Dados biométricos de ciclistas ajudam a projetar ruas mais seguras

Pesquisadores da Pensilvânia (EUA) analisaram os níveis de estresse de quem pedala em vias de tráfego intenso para classificar áreas de maior potencial de acidentes

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Fonte: Canaltech  |  Autor: Gustavo Minari  |  Postado em: 04 de agosto de 2021

Óculos especiais rastreiam os movimentos do ciclis

Óculos especiais rastreiam os movimentos do ciclista

créditos: Thomas Orgren//University of Pennsylvania

Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, descobriram uma nova métrica para projetar ruas e avenidas mais seguras. Eles utilizam dados biométricos (aqueles baseados na medição de características físicas e comportamentais) de ciclistas para classificar quais áreas urbanas têm potencial mais elevado de acidentes. Para isso, eles têm analisado os níveis de estresse dessas pessoas em regiões com tráfego mais intenso.

 

Atualmente, a instalação de semáforos e faixas de pedestres depende do número de pessoas que passam pelo local, da quantidade de acidentes e atropelamentos naquela região, por exemplo. Segundo os cientistas, essa abordagem reativa é falha, pois não considera a intenção do usuário ou a sensação de insegurança em vias públicas.

 

“Hoje temos tecnologia, ciência de dados e a capacidade de estudar a segurança de maneiras que não tínhamos quando o campo da segurança de transporte nasceu. Não precisamos ser reativos no planejamento de sistemas de transporte seguros; em vez disso, podemos desenvolver maneiras inovadoras e proativas de avaliar a segurança de nossa infraestrutura”, comenta a professora de mobilidade urbana Megan Ryerson, autora principal do estudo.

 

De olho no trânsito

A equipe desenvolveu um novo sistema para avaliar a capacidade de ciclistas de perceber e processar informações enquanto trafegavam pelas ruas da Filadélfia. Os cientistas observaram mudanças na carga de trabalho cognitiva e no estresse em 39 pessoas que usavam bicicletas na região central da cidade.

 

Os voluntários utilizaram óculos de rastreamento ocular equipados com câmeras especiais voltadas para dentro e para fora e um giroscópio capaz de coletar dados de movimento dos olhos e da cabeça com uma frequência de aproximadamente 100 vezes por segundo. O trajeto escolhido alternava entre locais com ciclovias protegidas e áreas com trânsito intenso de veículos.

 

Uma das principais descobertas do estudo é que, em locais com altos índices de acidentes, a resposta biométrica indica um aumento no estresse e na carga de trabalho cognitiva. “Se o estímulo cerebral de uma pessoa é alto, isso não significa necessariamente que ela vai bater, mas mostra que a pessoa é menos capaz de processar novas informações e reagir adequadamente, aumentando as chances de acidentes”, explica Ryerson.

 

Estresse em comum

Durante os testes, os pesquisadores descobriram que regiões urbanas com trânsito mais estressante causavam o mesmo impacto cognitivo em ciclistas menos confiantes e também nos mais acostumados com o trajeto. Segundo os cientistas, esse resultado mostra que o design da infraestrutura viária não depende do nível de experiência do usuário.

 

“Mesmo que você seja um ciclista mais competente do que eu, ainda temos perfis de estresse e carga de trabalho muito semelhantes enquanto atravessamos a cidade”, diz Ryerson. 

 

“Nossa descoberta de que a segurança e o estresse são uma função do projeto da infraestrutura e não do indivíduo é uma mudança de perspectiva para a comunidade de segurança no transporte”, completa.

 

 

Nível de estresse não depende da experiência do ciclista em áreas de trânsito intenso. Foto: Reprodução/University of Pennsylvania

 

A ideia agora é ampliar o estudo para outras regiões da cidade, intercalando trechos com trânsito caótico, onde ciclistas e pedestres dividem o espaço com veículos, e áreas com ciclovias modernas, projetadas para dar segurança e mobilidade a usuários eventuais ou que utilizam a bicicleta como principal meio de transporte.

 

“A pandemia de covid-19 encorajou muitos de nós a caminhar e andar de bicicleta para o trabalho ou recreação. Infelizmente, também trouxe um aumento no número de acidentes. Devemos projetar proativamente ruas mais seguras e não esperar para contar mais fatalidades no trânsito”, encerra a professora.

 

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