Expresso #42: Brasil perde dois arquitetos pensadores de cidades

A morte de Paulo Mendes da Rocha e Jaime Lerner, entusiastas da cidade, do transporte coletivo, e críticos ao uso irracional do automóvel

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 28 de maio de 2021

Terminal Pedro II em S.Paulo

Terminal Pedro II em S.Paulo | Paulo Mendes da Rocha e MMBB

créditos: Foto: Nelson Kon


Nesta semana o Brasil perdeu dois grandes pensadores do ambiente construído. Ontem, quinta-feira, morreu Jaime Lerner, o arquiteto, urbanista, político e inventor de soluções para cidades. O curitibano Lerner - criador do sistema de ônibus que hoje se chama BRT - se foi apenas alguns dias depois de outro gênio, o capixaba-paulistano Paulo Mendes da Rocha. Ambos foram premiados e reconhecidos internacionalmente pelos seus trabalhos. E, igualmente, os dois lutavam para reduzir o culto ao automóvel nas cidades.


Nós, por estarmos em São Paulo, tivemos mais contato com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que em todas as entrevistas defendia o caminhar, o estar na cidade, como uma lição necessária para a formação de qualquer pessoa. E nos últimos anos Paulo se tornou um crítico ao uso irracional que se faz dos carros nas cidades.

 

Crise no transporte
Também nesta semana foram divulgados dois relatórios que reiteram a gravidade da crise que afeta o transporte público,especialmenteno Brasil. Na prática, todo o sistema de transportes coletivos parece estar em colapso. O assunto já foi tratado aqui em outras edições, mas agora achamos que temos que fazer uma reflexão mais profunda sobre o tema. Vamos começar nesta edição e prometemos seguir com o tema nas próximas edições do Expresso Mobilize.


Para começar, entrevistamos o urbanista Nazareno Stanislau Affonso, diretor do Instituto MDT, o Movimento pelo Direito ao Transporte para Todos. Ele fala um pouco sobre os motivos que afastaram as pessoas do transporte coletivo, processo que não é de hoje, mas começou já na primeira década do milênio. E destaca os subsídios invisíveis com os quais os governos estimularam o uso do transporte individual - carro e moto, principalmente.

 


Nazareno, do MDT Foto: Arquivo pessoal


Nazareno acredita que a discussão sobre esse problema precisa sair do ambiente especializado e chegar a toda a sociedade. E ele defende a ideia de que, tal como a saúde pública, o transporte urbano necessita de um sistema único de mobilidade, que tenha regulamentação nacional, instâncias próprias para a definição de políticas e, acima de tudo, um fundo, com recursos públicos destinados  exclusivamente a planos, novos projetos e ao funcionamento do transporte.


A ideia de um sistema único de mobilidade ainda não é um consenso, mas a maior parte dos especialistas no tema já concorda que o transporte público precisa encontrar novas formas de sustentação, além da passagem paga pelos usuários. Entre as organizações que têm trabalhado para essa meta está o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Nesta semana o Idec encaminhou ao Governo Federal uma carta com algumas recomendações para reorganizar os sistemas de transportes e também para adequar a operação dos ônibus a este momento de riscos com a pandemia de Covid 19. Para saber mais, entrevistamos Rafael Calábria, da área de mobilidade do instituto.

 


Rafael Calábria, do Idec Foto: Arquivo Idec


O especialista do Idec explicou que o setor de transportes urbanos no Brasil se desenvolveu na segunda metade do século 20 apoiado quase que exclusivamente em usuários de baixa renda, que usavam os ônibus por não terem outras alternativas, Era a chamada  "demanda cativa". Mas, quando surgiram possibilidades de financiar uma moto ou usar um carro de aplicativo, essas pessoas também viram a chance de deixar o ônibus lotado.


E agora, com a pandemia, esse ciclo vicioso - menos passageiros, mais aumento de tarifas - foi agravado e exigiria uma ação dos governos, especialmente do governo federal, o que não aconteceu. No ano passado, apenas os empresários se mexeram e pediram socorro, explicou Calábria, o que gerou uma certa desconfiança de que esse "chororô" fosse somente uma forma de defender seus interesses,  em uma ação meramente corporativa.


O representante do Idec acredita que esse debate deva ser tomado nas mãos pela sociedade, mas especialmente pelos municípios, que hoje mais sofrem com a crise porque são os responsáveis pela manutenção dos sistemas de transportes. O caminho seria a constituição de uma política nacional para o setor. O assunto tem outros nós - como a criação de um fundo para financiar o transporte, ou uma nova regulação para os contratos de concessões, ou ainda como incluir os aplicativos e o transporte sob demanda no sistema de mobilidadade...além da tarifa, que hoje - em média - consome 1/5 do salário mínimo. Vamos seguir com o tema nas próximas edições.

 


Silvia Stucchi, do Corrida Amiga


Dia do Brincar
Mas, passando para outro assunto, hoje, 28 de maio, é o Dia Mundial de Brincar. E também hoje está sendo lançado um guia com uma série de exercícios e práticas pedagógicas para a formação de crianças e jovens em assuntos relacionados à cidade, mobilidade urbana e ao uso dos espaços públicos. A iniciativa é da organização Corrida Amiga e para falar sobre a nova publicação nós chamamos a nossa parceira Silvia Stucchi, diretora do Corrida Amiga, que coordenou esse trabalho de estímulo a brincar nas ruas, nas praças. Para saber mais e baixar a publicação vocês podem consultar o link que está aqui na página do Expresso Mobilize. Ou então, acessar diretamente a página do Corrida Amiga no endereço corridaamiga.org.

 

Outro toque: Estão abertas até 31 de julho as inscrições para o II Concurso Mobilize de Ilustrações. O tema é a mobilidade urbana depois da pandemia e desta vez temos  também uma categoria infantil. Para saber mais acesse o mobilize.org.br, veja o Regulamento e ponha a sua criatividade em uma imagem. 

 

Ouça o Expresso #42

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