Japão testa sistema para auxiliar cadeirante no transporte público

Pelo novo sistema de comunicação unificado, usuário com um aplicativo tem suporte em trens, aviões e táxis, sem precisar solicitar o serviço a cada novo trecho da viagem

Notícias
 

Fonte: Things Out  |  Autor: Ana Paula Ramos  |  Postado em: 08 de fevereiro de 2022

Na imagem da cia aérea ANA, funcionário guia uma p

Na imagem da cia aérea ANA, funcionário guia uma passageira

créditos: Reprodução/FNN

O Japão está testando uma ideia incrível que deve melhorar a mobilidade de pessoas com deficiência, aumentar o conforto e a praticidade durante períodos de deslocamento e reduzir as preocupações de quem precisa de auxílio nos espaços públicos.

 

O projeto se resume na criação de um sistema intitulado de “Universal MaaS”. Segundo uma reportagem da emissora Fuji, o sistema deve unificar a comunicação entre trens, companhias aéreas, táxis e outros serviços de transporte.

 

Até o momento, a pessoa em cadeira de rodas que compra uma passagem de avião deve informar que necessita de atendimento especial para receber um auxílio apenas no momento do voo. Com o novo sistema, o usuário poderá receber toda a ajuda de que precisa durante todo o trajeto até o destino, sem ficar solicitando em cada trecho.

 

A central pegará a informação do trajeto do passageiro, incluindo trens, táxis e o que for necessário para chegar ao destino. As empresas de transporte público trocarão informações entre si para que o passageiro seja auxiliado automaticamente ao desembarcar em cada trecho.

 

Se ocorrerem atrasos em trens ou voos e a rota for alterada, as empresas devem trocar informações em tempo real e captar os ajustes para que seja possível prestar o serviço em cada ponto, sem que o passageiro cadeirante tenha que pedir a ajuda ao desembarcar.

 

Projeto busca fortalecer a ideia de uma sociedade mais inclusiva. Foto: Reprodução/FNN

 

Em teste 

Os testes do sistema de apoio às pessoas que usam cadeira de rodas serão realizados até o fim de fevereiro e visam colocar a ideia em prática, captar as falhas e corrigir o que for preciso antes do lançamento. A ideia de ter um sistema de apoio unificado gerou expectativas altas para quem irá usufruir do serviço.

 

“Normalmente precisamos pedir ajuda ao desembarcar em qualquer lugar. Isto é incômodo e estressante e leva tempo. Se o sistema unificado funcionar bem, pessoas como nós, que temos dificuldade de deslocamento, podemos passar por todo o trajeto de uma viagem sem preocupações. Estou muito entusiasmado”, disse o cadeirante Hiroyuki Igarashi para a Fuji TV.

 

Os testes colocaram diferentes empresas em ação, testando a comunicação entre elas e o preparo dos funcionários para esperar o passageiro nos trechos e garantir com agilidade o que for necessário para o deslocamento. “Todas as empresas devem estar envolvidas para agir de porta em porta. O objetivo é criar um sistema que flua bem em todas as etapas, com a colaboração de serviços diferentes, interessados em desenvolver isto juntos para que possamos colocar em prática”, disse Juichi Hirasawa, representante da companhia aérea All Nippon Airways (ANA).

 

Na prática, o passageiro que precisa do apoio deve fazer a reserva por um aplicativo de smartphone. A ferramenta permitirá reservar todo o transporte necessário para chegar ao local desejado e efetuar os pagamentos. A pessoa faz as reservas e as empresas já sabem em que momento ele passará pelas estações. 

 

Desta forma, basta que haja uma comunicação efetiva para que em cada trecho, os funcionários responsáveis garantam o auxílio necessário sem que o passageiro tenha que pedir ajuda. Para que dê certo, diferentes empresas de transportes terão que colaborar mutuamente no oferecimento do serviço.

 

Comentário do Mobilize 

Mas e no Brasil, daria certo? Ouvimos a jornalista Heloísa Rocha, que tem osteogênese imperfeita, usa cadeira de rodas e viaja com frequência.

 

O sistema em teste no Japão parece ser "muito bom", diz ela. Mas lembra que no universo dos que utilizam cadeira de rodas há necessidades e adaptações que funcionam para uns e não para outros. Essas diferenças devem ser observadas no formulário de requisição do serviço: "No meu caso, por exemplo, a cadeira de rodas que as empresas dispõem para ingresso na aeronave é muito grande, fico meio solta, e me sinto mais segura quando sou levada no colo por um funcionário até o interior do avião; já outras pessoas vão se incomodar com isso". 

 

No Brasil, antes teríamos de resolver alguns problemas, ela acredita, "a começar pelo sistema de comunicação, que aqui é péssimo". "Se para embarcar uma cadeira de rodas devo informar no check-in e, mesmo assim, tenho que relembrar a aeromoça antes de pousar...", observa.

 

Outra dificuldade é a falta dos ambulift nos aeroportos [veículo com plataforma elevatória, para o embarque/desembarque de pessoas com mobilidade reduzida nos aviões]. "São escassos, mesmo em São Paulo. Da última vez que viajei, demos uma volta no aeroporto para que pegassem, além de mim, várias outras pessoas com dificuldade de locomoção vindas de outros voos". Segundo a jornalista, problemas assim iam acabar gerando ruídos de comunicação entre os setores que prestassem o serviço unificado. Para funcionar no Brasil, diz ela, teria que haver investimento e treinamento pesado. 

 

Ela lembra que o Japão é um país modelo de acessibilidade. "São muito rígidos no cumprimento dos horários". "Já aqui, se peço auxílio em uma estação do metrô para subir a escada rolante, na próxima estação o sistema já falha, por falta de comunicação", desabafa. 

 

Leia também:
Trem-bala no Japão cria "vagões escritório" para o trabalho remoto
Triciclo elétrico é adotado por empresa no Japão para entregas delivery
Japão planeja construir uma cidade inteligente. Em um ano
Metrô sair mais cedo é motivo para pedir desculpa? No Japão sim
Cadeira de rodas inovadora, sucesso no Japão, dá mais mobilidade ao cadeirante


  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário