Aracaju amplia pistas para carros e ônibus. Mas falta sombra

Prefeitura investe em novas avenidas, ciclovias, renovação de calçadas e constrói 17,8 km de faixas exclusivas de ônibus. Mas, os pedestres seguem sob o calor do sol

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 28 de abril de 2022

Faixa exclusiva na Hermes Fonseca: obra reduziu ar

Faixa exclusiva na Hermes Fonseca: obra reduziu arborização

créditos: André Moreira/ PMA


 

 

Aracaju, a capital do estado de Sergipe, é o centro de um conglomerado de cidades que reúne quase 940 mil habitantes, conforme projeção do IBGE. É uma cidade planejada, uma das primeiras do país, que ocupa uma região de relevo amigável, banhada pelo mar e cortada pelos rios Sergipe, Poxim e Vaza Barris.


À primeira vista, parece ser uma localidade muito agradável para caminhar ou conduzir uma bicicleta. Seria assim, não fosse o clima quente e úmido e arborização cada vez mais rarefeita nas ruas da cidade. Vale lembrar que Aracaju obteve a média 5,35 (de zero a dez) na avaliação de caminhabilidade realizada em 2019 pela Campanha Calçadas do Brasil em 38 locais da cidade.


E agora, no Estudo Mobilize 2022, a capital sergipana foi a cidade brasileira com o maior número de avaliações (21) da mobilidade urbana, com quatro participantes* coordenados por Emyly Lima, uma estudante de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Sergipe.


Ela explicou que a pesquisa para o Mobilize despertou sua atenção para alguns detalhes que antes passavam despercebidos. "Por mais que o curso de arquitetura e urbanismo me ofereça uma visão mais acurada dos problemas da cidade, passei dois meses analisando meus deslocamentos, mesmo quando eu não estava fazendo registros para o Estudo. Minha participação no trabalho me permitiu ficar mais atenta, não apenas aos aspectos estéticos dos espaços urbanos, mas sobretudo sobre suas condições de uso e de acessibilidade..." escreveu Emyly Lima.


Leia a seguir outras percepções que ela obteve em sua pesquisa para o Estudo Mobilize 2022.

 

Como você vê a mobilidade em Aracaju? Há boa oferta de transportes?
É uma relação de sucessos e insucessos... De um lado temos muito investimento em mobilidade, boa distribuição de ciclovias e ciclofaixas por todo o território; de outro lado temos a derrubada de mais de 300 árvores, com mais de trinta anos, no canteiro central da avenida Hermes Fontes, para alargar e criar um corredor de ônibus. Então, é preciso discutir que mobilidade é essa que estamos propondo para Aracaju.

Nos últimos anos a cidade teve alguns bons avanços na área de mobilidade e me parece que é uma das áreas que mais recebeu investimentos da prefeitura. Foram obras de recapeamento de grandes corredores de tráfego, além da instalação de semáforos inteligentes. Mas, como em muitas outras cidades, o problema é que esse investimento todo foi feito para atender a quem circula de automóvel. E por mais que tenhamos uma malha viária de melhor qualidade, a falta de investimentos no transporte coletivo faz com que as pessoas migrem para o carro, o que acaba provocando mais engarrafamentos, comprometendo também a circulação do transporte coletivo.

Há algumas iniciativas corretas da gestão, como a implantação das faixas exclusivas para ônibus, mas muitos motoristas não respeitam essa sinalização. É preciso mais fiscalização por parte do poder público. Além disso, a tarifa dos ônibus é alta para a renda das pessoas e também em relação à qualidade do serviço oferecido.

 

Mas, além dos ônibus, há recursos para a integração entre os modos de transportes. A bicicleta, por exemplo?

Em relação aos modos não motorizados, temos alguns problemas, como a baixa integração das ciclovias e ciclofaixas, que não formam uma rede. Além disso, falta integração entre o transporte público e as ciclovias, o que permitiria às pessoas fazer parte de seus deslocamentos com  bicicleta e depois seguir de ônibus até os seus destinos. Quanto às pessoas que desejam apenas caminhar, a topografia da cidade é muito favorável e podemos percorrer pequenas distâncias para acessar comércio e serviços, comparado a outros centros urbanos. Esse cenário permite que as pessoas caminhem mais e tenham uma bicicleta como meio não apenas de lazer mas também de deslocamento. Mas temos o calor e a ausência de arborização adequada. É mais fácil encontrar as grandes árvores nas praças e parques, mas infelizmente, essas áreas não são bem cuidadas. Assim, acaba sendo desagradável caminhar em Aracaju, e isso também leva muita gente a optar pelo automóvel, o que faz com que as ruas do centro histórico tenham se transformado em um grande estacionamento.



Os planos e propostas da Prefeitura de Aracaju

Para entender os planos e os desafios em direção à melhoria da mobilidade em Aracaju, o Mobilize Brasil encaminhou algumas questões à prefeitura da cidade, respondidas pelo  superintendente Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), Carlos Renato Telles Ramos.


Novas pistas na avenida Beira Mar Foto: Marcelle Cristinne


Ele explicou que a Prefeitura de Aracaju colocou em prática, desde 2018, um Projeto de Mobilidade Urbana que inclui quatro corredores de transportes - Beira Mar, Hermes Fontes, Augusto Franco e Centro/Jardins -, além da renovação nos abrigos de passageiros e a reforma e construção de novos terminais para o transporte coletivo. O superintendente da SMTT lembra que os quatro corredores têm extensão total de 17,8 km de extensão, com faixas exclusivas que priorizam o transporte público.

 

O objetivo, lembra Renato Telles, é reduzir em até 20% o tempo de viagem dos ônibus, de maneira a oferecer "mais agilidade ao sistema e mais comodidade aos passageiros". Lembrou, ainda, que a Prefeitura de Aracaju está investindo em uma Central de Controle Operacional (CCO) do trânsito, "com mais de 100 câmeras nos principais corredores da cidade, o que permitirá um maior monitoramento e fiscalização do trânsito", inclusive nas faixas exclusivas de ônibus.

 

Telles abordou também o problema do financiamento do transporte público e ressaltou que neste momento os sistemas de transporte coletivo de todo o país, incluindo Aracaju, passa por uma crise financeira, agravada pela pandemia de Covid-19, com queda significativa no número de passageiros, e também com o aumento em mais de 70% no valor do diesel nos últimos dois anos. O executivo explicou que para amenizar essa crise, a prefeitura encaminhou projetos de leis emergenciais já recebidos e aprovados pela Câmara de Vereadores que têm o objetivo de subsidiar o transporte público. Uma delas reduz em 2% a alíquota do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza,  que incide sobre serviços do transporte por ônibus. A segunda proposta aprovada institui o Programa Provisório de Custeio Extra Tarifário de Gratuidade nos Transportes Coletivos Urbanos às pessoas com deficiência e seus acompanhantes, em Aracaju, além de autorizar o pagamento antecipado, de forma transitória e excepcional, do vale-transporte, aos servidores municipais.

 

 
Terminal de ônibus, com pequeno bicicletário. Foto: Marcelle Cristinne

 

Pedestres, calçadas e arborização
Em relação à mobilidade ativa, a Prefeitura de Aracaju respondeu por meio de sua Secretaria Municipal da Comunicação. Segundo a nota recebida, "a prefeitura entende que a problemática das calçadas é algo histórico, e vem trabalhando para alterar essa realidade" por meio de projetos e obras da Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb), para "assegurar a acessibilidade para a população com a construção de rampas e calçadas, além da correção e restauração de passeios públicos em todas as obras que estão sendo realizadas na cidade". O texto também ressalta que "o Código de Urbanismo determina que o proprietário do imóvel é o responsável pela manutenção do passeio público que corresponde ao terreno de sua unidade habitacional, sendo da obrigação de cada um manter a estrutura em condições seguras para os pedestres, de acordo com a legislação". 

 

Sobre a cobertura vegetal nas ruas da cidade, a nota da prefeitura destacou o programa "Aracaju Mais Verde" como um dos projetos que integram o planejamento estratégico para expandir e melhorar a cobertura de arborização da cidade, "sobretudo com árvores da vegetação nativa e que sejam indicadas para urbanização de ruas e avenidas". O programa, diz o texto, está realizando o levantamento técnico sobre as árvores existentes na cidade de forma a obter um diagnóstico da situação de plantio e da concentração de árvores em diversas áreas da cidade, assim como as informações sobre a condição dessas árvores e da necessidade ou não de substituição ou incremento de plantio em determinados locais. A expectativa é adicionar 5 mil novas árvores a cada ano na cidade, "o que facilitará naturalmente a mobilidade, seja por meio de caminhadas, de bicicleta ou outros meios de transportes similares", completa a nota da área de Comunicação.


Corredor Augusto Franco, com nova ciclovia Foto: André Moreira

 


Bicicletas e ciclovias
A prefeitura informou que vem investindo na construção de novas ciclovias ou ciclofaixas, e na interligação das infraestruturas existentes. Conforme a nota, a prefeitura está incluindo ciclovias ou ciclofaixas em todas as novas obras viárias entregues pela gestão, e que paralelamente estão sendo desenvolvidos projetos de interligação das ciclovias existentes. Hoje a cidade conta com 75 km de ciclovias ou ciclofaixas. Quanto à integração entre o transporte coletivo e o ciclismo urbano, a gestão municipal registra a inauguração recente do novo Terminal do Mercado, onde foi instalado um bicicletário. E confirnou que os outros cinco terminais terminais de ônibus não têm esse apoio para a guarda das bicicletas.

[Texto ajustado e atualizado em 3/5/2022, conforme sugestões de Emyly Lima]
 

* Agradecimento: As avaliações em Aracaju foram possíveis graças à colaboração de Melissa Bezerra Roeder de Sant'Ana, Rafael Ramos Alves, Yamê Dias, e da coordenadora Emyly Ferreira Lima.


Esta matéria integra o trabalho de preparação do Estudo Mobilize 2022,
um levantamento da mobilidade urbana nas 27 capitais brasileiras que está sendo realizado pelo Mobilize Brasil.

 

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