Obras em Goiânia priorizam carro e esquecem pedestre, diz arquiteto

Viadutos são erguidos sem espaço seguro para quem vai a pé e de bicicleta. Para especialista, "atravessar ruas em Goiânia é um exercício de coragem e paciência"

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Fonte: O Hoje  |  Autor: Alzenar Abreu/ Mobilize (edição)  |  Postado em: 01 de outubro de 2021

Obras estruturais não abrem espaço para quem anda

Obras estruturais não abrem espaço para quem anda a pé

créditos: Jota Eurípedes/ O Hoje

Pontes e viadutos da capital goiana estão sendo edificados para solucionar o tráfego de veículos e aumentar a fluidez do trânsito; em contrapartida, não há meios seguros para o pedestre ou ciclista seguir com tranquilidade nessas estruturas. 

 

A afirmação é do arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, que cita como exemplos obras mais recentes em Goiânia como os viadutos construídos nos cruzamentos da Rua 90 com Avenida 136 e da Avenida Deputado Jamel Cecílio com a Marginal Botafogo. “Sem chance para segurança de pedestres e ciclistas nessas estruturas”, pontua.

 

Outra obra recém-inaugurada (dia 28) é um trecho elevado de 1,4 km, com três pistas para carros, na Avenida Leste-Oeste, Região da 44, e que inclui o Viaduto da Moda, no Setor Norte Ferroviário. Neste caso, até há calçadas, mas nenhum local para a passagem de bicicletas. O custo foi de quase R$ 13 milhões, informa a Secretaria de Infraestrutura de Goiânia. 

 

Goiânia: 3ª capital com maior taxa veículos/habitantes

Renato Alves acrescenta que atravessar ruas em Goiânia com uma frota de mais de 1,2 milhão de carros e motos é um exercício de coragem e paciência. “Temos a terceira capital do país com a maior taxa de veículos por habitante. Criar fluxos para desembaralhar esse trânsito cada vez mais caótico é válido quando a proposta assegura um trabalho paralelo para pedestres e ciclistas”, avalia.

 

Para o arquiteto, as principais obras de infraestrutura de mobilidade executadas na cidade são viadutos, feitos para incentivar a circulação de carros e não de pedestres e ciclistas. 

 

E ele dá como exemplo a travessia da Rua 90 com a Avenida 136, que ficou muito mais perigosa, e o cruzamento da Avenida Deputado Jamel Cecílio com a Marginal Botafogo, onde os carros agora circulam com maior velocidade, espantando logicamente quem caminha ou segue de bicicleta.

 

Na sua opinião, falta planejamento. As políticas de mobilidade urbana adotadas por Goiânia, explica, vão na contramão do que tem sido feito em várias cidades do mundo. “Você tem, por exemplo, a Rua 90, onde há trechos em que a passagem é restrita a um único veículo. Se houver um acidente ou este carro estragar paralisa todo o trânsito do Setor Oeste e Setor Aeroporto”, explica.

 

Segundo Alves, a prefeitura "investe milhões para construir viadutos, para fazer corredores exclusivos, para cortar a cidade inteira e fazer o BRT, mas não tem recurso para arrumar as calçadas, que fica a cargo do dono do terreno". E acrescenta: "Como não há fiscalização, cada um faz de um jeito, não há um padrão.”

 

Contraponto

Questionado sobre a priorização na capital dos veículos em detrimento dos pedestres, o engenheiro de tráfego da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), Marcelo Pontes, se isentou de responder e sugeriu que para tratar especificamente da falta de estrutura aos pedestres nas obras recentes o prefeito e o secretário da pasta seriam as pessoas mais indicadas. 

 

Apesar disso, lembrou que quando for inaugurado no ano que vem, por exemplo, o viaduto da Jamel Cecílio, haverá sim sob a estrutura faixas de pedestres sinalizadas, que darão segurança na travessia. “Hoje, realmente, quem passa a pé fica sacrificado, mas a obra está em andamento”, justificou.

 

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