O que se come no Metrô de SP? Oferta pode influenciar escolhas ruins

Alta exposição e alimentos ultraprocessados de baixo preço tendem a impedir a garantia de autonomia, direitos e saúde da população, aponta estudo da USP

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Fonte: Jornal da USP  |  Autor: Guilherme Gama  |  Postado em: 02 de setembro de 2021

'Vending machines': produtos não saudáveis no metr

'Vending machines': produtos não saudáveis no metrô de SP

créditos: Foto cedida pela pesquisadora

Nas estações do Metrô em São Paulo, por onde passam cinco milhões de pessoas por dia, é comum encontrar serviços de alimentação para os passageiros, que veem no trajeto ao trabalho ou à faculdade a oportunidade de se alimentar. 

 

Um estudo da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP* analisou 66 pontos comerciais em 19 estações do Metrô para entender como esse ambiente alimentar pode interferir na alimentação e, portanto, na saúde da população.

 

Os dados apontam que a grande disponibilidade e o baixo custo dos alimentos e bebidas ultraprocessados (de alta caloria e baixo valor nutricional), em comparação com alimentos in natura ou minimamente processados, podem limitar a autonomia dos usuários do transporte que buscam escolhas saudáveis, o que diverge com a garantia da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), preconizada pela Constituição. 

 

“Para mudar esse cenário, é necessário que se tenha um olhar da saúde pública sob esses espaços para que seja possível a implementação de políticas públicas que auxiliem na promoção da alimentação saudável”, afirma ao Jornal da USP a nutricionista Jessica Vaz Franco, doutoranda pela FSP e uma das autoras do estudo

 

O que se come no Metrô?

As pesquisadoras adentraram o interior das estações do Metrô consideradas mais movimentadas de São Paulo e administradas exclusivamente pelo governo estadual. Por um sistema de checklist, foram analisados quiosques, lanchonetes, lojas e vending machines para quantificar, identificar e caracterizar os alimentos disponíveis, segundo seus atributos, como grau de processamento, preço, variedade (de marca, tipo de embalagem, volume, peso), localização, entre outras métricas. Assim, foi possível descrever o ambiente alimentar das estações. Vale destacar que a coleta foi feita em 2017, quando a linha Lilás ainda era estritamente de administração pública.

 

Os dados mostraram um cenário com alta oferta de alimentos não saudáveis em comparação com os saudáveis. Refrigerantes, por exemplo, foram encontrados em todas as estações, em uma média de oito tipos por estabelecimento – chegando a até 24 variedades do produto em um único comércio. A única opção de bebida saudável era água mineral, presente em todas as estações estudadas, exceto na Tucuruvi, e suco natural da fruta, este encontrado apenas na estação Brás. 

 

De acordo com a pesquisadora, não há controle do que será vendido em cada um dos pontos comerciais; as questões de alimentação não são levadas em conta nos critérios de concessão, e fica a cargo do comerciante decidir os produtos ofertados. 

 

Promoções de salgados. Foto cedida pela pesquisadora

 

Pelos baixos preços, menor perecibilidade e popularidade entre o público, os alimentos ultraprocessados são os escolhidos para compor as vitrines. “Com esses dados, é interessante que o poder público pense formulações de intervenções, para mudar esse cenário através de políticas públicas, vendo a saúde pública também no contexto dos transportes públicos”, completa.

 

Direito e acesso

“A oferta de alimentos no Metrô é um serviço secundário, onde o primário é o transporte. Mas, uma vez que há essa proposta alimentar, que seja de uma maneira segura e que garanta também os direitos e respeite a autonomia dos usuários. Trata-se de um espaço público, administrado pelo governo do Estado de São Paulo, o que amplia a importância do estudo."

 

Para ler na íntegra a matéria do Jornal da USP, clique aqui. 

 

*Artigo publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva, disponível na plataforma SciELO. O artigo de Jessica Vaz Franco, doutoranda pela FSP, conta também com autoria das pesquisadoras Mariana Tarricone Garcia, Daniela Silva Canella, Iara da Rocha Louzada e Cláudia Maria Bógus, do Grupo de Pesquisa em Promoção da Saúde e Segurança Alimentar e Nutricional, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

 

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