Usar a bicicleta como meio de transporte é bom para a mobilidade urbana, o meio ambiente, a saúde do ciclista… Mas é preciso ter coragem para encarar o desafio no Rio. Moradores de Botafogo consideram que o bairro concentra as dificuldades vistas em vários pontos da cidade.
Eles afirmam que as ciclovias e ciclofaixas que cortam a localidade não recebem manutenção. Em busca de soluções, mapearam pontos críticos em várias ruas e pedem que os trechos sejam incluídos no projeto de Rede de Mobilidade por Bicicleta (RMB) anunciado por decreto pela prefeitura em setembro.
O poder executivo planeja aumentar em 160 km as ciclovias da cidade - hoje são 458 km -, e os moradores querem que, além da ampliação, o município faça manutenção das que já existem. De acordo com eles, o levantamento foi enviado à prefeitura.
Em resposta, Vivi Zampieri, gerente de mobilidade sustentável da Secretaria de Meio Ambiente, revelou que a gestão municipal vai apresentar uma nova etapa do plano cicloviário, no próximo dia 16, às 14h, por meio de uma transmissão on-line, via Zoom, e aberta à sociedade.
Rua Sorocaba: pintura que demarcava ciclofaixa praticamente desapareceu. Foto de leitor
Além de dar mais detalhes sobre o RMB, que prevê o mapeamento de possíveis 123 novas rotas e o plano para integrar as pistas existentes e também conectá-las com outros meios de transporte, a prefeitura vai abordar o tema ciclomotores na cidade e apresentar dados sobre número de ciclistas na região central. Essa contagem foi feita pelo Escritório de Planejamento da Secretaria municipal de Fazenda e Planejamento, em parceria com o Laboratório de Mobilidade Sustentável da UFRJ.
Mapeamento
A ideia do mapeamento das ciclovias sem manutenção feito por moradores de Botafogo foi de Luciene Gomes Manoel, que também é fundadora da Associação Estadual de Ciclistas. Para fazer o levantamento, ela percorreu algumas vias e convidou amigos ciclistas do bairro a fazerem o mesmo. Entre as ruas avaliadas estão General Polidoro, Nelson Mandela, Professor Álvaro Rodrigues, da Passagem e Muniz Barreto. Buracos, desníveis na pista e a falta de pintura são os principais problemas, além de árvores e carros estacionados no caminho, aponta o documento.
"Ciclovias e ciclofaixas estão fragmentadas, incompletas ou têm problemas de construção e de manutenção. O que precisamos é de ações efetivas para que as pessoas não corram riscos de graves acidentes. A São Clemente é a rua, por metro quadrado, que mais mata ciclistas no estado. Eu levava a minha filha para a escola de bicicleta. Hoje não levo mais; está muito perigoso", diz Luciene.
Além do mapeamento feito no mês passado, ela conta que foi anexado um estudo feito em 2015 pelo Instituto Cultural da Dinamarca, o Institute for Transportation Development Policies (ITDP) e a Transporte Ativo (TA) e atualizado em 2018, sobre a situação das ciclovias no bairro. Além de citar os problemas, o documento traz soluções práticas para resolvê-los e aponta novas rotas desejáveis.
"Apesar de a última revisão ter sido feita em 2018, o estudo está atualizado, porque nada foi feito desde então. Nem um buraco sequer foi tapado. Os problemas só aumentaram", ressalta.
Clique na matéria de O Globo para ver as imagens deste mapeamento
Outro morador do bairro, e integrante da Comissão de Segurança de Ciclistas do RJ, Alexandre Maurell, pontua que a falta de manutenção e de conhecimento sobre o que é permitido ou não também gera atritos.
"Ninguém sabe ao certo o que é ciclovia, ciclofaixa, ciclorrota, e o que tem em cada via. A falta de manutenção delas confunde ainda mais. Carros estacionam no meio do caminho e nada é claro sobre os deveres e direitos de cada meio", diz.
Resposta da prefeitura
A prefeitura informa que no primeiro trimestre de 2022 haverá interação com a sociedade civil para contribuições e validação da rede proposta e identificação de novos trechos a serem integrados.
A Secretaria de Conservação diz que atua regularmente na manutenção dos pisos das ciclovias e ciclofaixas e que mandará uma equipe aos pontos citados para realizar vistorias e incluir os reparos do piso na programação de serviços. A CET-Rio também afirma que realiza a manutenção frequente de ciclofaixas e que ainda não recebeu o mapeamento citado. Caso venha a recebê-lo, diz, ele será analisado e englobado na programação de manutenções futuras.
Já a Guarda Municipal informa que vem intensificando as ações de fiscalização de trânsito em Botafogo, com foco na coerção às infrações de trânsito, incluindo o estacionamento irregular sobre ciclovias, e que na última terça-feira uma operação realizada no bairro resultou na aplicação de 97 multas após flagrantes de diversas irregularidades.
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