COP 26 insiste no carro e apenas cita a mobilidade ativa

Documento firmado por países, cidades, organizações e fabricantes prioriza a transição de veículos automotores. Mobilidade ativa entrou no último momento, no fim do texto

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Fonte: COP 26/Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 17 de novembro de 2021

Exibição de carros elétricos

Exibição de carros elétricos

créditos: Norsk elbilforening/European Environment Agency



Declaração assinada durante a COP 26 por países, cidades, organizações e fabricantes prioriza a transição de de veículos automotores para motores com emissão zero. E a mobilidade ativa - a pé e por bicicleta - somente aparece no último parágrafo.


Governos de 38 países e dezenas de autoridades provinciais, estaduais e municipais, empresas e organizações sociais assinam o manifesto final  da COP 26 sobre as metas para a transição "limpa" da mobilidade urbana. Em resumo, o texto define o ano de 2035 como limite para o banimento dos veículos que queimam derivados de petróleo. A partir daí, em condições relativamente flexíveis, os signatários deixariam de vender e comprar carros movidos com motores a explosão.


O título do documento cita carros e vans, mas não faz qualquer menção, por exemplo, às frotas de transporte coletivo, majoritariamente compostas por veículos diesel. Apesar das pressões e manifestos encaminhados por ativistas de todo o mundo, o texto faz uma brevíssima referência à mobilidade ativa e aos transportes públicos. São 50 palavras em um texto de 800 palavras, no último parágrafo do manifesto. E a citação somente foi acrescentada pela intervenção de última hora de Matthew Baldwin, coordenador de mobilidade urbana da União Europeia.


Analistas do Theclimategroup.org e da organização Transport and Environment apontaram os aspectos positivos e negativos das negociações realizadas em Glasgow. Um primeiro aspecto positivo é que agora 31% das vendas globais de veículos estão compromissadas com a eliminação progressiva de carros poluidores, conforme compromisso assumido pelos próprios fabricantes. Outro ponto interessante é que 19% das vendas globais de carros são realizadas em países que agora têm uma data limite para o banimento de veículos poluidores. Ainda mais: grandes mercados de países em desenvolvimento, como a Índia, que antes investiam no aumento dos veículos movidos a petróleo, assinaram o compromisso.


Olhando o lado negativo, a China, maior mercado mundial de veículos, não assinou, embora o país esteja realizando uma forte política interna de transição energética no transporte. Outro ponto: grandes fabricantes, como a Volkswagen, Toyota, Stellantis, BMW e seus países de origem (Alemanha, EUA,  França e Japão) não firmaram o documento. Em entrevistas, diretores da Volkswagen afirmaram que depois do dieselgate eles não queriam assinar nada que não estivessem 100% certos de que poderiam entregar. Mas, sabe-se que a fábrica alemã apóia publicamente o pacote que prevê somente a venda de carros ZEV na União Europeia em 2035. Analistas apontam que a Alemanha não estava em posição de assinar devido às negociações de uma nova coalizão de governo em andamento, mas a nova frente parlamentar já concordou com a eliminação gradual dos veículos fósseis até 2035, segundo esses observadores.



Leia a íntegra da declaração
, que foi assinada pelos governos do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas não pelo governo federal do Brasil:


"Declaração para acelerar a transição para 100% de carros e vans com emissões zero

Como representantes de governos, empresas e outras organizações com influência sobre o futuro da indústria automotiva e do transporte rodoviário, nos comprometemos a acelerar rapidamente a transição para veículos com emissão zero para atingir os objetivos do Acordo de Paris (Esclarecemos que esta declaração não é juridicamente vinculativa e se concentra em um nível global).


Juntos, trabalharemos para que todas as vendas de carros e vans novos tenham emissão zero (para evitar dúvidas, no contexto desta declaração, um carro e van com emissão zero é aquele que produz zero emissões de gases de efeito estufa no escapamento) globalmente por volta de 2040, e o mais tardar em 2035 nos principais mercados.


a) Como governos, trabalharemos para que todas as vendas de carros e vans novos tenham emissão zero até 2040 ou antes, ou até 2035 nos principais mercados.

 

b) Como governos em mercados emergentes e economias em desenvolvimento, trabalharemos intensamente para uma proliferação acelerada e adoção de veículos com emissão zero. Apelamos a todos os países desenvolvidos para fortalecer a colaboração e oferta de apoio internacional para facilitar uma transição global, equitativa e justa.

 

c) Como cidades, estados e governos regionais, trabalharemos para converter nossas frotas de carros e vans próprias ou alugadas em veículos com emissão zero até 2035, bem como implementar políticas que possibilitem, acelerem ou incentivem de outra forma a transição para veículos com emissões zero o mais rapidamente possível, dentro dos limites de nossos poderes jurisdicionais.

 

d) Como fabricantes automotivos, trabalharemos para atingir as vendas de carros e vans com emissão zero de 100% nos principais mercados até 2035 ou antes, apoiados por uma estratégia de negócios alinhada com o cumprimento dessa meta, no sentido de estimular a demanda dos clientes.

 

e) Como proprietários e operadores de frotas de negócios, ou plataformas de mobilidade compartilhadas, trabalharemos para que 100% de nossas frotas de carros e vans sejam formadas por veículos com emissão zero até 2030, ou antes, assim que os mercados permitirem.

 

f) Como investidores com participações significativas em fabricantes automotivos, apoiaremos uma transição acelerada para veículos com emissão zero, em linha com a obtenção de 100% das vendas de carros e vans com emissão zero nos principais mercados até 2035. Providenciaremos o engajamento proativo e o escalonamento destes questões com os investimentos, juntamente com o incentivo de todas as nossas participações a descarbonizar suas frotas, de acordo com metas baseadas na ciência.

 

g) Como instituições financeiras, confirmamos nosso apoio a uma transição acelerada para veículos com emissão zero, em linha com a obtenção de 100% das vendas de carros e vans novos com emissão zero nos principais mercados até 2035, apoiados pela disponibilização de capital e produtos financeiros para permitir esta transição para consumidores, empresas, infraestrutura de carregamento e fabricantes.

 

h) Como outros signatários, apoiamos uma transição acelerada para veículos com emissão zero, em linha com a obtenção de 100% das vendas de carros novos e vans com emissão zero nos principais mercados até 2035.

 

Apoiaremos os esforços para alcançar o avanço do transporte rodoviário anunciado pelos líderes mundiais, que visa a tornar os veículos com emissão zero o novo normal, tornando-os acessíveis, baratos e sustentáveis em todas as regiões até 2030.

 

Juntos, saudamos as novas oportunidades de crescimento limpo, empregos verdes e benefícios para a saúde pública, com a melhoria da qualidade do ar. E que essa transição também possa aumentar a segurança energética e ajudar a equilibrar as redes de eletricidade à medida que fazemos a transição para a energia limpa.

 

Coletivamente, nos comprometemos a apoiar uma transição global, equitativa e justa para que nenhum país ou comunidade seja deixado para trás. Nos países que correspondem aos mercados líderes, trabalharemos para fortalecer a oferta de apoio internacional aos países em desenvolvimento, mercados emergentes e economias em transição - incluindo, quando aplicável, por meio de assistência técnica, finanças e capacitação.

 

Acolhemos uma política forte e compromissos ousados, juntamente com maiores níveis de investimento em pesquisa, manufatura, cadeias de suprimentos, infraestrutura e - quando aplicável - assistência ao desenvolvimento, que serão necessários para tornar uma transição global acelerada uma realidade.

 

Trabalharemos juntos para superar barreiras estratégicas, políticas e técnicas, acelerar a produção de veículos com emissão zero e aumentar as economias de escala para tornar a transição mais rápida, com custos mais baixos e mais fácil para todos. Também trabalharemos juntos para impulsionar o investimento, para reduzir custos e aumentar a adoção de veículos com emissão zero, considerando seus vários benefícios econômicos, sociais e ambientais.

 

Reconhecemos que, juntamente com a mudança para veículos com emissão zero, um futuro sustentável para o transporte rodoviário exigirá uma transformação mais ampla do sistema, incluindo suporte para viagens ativas, transporte público e compartilhado, bem como abordar todos os impactos da cadeia de valor da produção, uso e descarte de veículos."


Assinam

Governos: Áustria, Azerbaijão, Bélgica, Camboja, Canadá, Cabo Verde, Chile, Croácia, Chipre, Dinamarca, El Salvador, Finlândia, Islândia, Irlanda, Israel, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Eslovênia, Suecia, Vaticano, Reino Unido e Uruguai.

Governos de países emergentes e em desenvolvimento: Índia (motos e triciclos motorizados constituem mais de 70% das vendas globais de veículos automotores. Na Índia, esses pequenos veículos correspondem a mais de 80% das vendas. Todos os governos devem também apoiar a transição desses veículos para motorizações com emissão zero), República Dominicana, Ghana, Quenia, México (Secretaria da Economia), Marrocos, Paraguai, Ruanda, Turquia, Ucrânia.

Cidades, estados e governos regionais: Akureyri, Ann Arbor, Atlanta, Australian Capital Territory, Barcelona, Conselho de Governos de Berkeley-Charleston-Dorchester, Bolonha, Bristol, British Columbia, Buenos Aires, California, Catalunha, Província de Catamarca, Charleston, Dallas, Florença,  Província de Gangwon, Província de Jeju, La Paz, Lagos, Los Angeles, New South Wales (Austrália), Estado de Nova York, Cidade de Nova York, Irlanda do Norte, Quebec, Reykjavik, Rio de Janeiro, Roma, San Diego, San Francisco, Santa Monica, Sao Paulo, Escócia, Seattle, Sejong, Seul, Sikkim, Austrália do Sul, Província de Chungcheong do Sul, Ulsan, Victoria, Wales, Estado de Washington.

Indústria automobilística: Avera Electric Vehicles, BYD Auto, Etrio Automobiles Private Limited, Ford Motor Company, Gayam Motor Works, General Motors, Jaguar Land Rover, Mercedes-Benz, Mobi, Quantum Motors, Volvo Cars.

Frotistas e operadores: ABB, Astra Zeneca, BT Group, Capgemini, Centrica, Danfoss, E.On, EDP, GlaxoSmithKline, Highland Electric Fleets HP Inc., Iberdrola, Ingka Group/IKEA, LeasePlan Corporation, National Grid, Novo Nordisk, Openreach, Sainsbury’s, Siemens, SK Networks, Sky UK Limited, SSE, Tesco, Uber Technologies Inc., Unilever, Vattenfall, Zenith, Zurich

Investidores: Adrian Dominican Sisters – Portfolio Advisory Board, AP7, Arabesque Asset Management, Committee on Mission Responsibility Through Investment of the Presbyterian Church USA, Congregation of St Joseph, Daughters of Charity, Province of St Louise, EOS at Federated Hermes, Impax Asset Management Group, 

Local Authority Pension Fund Forum, Mercy Investment Services Inc., NEI Investments, Office of the New York City Comptroller, Seventh Generation Interfaith Coalition for Responsible Investment, G. Financial institutions, Aviva e NatWest.

Outros: ADS-TEC Energy GmbH, AMPLY Power, Autovert Technologies Private Limited, Bengal Chamber of Commerce and Industry, Central & Eastern Europe Green Transport Initiative, Drive Electric Campaign, Enzen Global Solutions Private Limited, FIA Foundation, Global EV Drivers Association, Grip Invest Advisors Private Limited, International Council on Clean Transportation, Institutional Investors Group on Climate Change, Indian Chamber of Commerce, International Trade Union Confederation, Ohm Mobility, Polish Alternative Fuels Association, RMI India, Autoridade de Transporte Urbano de Lima e Callao, e WeaveGrid.

*Tradução e adaptação: Mobilize Brasil. Leia o original em inglês


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