Em todo o país, o transporte público coletivo sofreu uma redução média de 40,8% no número de passageiros em um ano, e diminuição de 20,8% na oferta do serviço, para evitar aglomerações. É o que revela o levantamento "Impactos da Covid-19 no transporte público por ônibus", divulgado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).
Nessa radiografia da atividade, a conclusão é que a existência futura do serviço pode estar comprometida, mesmo com o retorno à normalidade. E que permanecem as ameaças de novas interrupções, como já vem ocorrendo em várias cidades brasileiras.
Na visão do setor, o prejuízo acumulado de R$ 11,75 bilhões no período de março de 2020 a fevereiro de 2021 também é decorrente da falta de medidas de socorro emergencial específicas por parte do governo federal. Como se sabe, o projeto de auxílio emergencial de R$ 4 bilhões ao transporte público (PL 3364/20) foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro no final de 2020 e confirmado pelo Congresso no final da semana passada.
Segundo o levantamento, em razão dos prejuízos com a redução da demanda, desde março do ano passado 18 empresas operadoras e três consórcios operacionais interromperam a prestação do serviço, considerado essencial.
Os dados motram ainda que, desde o início da pandemia, 78 sistemas de transportes urbanos enfrentaram paralisações - foram 182 greves, manifestações ou protestos, apurou o estudo.
Prejuízos e paralisações
O monitoramento realizado pela NTU revela que os impactos negativos da pandemia foram além dos prejuízos financeiros. Destacam-se a interrupção da prestação dos serviços em vários sistemas, demissões de trabalhadores, intensificação da quantidade de paralisações em razão do não pagamento de salários e benefícios, e a insatisfação da população com a redução/interrupção da oferta do transporte.
Com queda de 80% na demanda de passageiros no início da pandemia, e agora queda em torno de 40% na média nacional, e sem ações específicas de apoio, as empresas operadoras alegam que contaram apenas com medidas de suspensão de contratos de trabalho e redução de salários, tal como os demais setores da economia.
Segundo dados do Painel do Emprego da Confederação Nacional do Transporte (CNT), a flexibilização trabalhista não foi suficiente para frear a perda de 66.057 postos de trabalho no ano de 2020 em todo segmento de transporte coletivo urbano.
Com o veto do auxílio emergencial, o setor alerta que vai precisar de uma solução definitiva que passa pela adoção, por parte do poder público, de um novo marco legal para organizar e definir responsabilidades e direitos na gestão e operação do transporte público por ônibus coletivo no Brasil, bem como estabelecer um novo modelo de remuneração para as empresas operadoras dos serviços.
Para ler o levantamento da NTU, clique aqui.
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