Nos próximos três anos, a montadora Volvo iniciará um processo de renovação de produtos para fabricar, no Brasil, ônibus e caminhões totalmente elétricos. O plano, conforme reportagem de Marli Olmos no jornal "Valor Econômico", faz parte do novo programa de investimentos, de R$ 1,5 bilhão, e alinhará a operação industrial de Curitiba à decisão da matriz da companhia sueca de, a partir de 2040, produzir apenas veículos totalmente livres de emissões de dióxido de carbono em todas as fábricas do mundo.
Segundo a reportagem, a Volvo é a primeira montadora de veículos comerciais instalada no Brasil que deixa clara sua posição em relação à eletrificação e também sai na frente no anúncio de uma agenda para que isso aconteça. A direção da companhia admite que esse processo na América Latina será mais lento do que na Europa, por exemplo. Mas não deixa dúvidas em relação ao tipo de energia que moverá seus veículos num futuro não tão distante.
O presidente do grupo Volvo na América Latina, Wilson Lirmann, explicou que a empresa não deixará de investir nos motores convencionais até a eletrificação se consolidar. “O futuro é elétrico, mas continuaremos, antes, a investir nos demais motores”, diz ele.
A produção de veículos elétricos da marca sueca no Brasil está prevista para acontecer na parte final do novo plano de investimentos, ou seja, por volta de 2025. A eletrificação começará pelos ônibus urbanos. “Os veículos urbanos têm um circuito repetitivo em rotas que não passam de 250 km por dia, o que atende à autonomia das baterias”, afirma Fabiano Todeschini, responsável pela área dos ônibus Volvo na América Latina.
O mesmo não ocorre nos ônibus rodoviários, que percorrem longas distâncias, o que exige infraestrutura de carregamento de baterias ao longo do percurso. O mesmo vale para os caminhões pesados e semipesados, uma especialidade da Volvo. Por isso a empresa também tem trabalhado no desenvolvimento de células de hidrogênio, que geram eletricidade sem a restrição da autonomia das baterias. Essa tende a ser uma solução promissora para a linha de pesados.
Por enquanto, Euro 6
Uma parte do investimento de R$ 1,5 bilhão vai complementar recursos já gastos no desenvolvimento dos próximos motores a diesel que atenderão à nova regra de emissões, chamada de Euro 6 e que entrará em vigor no Brasil em janeiro de 2023.
A primeira parte dos recursos usados no projeto do Euro 6 foi contemplada no plano de investimentos anterior, que somou R$ 1 bilhão entre 2020 e 2022. O novo programa prevê, também, o desenvolvimento de novos produtos, sistemas de conectividade e digitalização.
Segundo executivos da empresa, a operação brasileira disputa com outras espalhadas pelo mundo o destino dos investimentos da montadora sueca. Pesa contra o país o ambiente econômico instável. A favor, "a robustez” do mercado latino-americano, abastecido pela fábrica do Paraná. A necessidade de transporte de commodities destinadas à exportação, como papel e celulose, o avanço do setor da construção civil e o impulso na mineração em países como Chile e Peru ajudaram na expansão dos negócios no ano passado.
Caminhão Volvo FL, apresentado em Jönköping, Suécia Foto: Volvo.
A operação latino-americana representa 11% dos negócios da Volvo, que em 2021 alcançou receita global equivalente a US$ 43,3 bilhões.
O desempenho no mercado interno em 2021 foi um marco para a empresa. Líder de vendas de caminhões com capacidade acima de 16 toneladas (semipesados e pesados), a Volvo registrou em 2021 o melhor ano de sua história no Brasil, que começou há 42 anos, com a construção da fábrica em Curitiba. As vendas de caminhões aumentaram 45,7% em relação a 2020 (21,8 mil unidades). A expansão da produção exigiu a abertura de 800 novas vagas na fábrica. Hoje, 4,2 mil pessoas trabalham na empresa, a maioria na área de produção, que funciona em dois turnos. No segmento de ônibus, a empresa tem expandido negócios graças ao mercado externo. Dois terços dos 1,18 mil chassis urbanos e rodoviários produzidos em Curitiba seguiram para a América Latina e países da África.
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