O triste significado de "queda na calçada"

Meli Malatesta (Pé de Igualdade) lembra de como há dois anos um tombo na calçada no RJ trouxe sequelas e tirou para sempre dos palcos o pianista Nelson Freire

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Fonte: Mobilize Brasil/ Pé de Igualdade  |  Autor: Meli Malatesta  |  Postado em: 03 de novembro de 2021

Nelson Freire: depressão depois da queda na calçad

Nelson Freire: depressão depois da queda na calçada

créditos: Redes sociais/ Reprodução

Que atire a primeira pedra quem nunca levou um tombo na calçada.  Se houver ilesos, provavelmente são pouquíssimos. Embora o mundo todo não dê muita atenção a este tipo de ocorrência, ela não deixa de ser um tipo de sinistro que seqüela tanto quanto os de trânsito e, como ele, tem o poder de também trazer conseqüências trágicas.

 

Abordo o tema “queda na calçada” novamente aqui no blog Pé de Igualdade, mas desta vez me remeto à tristeza causada pela perda de um excepcional brasileiro, motivo de orgulho para todos. Nelson Freire, que era considerado e respeitado no planeta como um dos melhores pianistas, nos deixou, nesta primeira segunda feira de novembro (1º), tendo como  causa mortis uma concussão cerebral decorrente de uma queda sofrida na sua residência.   

 

Mas o quê isso tem a ver com “queda na calçada” mencionada no início deste texto?

Acho que todos se recordam e, para quem não, relembro que Nelson Freire sofreu uma queda na calçada de pedra portuguesa há dois anos, e fraturou o ombro, tendo que desmarcar os compromissos aqui e no exterior que faziam parte da sua rotina.  

 

Passou por um longo processo de recuperação da cirurgia, com dolorosas sessões de fisioterapia, e até poderia retornar aos compromissos profissionais sob o ponto de vista médico. Entretanto, nunca mais se apresentou em público e quando amigos insistiam muito, sentava-se ao piano por pouco tempo, porque dores fortíssimas no ombro o impediam de tocar como antes. 

 

Mesmo que o ato final desta triste história tenha sido causado por uma queda doméstica, certamente ela foi o final de um processo depressivo e injusto que interrompeu, antes da hora, a manifestação de um raro talento que tanto encantava platéias do mundo todo. 

 

Por este relato, baseado em várias matérias publicadas na mídia, já é possível se ter uma idéia do impacto causado pelo estrago de um estúpido buraco de calçada. Buraco que poderia não mais existir com a existência de programas específicos formados por soluções fáceis e baratas. Ao contrário, certamente irão se perpetuar pela omissa tolerância do poder público e da sociedade e traduzidos como causadores de fatos inevitáveis que anunciam até mesmo a chegada da única certeza que temos na vida.

 

Até o momento não estão incluídos e sequer lembrados em programas de Tolerância Zero e também não são entendidos como pertencentes a programas de redução de mortes e feridos no trânsito. Nem mesmo são merecedores do registro de dados estatísticos, essenciais para a existência de políticas públicas, ou mesmo da vontade política.

 

Termino convidando a apreciarem o brilhantismo de Nelson Freire na execução da Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro de L.M. Gottschalk.

 

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