É cada vez mais comum que as crianças escutem: “Não pode sair na rua sozinha!”; “Não, sai já daí, é perigoso!”; “Não pode atravessar sozinho, tem que dar a mão!”Não, não, e não...
Se, por um lado, queremos apoiar as descobertas, incentivar esse movimento em direção a maior autonomia e independência das crianças, por outro lado nos sentimos impotentes, defraudadas. Conscientes ou não, vamos registrando o meio urbano como um espaço antinatural para bebês, crianças e adolescente, com tantas limitações que impomos - ou que, na realidade, nos são impostas.
Como mães, pais e cuidadores estamos acostumados a medir, avaliar e gerenciar riscos, ponderando quando vale a pena arriscar um “sim”, deixando a criança escalar uma pedra, andar em uma mureta, subir em uma árvore. Mas e quando não temos opção, e quando quase tudo o que vemos lá fora são ameaças para a saúde e bem estar de nossas crianças? É justo que sejamos nós os responsáveis por assumir o risco de uma criança ser atropelada, ou que ela fique doente por brincar em uma rua com lixo ou esgoto a céu aberto?
Por isso, queremos cidades que nos ajudem a dizer “sim” para nossas crianças! Queremos cidades em que “sim”, todas as pessoas são bem vindas! Onde “sim”, as crianças podem ir a pé ou de bicicleta pra escola, onde nos sentimos seguras para que “sim” andem sozinhas, onde possam brincar, respirar ar limpo...cidades em que podemos nos encontrar, tocar, mexer, subir, descobrir...Cidades onde podemos dizer “sim” com confiança...
Nosso manifesto nasce em um momento crítico, em que o “não” ficou mais evidente, onde tanto crianças quanto adultos estão sendo privados de estar lá fora, usando espaços comuns…onde as vulnerabilidades foram escancaradas. Por isso, a “Cidade do Sim” se torna ainda mais urgente .Mas para alcançá-la, devemos repensar o processo de planejamento urbano em si. Queremos colocar energia em observar, escutar, pesquisar, dialogar, planejar e compartilhar aprendizados que apoiem políticas e projetos para cidades mais acolhedoras. Acreditamos que o cuidado com as crianças, e com nossas cidades, deve ser socializado - e que temos, todas nós, este dever.
E a “Cidade do Sim” deve ser uma cidade:
- Segura, porque nela “sim!”, as crianças podem ir a pé sozinhas para a escola, elas podem cruzar a rua com segurança. As crianças e jovens devem ter garantido o direito à vida, nenhuma pessoa deve morrer ou sentir medo nas ruas. É importante que tanto crianças quanto adultos se sintam seguros nos espaços públicos, esse sentimento é a base para a tomada de decisão sobre sair ou não de casa;
- Acessível, porque “sim!”, todas as crianças e pessoas são bem vindas nessa cidade. As crianças e suas famílias devem ter direito de acesso à cidade, e é através das ruas que se dá o acesso aos serviços de saúde, educação, cultura. A “Cidade do Sim” permite que cuidadores caminhem confortavelmente com seus filhos na calçada, e que possam subir em um ônibus com um carrinho de bebê, por exemplo;
- Saudável, porque “sim!”, as crianças podem respirar ar limpo lá fora! A “Cidade do Sim” inspira hábitos ativos e garante qualidade de vida a toda a população. Ela permite que as crianças escolham caminhar ou pedalar para ir a escola, ou que tenham um parque ou praça perto de casa onde possam brincar;
- Lúdica, porque “sim!”, nela as crianças (e adultos!) podem mexer, encostar, pegar, sentar, subir, pular…A forma da criança interagir com o mundo, e com as pessoas ao seu redor, é brincando. A cidade pode ser um enorme parque de diversões que estimula o desenvolvimento motor, cognitivo e socioemocional das crianças, oferecendo elementos lúdicos, com diferentes formatos de uso e interações. A “Cidade do Sim”, ao invés de proibir, instiga descobertas e conexões com o ambiente urbano, e entre as pessoas.
- Inspiradora, porque “sim!”, ela tem muito a nos ensinar. Por um lado, as crianças pequenas estão em pleno desenvolvimento de seus sentidos, desenvolvimento cognitivo, motor, e os espaços públicos precisam apoiar esse processo, incentivar descobertas e apoiar a sua autonomia. Por outro, as crianças maiores, com apoio de educadores e famílias, podem usar a cidade como currículo, como local de aprendizagem sobre diversos temas e disciplinas;
- Resiliente, porque ela garante que “sim!” há futuro. Ela oferece espaços e serviços que protegem crianças e famílias enquanto respondem a catástrofes e crises. Ao mesmo tempo, ela incorpora estratégias que garantam um ambiente urbano mais ambiental, social e economicamente sustentável;
- Inclusiva, porque a “Cidade do Sim” acolhe todas as pessoas. As crianças estão aprendendo a ler a cidade, a ler a sociedade, seus hábitos, seus costumes, para então repeti-los. É o início da construção do sentido de coletivo, de pertencimento. A introdução do conceito de diversidade e inclusão deve começar na primeira infância e ser fortalecida ao longo da vida, especialmente através da experiência nas ruas e espaços públicos.
Vamos junt@s construir “sim´s”?
Para saber mais e apoiar o manifesto, acesse o link
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