Um estudo preliminar para adoção do transporte de passageiros por trens como alternativa para a mobilidade regional no norte de Santa Catarina foi iniciado pela Prefeitura de Joinville. A ideia é utilizar a atual linha férrea, que passa pela área urbana da cidade e também por outros municípios vizinhos, em um modelo compartilhado com os trens de carga.
Segundo o secretário de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável de Joinville, Marcelo Virmond Vieira, haveria a necessidade de instalar estações e desvios para operar o transporte, mas sem custos com os trilhos porque seria usada a linha férrea já existente. O desafio é o compartilhamento do espaço com os trens de carga.
Para que o projeto siga adiante é necessária uma autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), do Ministério dos Transportes e da empresa concessionária que hoje opera a linha férrea.
No mês passado, em visita à cidade, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, recebeu um documento do prefeito Adriano Silva (Novo) com o pedido de apoio para autorização pela concessionária do uso da malha ferroviária para o transporte de passageiros.
Viabilidade
Segundo o secretário de planejamento de Joinville, se o município receber a sinalização positiva das autoridades, tem início a segunda fase de estudos de viabilidade técnica e econômica. Seriam calculadas as demandas do trecho, volume de passageiros, custos de tarifa e operação para entender se há realmente uma viabilidade para o projeto.
"Sendo realista, em um horizonte de quatro a cinco anos estaríamos operando. (...) Sempre foi um sonho, mas agora tem um percentual de realidade bem maior" avalia o secretário.
Vieira aponta que o aumento na confiança aconteceu porque os municípios vizinhos e o estado começaram a trabalhar juntos para promover a integração regional. O estudo para transporte de passageiros por trens, por exemplo, inclui a utilização da linha férrea de Araquari, Guaramirim, Jaraguá do Sul, São Francisco do Sul e Schroeder.
"Esses deslocamentos intermunicipais, que já são uma realidade no dia a dia de carro na rodovia, com trânsito e demora, poderiam ser feitos no conforto de um veículo extremamente seguro e com internet. Você pode viajar estudando, trabalhando, tendo lazer, fazendo uma refeição. Então, o ganho em qualidade de vida é muito grande", aponta Vieira.
A ideia de usar os trilhos de trem não é nova. Estudos anteriores visando o aproveitamento da infraestrutura com finalidade turística após a conclusão do contorno ferroviário já foram feitos.
As obras paralisadas em 2011 previam a criação de um novo traçado para os trens de carga fora da área urbana da cidade – os trilhos antigos seriam usados para o turismo. No entanto, não há previsão de conclusão, já que o investimento está estimado em mais de R$ 400 milhões.
Trilho de trem na região sul de Joinville. Foto: Patrick Rodrigues/A Notícia
Aspectos positivos
A especialista em infraestrutura de mobilidade urbana e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Joinville, Renata Cavion, é uma defensora do sistema ferroviário e vê como positiva a retomada de um modelo de transporte de passageiros que já foi muito importante para o desenvolvimento da cidade no passado.
"A inserção desse novo modo de transporte tende a ser positiva porque se almeja a reorganização dos fluxos. Isso significa que a inserção desse modal vai diminuir a sobrecarga que a gente tem no modo rodoviário. Mas para isso é fundamental que ele seja integrado à demanda que já existe", ela explica.
Cavion aponta alguns aspectos positivos na implantação do transporte de passageiros por trens: a velocidade dos deslocamentos; o impacto ambiental, porque os trens emitem menos poluentes do que os veículos motorizados, e a ocupação do solo, com tendência de valorização das áreas no entorno do trilho.
Por outro lado, a especialista destaca a necessidade de garantir a segurança do sistema e dos veículos que vão circular próximos da ferrovia. E ainda ressalta que o levantamento de dados é fundamental no projeto de implantação para entender os deslocamentos que acontecem na região, por exemplo.
"Ter esse estudo de quantidade de pessoas, motivo e horário de viagem entre essas cidades é fundamental para conseguirmos ver o quão eficiente e a contribuição que pode trazer não só para Joinville, mas para toda a região", indica a especialista.
Na visão da professora da UFSC, a criação de uma estrutura urbana regional também oferece às pessoas uma liberdade maior para que escolham onde querem morar, trabalhar e estudar. Com uma opção de transporte de passageiros por trem, torna-se possível o deslocamento entre as cidades de uma mesma região com mais facilidade e rapidez.
"A gente está falando de transporte, mas também de qualidade de vida, de escolhas individuais e no fim, da felicidade dos cidadãos", conclui Cavion.
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