Um estudo realizado pela empresa Younder, em parceria com o Instituto Mobih, traz um panorama das dificuldades enfrentadas no dia a dia pelas mulheres brasileiras na mobilidade urbana. O levantamento foi baseado em pesquisa quantitativa on-line com consulta a 203 mulheres, no ano passado.
O trabalho contou com apoio de especialistas em tecnologia para educação do trânsito, mobilidade, diversidade e inclusão, e o objetivo foi oferecer insumos que contribuam para a promoção de mudanças positivas voltadas à parcela feminina da população.
Veja alguns resultados desta pesquisa:
* As mulheres utilizam mais ônibus e andam mais a pé dos que os homens. Além disso, uma pequena porcentagem é dona de carros e motos:
- 10% dos proprietários de motos são mulheres, enquanto 14% dos proprietários de automóveis são mulheres;
* Nos postos de trabalho em transporte e tráfego, a presença da mulher é menor:
- Entre os colaboradores da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo) apenas 14% são mulheres;
- Apenas 17% dos motoristas de transporte público no Brasil são do sexo feminino;
* Carro é opção de segurança e privacidade:
- 45% dos homens optam por ter carro porque querem ter mais controle sobre sua chegada e saída, e 40% das mulheres optam por ter carro para manter sua privacidade. Além disso, em 55% das oportunidades, o homem fica com o veículo nos lares onde há um carro.
Por trás da opção pelo carro particular, uma conclusão é que no transporte público não há o respeito devido ao público feminino. Evidência disso é que, entre as brasileiras com mais de 18 anos ouvidas na pesquisa, 97% afirmaram que já passaram por situações de assédio sexual no transporte público, e no transporte por aplicativo ou por táxi.
* Comportamento das mulheres no trânsito:
- 70% das infrações de trânsito envolvendo acidentes são praticadas por homens; já entre as mulheres, esse percentual cai para 29%;
- Das multas registradas, 70% são aplicadas para homens, e 30% para motoristas mulheres.
Mobilidade feminina
A crença na sociedade de que mulheres têm menos direitos do que os homens faz parte da construção social e cultural do país, e isso traz reflexos na mobilidade da mulher, sustenta a CEO da Younder, Claudia de Moraes. Segundo ela, “do mesmo modo que nossas avós criaram nossas mães, elas nos criaram e nós vamos criando nossos filhos. Esquecemos de questionar pois achamos normal sentir medo. Temos medo de andar pelas ruas da cidade, de usar o transporte público, de chamar um motorista homem no aplicativo...”, conclui.
Já para a consultora e palestrante em diversidade e inclusão Ana Bavon, "a mobilidade feminina deve ser pensada urgentemente como questão de ordem pública e, também, de responsabilidade privada."
Segundo Bavon, "quando analisamos a estrutura da sociedade, é fácil perceber que ela não foi pensada para todos os agentes que a compõem. Analisando as dificuldades a partir de uma perspectiva de gênero, os obstáculos começam ao sair de casa: calçadas esburacadas, ruas sem sinalização, falta de iluminação em muitos locais."
A consultora conta que, desde 2016 decidiu não utilizar automóvel e passou a usar transporte público e aplicativos: "Por isso posso listar sem medo as inúmeras questões que me atravessam antes de virar a chave do meu apartamento e sair para os meus compromissos”, diz.
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