Nesta fase vermelha da pandemia, a presença de torcedores nos estádios, sabemos, está proibida e nem seria desejável. Mas, e depois do período de restrição? Vale refletir sobre como os responsáveis pelo transporte público poderão facilitar o acesso aos jogos, sobretudo para aqueles que vêm de longe, das periferias da cidade. Esta reportagem, produzida por estudantes de jornalismo da USP, lança a discussão sobre os benefícios e também desafios enfrentados por todos os que se deslocam pelo transporte coletivo para assistir aos jogos. Leia a seguir trechos dessa matéria:
Quase um ano após a declaração da pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as arquibancadas dos estádios de futebol no Brasil continuam vazias. Com o objetivo sanitário de evitar aglomerações, milhares de torcedores não conseguiram contemplar seus times em campo por conta da suspensão dos principais campeonatos brasileiros de futebol. O Campeonato Paulista é um exemplo. Ele foi suspenso por conta da COVID-19 em março de 2020, depois de uma reunião da Federação Paulista de Futebol (FPF). A retomada foi autorizada pelo governo do Estado de São Paulo em julho, ainda limitada a algumas cidades.
Com o prolongamento de altos índices de contaminação no país, a miragem de arquibancadas cheias e alvoroçadas ainda segue apenas na mente de muitos torcedores e jogadores. Essa realidade também se amplia para o transporte público. Antes da pandemia, o metrô era um dos principais modais de transporte de milhares de torcedores até os grandes estádios de São Paulo. Agora, com a quarentena, os caminhos até os estádios foram interrompidos.
Caminhos antes da pandemia
De ônibus, metrô ou trem, torcedores da grande São Paulo enfrentavam os gargalos do transporte público para prestigiar seus times em campo em tempos de normalidade. Além dos preços dos ingressos, muitos ainda tinham que arcar com as passagens do transporte, principalmente os moradores mais afastados de onde ocorriam esses jogos.
Evair Silva, que é morador de Caieiras-SP e torcedor do Corinthians, é um exemplo. A mais de 40 km de distância da Neo Química Arena, em Itaquera, na Zona Leste, ele conta sua experiência como torcedor do time durante os seus trajetos para assisti-lo jogar. “Acho que 80% das vezes que fui a um jogo em estádio utilizei o transporte público”, relata.
Evair enfrentou dificuldade de mobilidade até os estádios em vários jogos. Ele cita a partida do Campeonato Paulista de 2017, entre Corinthians e Palmeiras. “Eu não podia pegar qualquer vagão porque poderia encontrar com torcida adversária e rolar atrito”, revela.
Com horário de funcionamento das 4h40 da manhã até às 0h, muitos torcedores têm que deixar o estádio antes mesmo de o jogo terminar. Para os que moram afastados do centro metropolitano, o metrô é o principal meio de transporte para casa.
Apesar do horário limite do metrô atrapalhar o torcedor, Evair também descreve um dos pontos positivos sobre o transporte público: “A única coisa que posso dizer é que sempre tem um trem ou metrô atrás do outro, com uma diferença de 2 ou 3 minutos”. Entre os aspectos negativos, superlotação, mau funcionamento do ar condicionado, lentidão e recorrentes panes elétricas são os mais citados pelo morador de Caieiras.
De acordo com o Metrô de São Paulo, em dias de jogos noturnos em que havia a presença de torcedores nas arquibancadas dos estádios e das arenas, “a ampliação do horário de funcionamento do sistema metroviário visava atender o público nas saídas dos jogos”.
Falta integração
Mas um olhar mais atento revela que os benefícios no tráfego e no sistema de transporte acabaram se limitando ao entorno do estádio. A falta de integração com o transporte para outras regiões da cidade cria gargalos importantes para o deslocamento de torcedores e de moradores de outros bairros, inclusive na própria zona leste.
Enrico Spaggiari, pesquisador de antropologia urbana e do esporte na Universidade de São Paulo (USP), destaca que é preciso ir além de ter uma estação de metrô que chega ao estádio ou uma reformulação viária apenas no entorno do equipamento esportivo.
Para ele, as soluções de transporte precisam estar integradas com um plano que abranja toda a cidade, inclusive zonas mais distantes.
Para ler a reportagem na íntegra, clique aqui.
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