Na semana passada o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou um estudo que confirmava a tendência nacional de esvaziamento do transporte público e a crescente preferência por carros e motos para o deslocamento das pessoas nas cidades brasileiras. O documento apontava para a degradação e a possível "morte" do transporte coletivo no Brasil se governos, empresas e sociedade não conseguissem pactuar um novo modelo de contratação e de financiamento do transporte urbano.
Ontem, 12 de junho, recebemos um alerta do arquiteto e urbanista Luan Rusvell, nosso parceiro em Teresina, sobre o agravamento da crise de transportes lá na capital piauiense. Rusvell, que também é assessor popular pelo Direito à Cidade de Teresina, explicou em entrevista ao podcast Expresso Mobilize, como está o panorama atual visto nas ruas da cidade, com poucos ônibus, sem horários definidos e com muitos carros fazendo o transporte informal.
O arquiteto lembra que os problemas nos transportes de Teresina já são antigos, porque a cidade é atendida basicamente por linhas de ônibus, já que o metrô da capital piauiense atende apenas um setor do conglomerado urbano no entorno da cidade. Mas, segundo Luan Rusvell, o pior momento dessa crise no transporte público em Teresina começou de fato em março 2020, a partir do decreto municipal que suspendeu as gratuidades e a meia passagem de estudantes. Desde então, explica Rusvell, a situação foi gradativamente piorando, e agora vive-se o momento de maior degradação do transporte público. Nesta semana várias estações dos corredores de ônibus Inthegra foram depredados, em uma ação que parece ter sido organizada.
Rusvell critica os investimentos que foram realizados pela Prefeitura nos últimos anos, no chamado projeto Inthegra, que pretendia melhorar a eficiência dos ônibus com uma série de terminais e corredores exclusivos, mas que "não correspondiam exatamente ao que a população necessitava e pedia. "A gente pedia claramente uma reforma na tarifa de ônibus do município, e isso não nunca foi atendido. Pedíamos a climatização dos ônibus, que é uma prioridade da população, mas que também não foi atendido...E a Prefeitura acabou gastando centenas de milhões de reais na construção de oito terminais de ônibus e vários quilômetros de corredores exclusivos, que são infraestruturas importantes, mas que no geral não era o que a população esperava", explicou o ativista.
Com a perda da qualidade e a tarifa elevada para a renda dos usuários (R$ 4,00), o resultado foi a redução no número de passageiros. Dados da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) indicam que nos últimos anos ocorreu uma redução de 60% no número de usuários do transporte público em Teresina.
A equipe do Mobilize tentou ouvir a Prefeitura de Teresina. Fizemos contato com o gabinete do prefeito José Pessoa Leal e também a com a sua Secretaria de Comunicação, mas não fomos atendidos.
Para aprofundar a discussão, procuramos o especialista em transportes Carlos Batinga (veja entrevista), ex-secretário da área em Salvador, Natal e João Pessoa. Ele afirma que não há saída para o transnporte público em todo o país sem uma decisão política do governo federal que permita a reorganização e a definição de novos modelos de financiamento dos sistemas de transportes nos municípios brasileiros.
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