No início do ano, após muita discussão e polêmicas, a Prefeitura de São Paulo finalmente começou a implantar a ciclofaixa da rua Luís Góis, na Vila Mariana, zona sul da capital. Porém, pouco depois a obra foi interrompida, e agora um grupo de ciclistas reclama da gestão Ricardo Nunes (MDB) pela sua continuidade.
No local, há placas indicando a circulação de bicicletas e proibindo carros, e faixas amarelas separadoras no chão. Contudo, ainda não existe uma faixa lateral vermelha no espaço de circulação e nem tachões. No atual Mapa de Infraestrutura Cicloviária da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) a via consta como inaugurada em 2 de fevereiro passado e com cerca de 2 km de extensão.
Segundo ciclistas, a via não é respeitada pelos motoristas, que param seus veículos no local para desembarque e até mesmo para estacionar. “A estrutura incompleta encoraja muita gente a estacionar sobre a ciclovia e isso obriga a gente a desviar pelo meio dos carros, o que é muito perigoso”, diz Estevão Laurito, ciclista que mora na região.
Aprovada e descontinuada
Sugerida por moradores e ciclistas em 2015, a ciclofaixa da rua Luís Góis foi discutida em três reuniões na prefeitura entre 2015-2018, acabou aprovada em audiência pública em março de 2018, passou por um workshop na Secretaria de Mobilidade e por outra audiência específica do Plano Cicloviário, no primeiro semestre de 2019, para finalmente ser sinalizada em janeiro de 2021.
A implantação da sinalização pela gestão municipal, porém, foi interrompida pouco tempo depois, mas a prefeitura colocou o local oficialmente como pronto e o inaugurou em fevereiro deste ano, faltando apenas um trecho de duas quadras entre a rua Primeiro de Janeiro e a rua Domingos de Morais.
Em abril deste ano, o vereador Aurélio Nomura (PSDB) convocou uma audiência pública na Câmara Municipal, segundo ele a pedido de moradores e comerciantes locais, que querem a retirada da via para ciclistas, alegando que ela teria acabado com a possibilidade de estacionamento na rua e prejudicado o acesso de clientes e fornecedores.
Contudo, desde então, segundo os ciclistas, nenhuma decisão foi tomada, e a obra ficou pela metade. “É desrespeitoso”, afirma Thomas Wang, integrante do coletivo Bike Zona Sul. Para os ciclistas, a ciclofaixa neste local é importante pela rua Luís Góis ser uma ligação com outras ciclovias e regiões da cidade de São Paulo, e por se tratar da rua local com melhores condições topográficas para o trânsito de bicicletas.
Em nota, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) afirma que está avaliando os apontamentos sugeridos para verificar a melhor forma de viabilizar a continuidade do projeto: “É importante enfatizar que a prefeitura mantém o diálogo aberto com a sociedade para que todos sejam ouvidos e beneficiados”, diz a companhia.
E também na Zona Norte
Outro ponto de alto risco para os ciclistas se localiza na esquina da av. General Ataliba Leonel com a av. Voluntários da Pátria, no bairro de Santana, zona norte da capital paulista. No local, a ciclofaixa existente termina no meio da esquina, sem continuidade, deixando os ciclistas em meio ao trânsito pesado das duas avenidas. A solução do problema exige apenas mais 100 metros de ciclofaixa, até a esquina com a av. Cruzeiro do Sul, completando a conexão com a rede cicloviária.
Ciclofaixa na esquina das avenidas Gal. Ataliba Leonel e Voluntários da Pátria, em Santana. Foto: Google StreetView
Um outro trecho cicloviário incompleto foi implantado na região próxima ao Horto Florestal, também na zona norte da cidade. A ciclofaixa começa na esquina da av. Santa Inês com a rua Luís Carlos Gentile de Laet, seguindo por um trecho da rua do Horto, até as proximidades da esquina com a rua Mamud Rahd. O problema é que todo o trecho ficou desconectado da rede cicloviária da cidade.
Duas sugestões: fazer a ligação com a ciclofaixa da av. Eng. Caetano Álvares, que chega até a Marginal do Tietê; e/ou estender a ciclofaixa até o bairro do Jaçanã pelo vale do córrego Tremembé até sua conexão com a estação Tucuruvi do metrô e dali até a ciclofaixa da av. Luís Dumont Villares para o centro da cidade.
Ciclofaixa nas proximidades do Horto Florestal: falta a conexão com a rede cicloviária Foto: Google StreetView
Resposta da Prefeitura:
Sobre as áreas na zona norte, a Prefeitura de São Paulo respondeu que: "...a implantação de estrutura cicloviária nas vias em questão consta do Programa de Metas 2021/2024 da Prefeitura da Cidade de São Paulo, em fase de consulta pública.
Para a implantação desta estrutura cicloviária, também deverão ser cumpridas as exigências dadas pela Lei 16.738/2017 que estabelece, além de outras questões, a apresentação e aprovação dos projetos específicos pela sociedade e organizações civis em audiências públicas. Por fim, esclarecemos que a implantação das novas estruturas cicloviárias deverão ser incluídas na programação das demandas da municipalidade."
Em tempo: na quarta-feira, dia 27 de outubro, a prefeitura paulistana vai realizar uma Audiência Pública para apresentar propostas de novas estruturas para ciclistas. O plano de metas prevê mais 300 km de ciclovias/ciclofaixas até 2024.
*Luca Castilho assina matéria do Agora sobre a ciclofaixa da Luís Góis, adaptada para esta reportagem.
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