Na Alemanha, proposta quer pagar transporte para quem deixar carro

Medida é inspirada em políticas públicas adotadas em outros países do mundo. Objetivo é reduzir o uso do automóvel e levar mais passageiros para o transporte público

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Fonte: Eltis/Mobilize Brasil  |  Autor: Sofia Pechin / Eltis*  |  Postado em: 10 de janeiro de 2022

VLT (tram) circula em Berlim: vacina obrigatória p

VLT (tram) circula em Berlim: máscara e vacina obrigatórias

créditos: Lynsey Addario


A Alemanha tem investido enormes quantias em transporte público nas últimas três décadas, mas essa política ainda não se refletiu, pelo menos até agora, em mudanças radicais  nos hábitos de transporte do país. O uso dos ônibus, metrôs e bondes vinha crescendo lentamente, mas os riscos de contágio gerados pela pandemia da Covid 19 fizeram com que boa parte das pessoas voltasse a usar o carro próprio.

 

Agora, o governo alemão quer tornar o transporte público mais atraente e por isso, o investimento nesse setor foi elevado para um bilhão de euros por ano a partir de 2021, prevendo-se o aumento para dois bilhões de euros anuais a partir de 2025. Os recursos estão sendo aplicados na expansão das redes locais de transporte, além da transição das frotas de ônibus para motores elétricos, células de hidrogênio e biogás. Conforme os planos do governo, metade dos ônibus urbanos deverá funcionar eletricamente até 2030. Além disso, o governo reduziu o imposto sobre valor agregado das passagens ferroviárias de longa distância, de 19% para 7%. Mais ainda, desde 2020 os planos preveem o investimento de 1,4 bilhão de euros em novas ciclovias até 2023.

 

Apesar desses investimentos bilionários, cerca de 75% dos quilômetros percorridos pelos alemães ainda são feitos por meio de carros particulares. Além disso, o país tem uma das maiores taxas de propriedade de automóveis da Europa e abriga algumas das maiores marcas de carros do mundo.

 

Neste contexto, o fundador da ONG IUM-Institute for Urban Mobility, com sede em Berlim, Tim Lehmann, está atualmente levando uma campanha inovadora para o novo governo nacional, comandado pelo chanceler o social-democrata Olaf Scholz. A proposta é de que o governo dê às pessoas um crédito em dinheiro para usar no transporte sustentável em troca de abrir mão da possibilidade de possuir um carro.

 

De acordo com a proposta, quem não possui carro particular e, em vez disso, viaja a pé, bicicleta, transporte público ou usa um esquema de compartilhamento, receberia um bônus anual de 1.100 euros (cerca de 7 mil reais), aproximadamente o mesmo que o custo de uma assinatura anual para o transporte público em Berlim.

 

Lehmann afirmou: “Normalmente, os bônus que discutimos na Alemanha atendem a quem queira deixar um carro antigo e comprar um veículo elétrico ou mais ecológico…” “Nós simplesmente queremos recompensar as pessoas por não terem um carro.” Ele acredita que o bônus poderia ser financiado com a receita do imposto nacional sobre as emissões de CO2, ou uma redução nos subsídios à propriedade de automóveis.

 

Os aspectos técnicos práticos ainda estão sendo discutidos, considerando recursos como bancos de dados de registro de automóveis, multas pesadas, ou a criação de uma bolsa digital, a qual somente permitiria que os recursos fossem gastos em formas de transporte com menor impacto ambiental.

 

Exemplos em outros países
O conceito já existe em algumas cidades e regiões. O condado britânico West Midlands está testando um esquema que fornece créditos de 3 mil libras (cerca de 23 mil reais) a motoristas que desistem de seus veículos. Outras cidades, incluindo Barcelona e Vancouver, realizaram programas semelhantes. Em Barcelona, os moradores podem trocar seus veículos mais antigos por um passe de transporte gratuito para toda a cidade, válido por três anos, enquanto em Vancouver, a autoridade de trânsito da cidade fez uma parceria com a Scrap-It sem fins lucrativos para oferecer passes de transporte público, bikes elétricas, dinheiro ou créditos para veículos compartilhados quando eles descartam seus carros movidos a combustíveis fósseis.

*Tradução e adaptação: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil

 

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