Ato no Recife terá 'ghost bike' para lembrar ciclista morto na Av. Caxangá

Avenida não tem ciclovia, embora esteja incluída no Plano Diretor Cicloviário. De cada 10 atropelamentos de ciclistas em 2020, um foi na Caxangá

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Fonte: Diário de Pernambuco  |  Autor: Diário de Pernambuco  |  Postado em: 11 de novembro de 2021

Bicicleta branca, para não esquecer as vítimas do

Bicicleta branca, para não esquecer as vítimas do trânsito

créditos: Levi Mandel

Nesta quinta-feira (11), às 19h, a Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife - Ameciclo, a União de Ciclistas de Pernambuco - Ucipe e outros grupos de ciclistas realizarão um ato na Av. Caxangá em homenagem a Flávio Antônio, de 42 anos, atropelado próximo ao Caxangá Golf & Country Club na quarta-feira (3). 

 

Flávio era um trabalhador que fazia o mesmo percurso há 18 anos em sua bicicleta barra circular, de segunda a sábado. De acordo com as suas próprias palavras, a bicicleta proporcionava saúde e economia na sua rotina. 

 

A  homenagem será simbolizada com a instalação de uma bicicleta branca no local, também conhecida como ghost bike. A ação existe para que as vítimas de trânsito não sejam esquecidas, para chamar atenção para a omissão do poder público a respeito da falta de estrutura para os ciclistas e lembrar que o excesso de velocidade mata - pesquisas apontam a velocidade como principal causa de mortes no trânsito em todo o mundo. 

 

Avenida Caxangá

No Recife, a Ameciclo atua para garantir que a gestão executiva cumpra o Plano Diretor Cicloviário (PDC), documento construído em 2014 que contempla toda a Região Metropolitana com estudos para a implantação de estruturas cicloviárias.

 

A Avenida Caxangá está inclusa no PDC e, para ela, é prevista ciclovia ao longo de toda sua extensão, ligando Camaragibe ao centro da capital.

 

A via foi elencada como a quinta avenida mais violenta do Recife, com cerca de 300 colisões anuais, o que corresponde a 3% das colisões totais do Recife. Desde 2016, a Caxangá soma 49 colisões com ciclistas, registrando o maior número durante a pandemia. Em 2020, um em cada 10 ciclistas atropelados teve a Caxangá como cenário. Somente até julho deste ano, foram 51 colisões e atropelamentos na via, sendo cinco com ciclistas.

 

Riscos

Pela soma das Contagens de Ciclistas realizadas pela Prefeitura do Recife e a associação, na via em questão passam entre três e cinco mil ciclistas por dia, que se arriscam entre os bordos da via e a faixa exclusiva para BRT, local por vezes preferido por ciclistas por diminuir a sensação de insegurança diante das condições da avenida hoje. 

 

Inclusive, o Manual do BRT informa que caso não tenham ciclovias, ciclistas podem usar a faixa. Dentre os depoimentos de quem a usa, nas redes sociais encontramos relatos como: “Todos os dias levo fino de carro e BRT”, “Com estrutura cicloviária na via eu perderia meu medo de morrer, a avenida permite velocidades altas demais”, “Motoristas parecem ter ódio de ciclistas, eles botam o carro para cima de mim e eu tenho que me jogar para a calçada”. 

 

Segundo Vanessa Santana, coordenadora da Ameciclo, “Na campanha eleitoral de 2020, o atual prefeito do Recife [João Campos, do PSB] se comprometeu em reduzir as velocidades das vias e priorizar o transporte sustentável, mas não é isso que vemos quando temos avenidas violentas, que passam vários ciclistas por dia, sendo ignoradas no planejamento urbano. O que protege quem anda de bicicleta são ciclovias e ciclofaixas, redução da velocidade e investimento para tornar o trânsito seguro para as pessoas escolherem como querem se locomover”.

 

 

Mais uma vítima

Três dias após o atropelamento de Flávio Antônio na Av. Caxangá, Diogo Emanoel da Luz, de apenas 16 anos, foi assassinado por um motorista cujo carro estava em alta velocidade no bairro de Vera Cruz, em Camaragibe. O suspeito fugiu sem prestar socorro e a vítima faleceu no local.

 

Segundo os moradores, no trecho em questão há risco para todas as pessoas, em virtude da negligência dos órgãos responsáveis do município por não garantirem a segurança necessária, como a fiscalização da velocidade e sinalização na curva existente. "Também vamos à rua em memória de Diogo, adolescente que teve sua vida ceifada pela carrocracia", informa a Ameciclo.

 

Proposta para o orçamento

Este ano, a Ameciclo elaborou a Loamob - Proposta de Lei Orçamentária Anual para a Mobilidade Sustentável, visando a incidência no orçamento público do município do Recife. Foram estudadas as ações propostas na LOA 2022 e no PPA 2022/2025, indicando onde e para quais ações deveriam receber emendas aditivas, modificativas ou supressivas, bem como projetos e ações que são interessantes que tenham manutenção de seus textos, com foco na mobilidade.

 

Na Ação ‘Promoção da Mobilidade e Acessibilidade’, a Ameciclo sugere a adição das seguintes subações: elaborar estudos, planos e projetos de estrutura cicloviária; elaborar estudos, planos e projetos para medidas de segurança no trânsito; elaborar estudos, planos e projetos para garantir acessibilidade nas vias e espaços públicos. 

 

Como justificativa, os autores da proposta - os associados Daniel Valença e Lígia Lima - discorrem que, em anos anteriores, essa ação tinha entre seus objetivos “assegurar melhores condições operacionais dos sistemas viário e de passageiros, reduzindo os acidentes de trânsito e ampliando as vias locais de circulação”. Apesar de grandes dotações orçamentárias, a execução sempre foi insatisfatória daquilo previsto nas Leis Orçamentárias Anuais.

 

Segundo a proposta da Loamob, “entre 2017 e 2020, ações que privilegiam os automóveis individuais consumiram 83% do orçamento da mobilidade no Recife."

 

Prossegue o texto: "Para efeito de comparação, entre 2013 e 2019 - anos em que houve maior expansão cicloviária no Recife - foram investidos menos de R$ 8 milhões com estrutura cicloviária, sendo a maioria embutida no orçamento de sinalização. No entanto, obras e ações para o automóvel consumiram, no mesmo período, muito mais, a exemplo da Via Mangue (R$ 625 milhões), pavimentação de novas vias (R$ 68 milhões), recapeamento de vias (R$ 341 milhões) e orientadores de trânsito (R$ 71 milhões) - totalizando R,1 bilhão de reais”, alerta a proposta.

 

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