Em 2017, ainda antes da pandemia, o Centro de Apoio 2 do bairro Alphaville, em Santana de Parnaíba (SP), enfrentava uma crise, com a saída de vários comerciantes que operavam na área. Havia muitos imóveis vagos e as ruas do centro eram diariamente ocupadas por carros que ali ficavam estacionados, todos os dias. Ante essa crise, a saída foi buscar um diferencial no redesenho urbano da área, explica o arquiteto e urbanista Rafael Tissi, diretor técnico do Centro de Apoio.
"Fizemos uma análise dos problemas e nosso diagnóstico indicou que a fase de atrair as empresas por meio de benefícios fiscais tinha acabado. E vimos que a solução seria, urgentemente, voltar à origem da função social do centro, que é dar apoio aos moradores de Alphaville", lembra o arquiteto.
A estratégia adotada procurou repensar as ruas, de forma a priorizar a circulação e o desfrute das áreas livres por pessoas a pé. E um dos primeiros pontos foi a necessidade de adequar toda a infraestrutura às normas de acessibilidade, em especial a NBR 9050. A meta era garantir a acessibilidade a todos nas ruas e também no nível térreo das edificações, onde ficam as lojas.
Outro desafio era a gestão do uso dos espaços pelos carros. Adotou-se um sistema de estacionamento em vagas definidas por um período máximo de 30 minutos, com a redução dessas vagas e o reaproveitamento dos espaços para a criação de praças para a permanência das pessoas.
"O que tínhamos era asfalto puro e simples, não havia divisão para o pedestre, não tinha nenhuma passagem para circulação a pé. Era a preferência total ao veículo...Então, nós resolvemos criar essas áreas em algumas ruas que tinham uma função menos importante na circulação de veículos e transformá-las em em ruas exclusivas pra pedestre", lembra Rafael Tissi. O objetivo era "trazer de volta a essência do centro de apoio, que é um centro de comércios e serviços e também, de trabalho, para evitar os grandes deslocamentos", completa o arquiteto.
A mudança trouxe mais tranquilidade e mais vida social ao centro, que é um dos poucos pontos de encontro existentes na região. Explica-se: Alphaville é um enorme empreendimento, implantado nos anos 1960 a 1980 nos municípios de Barueri e Santana de Parnaíba, região oeste da Grande São Paulo, com áreas de escritórios, centros logísticos e vários condomínios residenciais de alto padrão. E algumas dessas áreas residenciais estão muito distantes da cidade consolidada.
Área de convivência: mobiliário, floreiras e mesas Foto: Rafael Tissi
A comunidade aprovou o resultado, embora tenha resistido muito durante o processo de discussão do projeto. "As pessoas ficam muito habituadas ao que elas já conhecem, em seus ciclos de ir e vir. O fechamento das ruas, por exemplo, gerou algumas reclamações por parte de pessoas que antes usavam as vias como estacionamento. E eram ruas de baixa qualidade, que não tinham nem espaços para calçadas e nem de estacionamento regular. Então, nós tivemos que firmar nossa posição, com o regulamento debaixo do braço, e explicandon que isso está sendo feito em outros países e em outros lugares aqui do Brasil também. E nas assembleía com a comunidade nós tivemos aprovação unânime.
O projeto trabalhou com uma pavimentação de blocos intertravados de concreto, tanto como opção estética como também uma forma de diferenciar o espaço onde os pedestres têm prioridade total. É também uma opção de segurança, porque o tipo de pavimento, com suas juntas, inibe a velocidade excessiva.
E, explica Rafael Tissi, muita gente que inicialmente não não via o projeto com bons olhos, passou a achar muito melhor depois que foi executado. "A qualidade do espaço, a segurança do pedestre, fez com que as famílias começassem a frequentar mais a área. No final da tarde e nos finais de semana muita gente está se reunindo nesse calçadão, utilizando isso de uma forma muito mais interessante".
Quando chegou a pandemia veio toda essa informação de que para os restaurantes servir ao ar livre é mais seguro e isso também foi uma solução para os estabelecimentos, que colocaram suas mesinhas e cadeiras ao ar livre.
O projeto ainda não está concluindo e se desenvolve em três fases. As intervenções foram iniciadas em 2018 com o fechamento de algumas ruas. A fase dois também estava planejada para essa época, mas somente foi possível iniciar as obras em agosto de 2020, já durante a pandemia, quando a maior parte dos pontos comerciais estava fechada.
Fase 3: hoje e no futuro
A terceira fase do projeto envolve uma rua externa, que dá acesso ao bolsão de estacionamento do centro de apoio. A ideia é construir uma calçada com acessibilidade, de forma a criar um mini boulevard. Mas, a implantação dessa etapa depende uma decisão da prefeitura de Santana de Parnaíba, para regular o trânsito na área."Nós havíamos combinado essa alternativa com a prefeitura, mas com a mudança da gestão municipal, a área de trânsito resolveu adotar duas mãos de direção na via, o que impede finalização dessa última etapa", explicou Tissi. Em tempo: o projeto foi elaborado por Rafael Tissi, com supervisão da obra de Vanessa Martins e execução da obra pela empresa Conpavim.
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