.


“Se você quiser ir para um lugar em direção ao centro, compensa mais pegar um ônibus. Agora, se você quiser ir para um lugar que é contramão ao centro, como ABC Paulista ou o [distrito do] Cursino, é melhor ir de aplicativo. Caso contrário, tem que pegar um ou dois ônibus, e metrô também, para chegar no lugar”, detalha o jovem.

 

Ele também aponta uma questão sobre tempo e distância nesses percursos. “Minha namorada mora em São Caetano do Sul. Se eu fosse pegar um ônibus, gastaria o mesmo que gasto indo de carro por aplicativo, só que levaria o triplo de tempo. Uma distância que leva 15 minutos de carro, eu levaria entre uma hora e uma hora e meia de for de ônibus.”



Leia a matéria completa no site da Agência Mural


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