Segunda maior causa de morte não natural no Brasil, de acordo com especialistas, os sinistros de trânsito preocupam cada vez mais os órgãos de saúde do país. E principalmente as internações no Sistema Único de Saúde (SUS) de motociclistas, que aumentaram significativamente a partir da pandemia de covid-19.
É o que revela um estudo divulgado nesta sexta-feira (17) pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet). Para a entidade, o número de internações de motociclistas pode ser considerado histórico. Veja uma comparação destes dados na tabela abaixo:
Fonte: Abramet
Recorde
Dados do Ministério da Saúde mostraram que, de março de 2020 a julho de 2021, foram 308 mil internações em todo o Brasil. Destes, 54%, ou, 167 mil vítimas eram motociclistas. O levantamento da Abramet mostrou ainda que, desse total, 85% eram homens e jovens, com idades entre 20 e 29 anos.
Somente no período de janeiro a julho de 2021, o número de internações de motociclistas bateu recorde histórico, alcançando 71.344 casos graves, que exigiram hospitalização. Os dados analisados pela Abramet também mostram um crescimento continuado das internações de motociclistas a partir de 2012.
O custo para o Estado foi de quase R$ 108 milhões. Em todo o ano passado, o SUS teve gastos de cerca de R$ 171 milhões para tratar motociclistas traumatizados em sinistros de trânsito.
A região Sudeste foi a que registrou o maior contingente de motociclistas internados em decorrência de sinistros, com total de 29.218 pessoas – 19% mais que no mesmo período de 2020. Em segundo lugar está a região Nordeste, com 23.370 vítimas – 18% mais que o registrado no primeiro semestre de 2020.
Grupo de risco
“É importante entender porque estão acontecendo tantos acidentes e o perfil de quem está morrendo, além de quais modais registram mais acidentes. Com isso, podemos agir e tomar medidas para tentar reverter o alto registro de internações e óbitos", disse o presidente da entidade, Antônio Meira Júnior, em entrevista coletiva. E completou: "Nós entendemos que, no trânsito, não existe acidente, já que podemos prevenir”.
Segundo Meira Júnior, os motociclistas estão inseridos em um grupo mais exposto e vulnerável a sofrer lesões em ocorrências de trânsito. Ele entende que, com o avanço da vacinação em todo país, as pessoas passaram a circular mais nas ruas, o que trouxe maior probabilidade de ocorrências. Além disso, a grande quantidade de motos nas ruas reflete, segundo ele, a “uberização” dos serviços na pandemia.
Prevenção
Para o presidente da Abramet, investir na segurança do trânsito é o que pode reduzir o número de acidentes nas vias e os custos com tratamentos em hospitais. “É muito mais barato investir na prevenção do que no pós-acidente. Por isso, é essencial o uso de equipamentos de segurança e, no caso das motos, o uso do capacete reduz o risco de morte. Observamos, onde há menos fiscalização, as pessoas pilotando e conduzindo outro passageiro sem usar capacete. É preciso investir em campanhas de conscientização permanentes, que são muito mais baratas”, reforçou.
Para dirigir em segurança e evitar sinistros nas ruas, os motociclistas devem prestar atenção ao entrar nos chamados “corredores” das vias, chama a atenção Meira Júnior.
Além do uso de equipamento de segurança, como capacete, é preciso também investir na revisão da moto (motor, pneus e freios) e ficar atento à sinalização, sobretudo a dos semáforos. Respeitar o pedestre e os outros veículos também ajuda a reduzir os números de acidentes, orienta a Abramet.
Para ler o estudo 'Atendimento de vítimas do trânsito no SUS durante a pandemia', elaborado pela Abramet, clique aqui.
*Matéria do JC NE de autoria de Roberta Soares. E no portal Metrópoles, reportagem de Ivana Sant'Anna
Leia também:
Afinal, motocicleta é um veículo seguro?
"Uber Moto" chega a mais capitais do Brasil
Brasil gasta 132 bilhões por ano com acidentes de transporte
Medo da covid-19 pode gerar onda de migração para carro e moto
Acidentes com carro e moto crescem no Recife