Alemanha investe pesado na formação de especialistas em ciclismo

Sete cátedras na área de transporte por bicicleta, com apoio de 8,3 mi de euros, foram criadas no ano passado em universidades alemãs. É mais do que se vê na Holanda...

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Fonte: Politico  |  Autor: Politico/ Mobilize (tradução)*  |  Postado em: 26 de abril de 2021

Ciclista usa ciclovia temporária este mês em Berli

Ciclista usa ciclovia temporária este mês em Berlim

créditos: Bloomberg

A Alemanha está abrindo caminho para os ciclistas - não apenas nas ruas, mas nas universidades. No ano passado, o país destinou cerca de 8,3 milhões de euros para financiar sete cátedras na área de transporte por bicicleta, com cursos ministrados em Berlim e em outras cidades. 

 

A medida é parte do esforço alemão por cumprir as metas climáticas e impulsionar o transporte sustentável. Passado um ano, a iniciativa já mostra seus primeiros resultados.

 

O objetivo, segundo o governo alemão, é “consolidar o tráfego de bicicletas na pesquisa e no ensino - desde o planejamento da infraestrutura, à gestão da mobilidade e a uma legislação favorável ao ciclismo”. Entre as tarefas dos professores graduados está desenvolver mestrados especializados em suas faculdades e universidades e aindacoordenar o acesso de futuros candidatos ao doutorado.

 

Sobre a decisão que permitirá ao país fazer uma transição para um tráfego mais sustentável, ativistas e acadêmicos dizem porém que a medida chegou com atraso à Alemanha.  

 

Heather Kaths, uma das pesquisadoras que assumiu seu cargo no início deste mês na Universidade de Wuppertal (Bergische Universität Wuppertal), levanta a questão: “A primeira pergunta que devemos fazer é por que [o estudo do tráfego de bicicletas] foi tão sem importância por tanto tempo”. Ela mesma dá a pista: "É que a poderosa indústria automotiva da Alemanha teve uma forte influência no cenário de pesquisa nos últimos 70 anos”. 

 

Mas, para Kaths, o interesse crescente no potencial da ciclomobilidade vem mudando essa relação de forças, e isto se evidencia no atual boom de publicações e coleta de dados relacionados à bicicleta.

 

Outra explicação para a maior vontade política de apoiar a pesquisa da mobilidade com bicicleta é que esta acompanha o gigantesco empreendimento colocado ao governo alemão de banir o motor a combustão e abraçar opções de transporte ecologicamente corretas.

 

“As bicicletas são a chave para uma reviravolta na política de trânsito”, afirma Angela Francke, que detém o novo cargo de professor de ciclismo na Hochschule Karlsruhe: “Se quisermos cumprir nossos objetivos climáticos, o tráfego de bicicletas nas cidades constitui um pilar importante.”

 

Financiar o estudo de mobilidade com bicicletas ajudará a capitalizar o potencial deste modal para cumprir as metas verdes do país, acrescentou Francke, apontando que as cidades precisarão de especialistas para ajudá-las a expandir rapidamente a infraestrutura de ciclismo.

 

Professores de ciclomobilidade

As novas cátedras colocam a Alemanha à frente do pelotão quando se trata de levar a sério a pesquisa do ciclismo. Mesmo na Holanda - o laboratório europeu para todas as experiências com mobilidade urbana - as universidades ainda não estabeleceram diplomas acadêmicos especializados, mesmo que estejam ativamente reunindo conhecimentos e coletando dados.

 

“O ciclismo tem sido e geralmente faz parte da pesquisa, mas não é rotulado como pesquisa de‘ ciclismo’”, explicou Marco te Brömmelstroet, diretor acadêmico do Instituto de Ciclismo Urbano da Universidade de Amsterdã. O instituto, fundado há cerca de seis anos, facilita projetos interdisciplinares com foco no ciclismo e atualmente está trabalhando na criação de cursos de especialização.

 

Na Alemanha, os novos professores deverão capacitar uma nova geração de planejadores urbanos e os chamados sociólogos e psicólogos do trânsito, que estudam como e por que as pessoas usam o espaço viário. A investigação envolve coleta de dados sobre hábitos de pedalar, comportamento nas vias e utilização de ciclovias, além do estudo de planejamento e concepção de redes de ciclomobilidade.

 

Mulheres 

Até agora, cinco das sete cátedras foram preenchidas. Destas, quatro são ocupadas por mulheres. A Associação de Ciclistas Alemãs (ADFC) comemora: “No setor de transportes, as mulheres estão fortemente sub-representadas. E sabemos que as necessidades de mobilidade de mulheres e homens, jovens e idosos são diferentes”, disse Stephanie Krone, especialista em transporte do ADFC. 

 

Nessa nova modalidade de ensino, os professores abordam o tema da bicicleta de diferentes ângulos, de acordo com suas bagagens acadêmicas. 

 

Kaths, por exemplo, que tem formação em engenharia civil, desenvolveu ferramentas de simulação que ajudam os planejadores de cidades a projetar redes de ciclismo. A ideia, segundo ela, é projetar uma infraestrutura “que seja eficaz e crie um ambiente seguro e atraente para os ciclistas”, levando em conta por que, como e para onde os usuários das ciclovias se deslocam.

 

Martina Lohmeier, professora de ciclismo alocada na Hochschule RheinMain em Wiesbaden, trabalhou anteriormente como engenheira de planejamento para municípios e consultorias. Ela quer se concentrar nas ciclovias existentes e estudar “por que elas não estão sendo usadas, embora sejam realmente boas em termos de planejamento e infraestrutura”. Como parte de seu curso, os alunos são enviados a vários pontos na cidade para desenvolver soluções de tráfego para trechos de ruas onde diferentes meios de transporte entram em conflito.

 

Para Francke, uma especialista em psicologia do trânsito com formação em economia, uma das principais questões a serem respondidas é: “O que [as pessoas] necessitam para pedalar por curtas distâncias com mais frequência?” Sua pesquisa examinará como os ciclistas e outros usuários das vias percebem a segurança de “diferentes soluções de infraestrutura” e como isso influencia seu comportamento.

 

*Traduzido por Regina Rocha/Mobilize, de artigo escrito por Antonia Zimmermann, no site Politico.eu

 

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