A fabulosa "superciclovia" dos Bandeirantes

Depois da Ciclorrota das Frutas, governo paulista anuncia uma "ciclovia com 57 km", entre as pistas da Rodovia dos Bandeirantes

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 11 de março de 2022

Projeção da futura

Projeção da futura "superciclovia" na Bandeirantes

créditos: Reprodução/Governo do Estado de São Paulo


Eleições operam milagres. Nesta quinta-feira (10), o governador (e candidato) João Dória anunciou um projeto para a construção de uma ciclovia com 57 km ligando São Paulo à cidade de Itupeva, ao norte da capital paulista. Por enquanto, o que se tem é uma apresentação em vídeo, mostrando a futura ciclovia entre as pistas da Rodovia dos Bandeirantes, uma das estradas mais modernas (e velozes) do país, uma das rotas preferidas para os treinos de ciclismo de velocidade.


A proposta atende a uma reivindicação antiga das pessoas que praticam o ciclismo e - se realmente for executada - poderá estimular o cicloturismo entre as cidades da região, área conhecida como Circuito das Frutas. O projeto também está em sintonia com as rotas de ciclismo existentes em outros países, permitindo a circulação das bicicletas sem os riscos de atropelamento, fato infelizmente comum nas estradas brasileiras. Vai no caminho apontado pelo diretor da Aliança Bike, Daniel Guth, em depoimento para o episódio #73 do podcast Expresso Mobilize.  

 

E, como lembrou a arquiteta e ciclista Marília Hildebrand, em uma entrevista para a coluna Ciclocosmo, na Folha de S.Paulo, pedalar exige sombras, locais para descanso e, portanto, seria recomendável que a nova "superciclovia" também tenha uma vigorosa arborização ao longo de todo o seu trajeto.


Se avançar, e para isso depende da concessionária que opera a Rodovia dos Bandeirantes, se realmente ficar pronta em 2023, como prometeu Dória, a nova ciclovia permitirá o acesso à Rota das Frutas, uma ciclorrota lançada há cerca de um mês pelo governador, mas ainda não detectada pelos ciclistas que se aventuraram por aqueles sertões: não havia sinalização, nenhum ponto de apoio ou qualquer local para a degustação das frutas. Dias depois do lançamento e das visitas frustradas dos cicloturistas, a concessionária admitiu que a infraestrutura ainda não estava inteiramente instalada. E prometeu retomar os trabalhos, tão logo as chuvas dessem uma trégua.


Em um vídeo, a cicloativista Renata Falzoni desmontou a farsa da Rota das Frutas e lembrou que os circuitos de cicloturismo existentes pelo mundo atraem pessoas de todas as idades em passeios que cruzam parques, bosques, fazendas e oferecem restaurantes, cafés, hoteis e vários pontos de apoio aos cicloturistas. É uma iniciativa que movimenta a economia, gera empregos, educa pessoas e colabora para a conservação ambiental. Mas exige um projeto meticuloso e a a presença do estado para dar segurança e conforto aos ciclistas.
 

  

E a ciclovia do Parque Várzeas do Tietê?
Em 2009, o governo de São Paulo lançou o projeto do Parque Várzeas do Tietê, que envolvia os municípios de Salesópolis, Biritiba-Mirim, Mogi Cruzes, Suzano, Poá, Itaquaquecetuba e Guarulhos, além dos bairros de São Miguel Paulista e Penha, na zona leste de São Paulo, ao longo de 75 km, e que contaria com uma ciclovia em todo o trecho. No total, segundo o projeto, seriam mais de 200 km pedaláveis. A proposta era assinada pelo arquiteto Ruy Ohtake, ele mesmo autor de outro projeto (nos anos 1970) para a construção de parques ao longo do rio Tietê. A ideia era recuperar as margens do rio, melhorar as condições de vida para as pessoas que vivem nas próximidades ou mesmo dentro do leito e criar um circuito para o turismo nessa região a leste da capital.

 Mapa sobre o Parque Várzeas do Tietê, de 2009, projeto de Ruy Ohtake. Imagem: Reprodução Estadão 



Apenas uma pequena fração do projeto (e da ciclovia) de 2009 foi realmente implantada e inaugurada em 2011, justamente no trecho de chegada a São Paulo, em São Miguel Paulista. Mas esse trecho executado mostrou como pode ser agradável pedalar entre árvores, ao lado do Tietê, que mesmo poluído ainda conserva alguma fauna e surpresas para os olhos.

Ciclovia no Parque Ecológico do Tietê, às margens do rio Foto: Mapio.net



Há problemas de segurança, além do mau cheiro do rio e de uma estação de tratamento de esgotos, mas o trajeto é uma boa amostra do que se poderia fazer ao longo do sofrido rio. Ruy Ohtake morreu recentemente e há quem queira batizar o parque com seu nome. Bela homenagem, que poderia ser amplificada com a implantação de todos os 75 km de parque e da ciclovia.


Sobre a "superciclovia", nas redes sociais, algumas pessoas lembraram outros projetos  anunciados por este e por governos paulistas anteriores, como o trem-bala ligando Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, e o lendário trem intercidades, que ressuscita a cada eleição. Esperamos que a proposta da superciclovia não seja mais um factóide, uma fábula infantil, ou um fogo-fátuo eleitoral.


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*Fogo-fátuo
é uma luz que aparece à noite, geralmente emanada de terrenos pantanosos ou de sepulturas, e que é atribuída à combustão de gases provenientes da decomposição de matérias orgânicas. No sentido figurado: falso brilho, glória passageira.

 

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Comentários

Alonso - 17 de Março de 2022 às 08:34 Positivo 1 Negativo 0

Ótima matéria, adorei o texto quando diz" Esperamos que a proposta da superciclovia não seja mais um factóide, uma fábula infantil, ou um fogo-fátuo eleitoral." Obrigado pelas informações.

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