Sem planejar sua mobilidade, São Luís (MA) sofre com engarrafamentos

Capital maranhense convive com calçadas ruins, ciclistas desrespeitados no trânsito, ônibus precários e inseguros... E um VLT abandonado após a viagem inaugural

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Du Dias/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 25 de maio de 2022

Trânsito caótico em área central de São Luís

Trânsito caótico em área central de São Luís

créditos: Divulgação

 


 

A capital do Maranhão, hoje com 1,1 milhão de habitantes, já foi a terceira cidade mais populosa do país, devido às exportações de cacau, tabaco e algodão, que no final do século 19 trouxeram grande desenvolvimento para a região. Na mobilidade urbana, a cidade de São Luís, que já experimentou o trem, o transporte fluvial, e ficou conhecida como a “cidade dos bondes”, hoje amarga a dependência do transporte individual sobre pneus.


Os últimos bondes elétricos circularam pelo município até a metade do século passado, quando o Plano de Expansão da Cidade, inspirado nas ideias do urbanista francês Le Corbusier e no Plano Piloto de Brasília, instituiu definitivamente o modelo rodoviarista.


Embora São Luís tenha três terminais portuários - Itaqui, TUP Alumar e Ponta da Madeira -, as embarcações que por ali operam são dedicadas apenas ao transporte de cargas. A cidade conta com um serviço de ferry boat, para fazer a travessia de veículos e passageiros da ilha ao município de Alcântara, atravessando o rio Mearim. A baixa qualidade do serviço, no entanto, é motivo constante de protestos dos usuários.


Além disso, a capital maranhense tem duas linhas de trem, mas elas atendem apenas aos terminais portuários, e não transportam passageiros. Existe também a Estrada de Ferro Carajás, ligando o Maranhão ao Pará, com 861 km de extensão e 15 pontos de parada. Ou seja, tanto o transporte de passageiros hidroviário como o ferroviário se destinam exclusivamente a deslocamentos intermunicipais, ou interestaduais.


Falta planejamento
No seu dia a dia, a população de São Luís enfrenta volumosos engarrafamentos, já que os carros particulares e os ônibus são as únicas alternativas para transpor maiores distâncias.

Em 2012, a prefeitura municipal chegou a construir às pressas uma linha de VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), que fez apenas uma viagem inaugural. Dos 13 km de trilhos previstos para ligar a região central ao bairro Anjo da Guarda, um dos mais populosos do município, apenas 800 metros foram entregues. Sem planejamento ou previsão orçamentária, o sistema foi desmontado naquele mesmo ano, os vagões retirados de circulação e abandonados definitivamente.


A falta de planejamento é justamente uma das maiores críticas que o professor Sergio Souza, da Universidade Federal do Maranhão, faz à gestão pública ludovicense. Souza foi parceiro do portal na coleta de dados para o Estudo Mobilize 2022, levantamento sobre as condições de mobilidade nas capitais brasileiras, do qual esta matéria faz parte.


“Há falta de planejamento crônica, que vem de várias gestões... Um dos resultados disso é que os ônibus que circulam pela cidade são antigos, ficam muito cheios e não atendem às necessidades dos usuários”, afirmou o professor, em entrevista ao Mobilize. E acrescentou: "Há uma enorme sensação de insegurança, já que todos os dias ficamos cientes de denúncias de crimes cometidos no interior dos ônibus. Além disso, as poucas mudanças na estrutura de mobilidade da cidade nos últimos dez anos contemplaram apenas os carros particulares.”


Outro ponto destacado pelo pesquisador foi a falta de investimentos na infraestrutura para a mobilidade ativa: “Não é uma cidade convidativa para a caminhabilidade. Calçadas com desnivelamento, o mau comportamento dos motoristas e a falta de sinalização e fiscalização são fatores que afetam a caminhabilidade. E a ciclabilidade também – há um comportamento muito agressivo dos condutores de automóveis para com os ciclistas”, completa. 

 

Ciclovia em São Luís: sinalização que deixa a desejar. Foto: Prefeitura/ Divulgação 

 

Observação do Mobilize

Para realizar o Estudo Mobilize 2022, além da coleta de dados locais, com o suporte de coordenadores e colaboradores em cada uma das 26 capitais e no Distrito Federal, o Mobilize encaminhou formulários aos gestores públicos, com perguntas objetivas sobre as condições de mobilidade, além de pedir entrevistas com porta-vozes da área. Na ausência de respostas, recorreu-se à Lei de Acesso à Informação (LAI), último recurso para obter estas solicitações. 

 

Até o fechamento desta matéria, porém, a prefeitura de São Luís, por meio da assessoria de imprensa, não havia respondido nem ao pedido de entrevista, tampouco ao formulário com os dados da mobilidade no município. Também as respostas aos pedidos de dados via Lei de Acesso à Informação foram inconclusivas.
 


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