Seguro de bicicleta está mais acessível

Com o aumento de roubos, seguros já incluem bikes a partir de 1.500 reais, com mensalidades iniciais de 24 reais. Leia entrevista com Marcelo Torres, da Kakau Seguros

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 01 de março de 2021

Bicicleta presa com uma tranca u-lock

Bicicleta presa com uma tranca u-lock

créditos: Arquivo

 

Já faz algum tempo, as pessoas que usam bicicletas nas ruas do Brasil reclamam do aumento de furtos e assaltos. Os alvos mais cobiçados costumam ser as bikes de competição, que têm maior valor, mas o problema também afeta o ciclista urbano que circula com bicicletas mais modestas, com valores entre mil e três mil reais. O problema não é apenas brasileiro e atrapalha ciclistas em todas as grandes cidades do mundo: exemplos são Nova York, Amsterdã, Paris e Londres, entre tantas outras metrópoles.


Na Europa, esse tipo de crime cresceu vertiginosamente com a chegada da pandemia e com os estímulos dados por governos para a compra ou reforma de bicicletas. No final de 2020, a seguradora britânica Direct Line Insurance divulgou um estudo sobre o número de bikes furtadas ao longo do ano e chegou à cifra de 113 mil em todo o Reino Unido, dos quais cerca de 32 mil entre agosto e outubro. Parece muito, mas no ano passado, 14,5 milhões de bicicletas foram vendidas na Inglaterra.


Não há estatísticas seguras sobre o número de furtos e roubos no Brasil, mas em 2020 apenas na cidade de São Paulo, entre janeiro e outubro, a polícia registrou cerca de 10 mil furtos e roubos de bicicletas, ou mais de uma bike por hora. O número deve ser maior porque uma parte desses crimes sequer chega ao conhecimento das delegacias. Assim, nos últimos anos surgiram vários seguros para bicicletas e ciclistas, mas a maioria é voltada para bikes com valor acima de três mil reais, o que elimina grande parte das pessoas que utilizam bicicletas simples - com preços entre mil e dois mil reais - para circular nas cidades.


Felizmente, algumas empresas desenvolveram seguros para atender a uma faixa mais ampla bicicletas e para compreender como funcionam esses serviços, conversamos com Marcelo Torres, diretor da Kakau Seguros
, uma das primeiras startups a comercializar apólices para esse segmento de "bicicletas de entrada" no Brasil. Especialista com larga experiência em seguros, Torres explicou que o interesse por esse segmento já nasceu na fundação da Kakau, em 2017. "Entendemos que a bicicleta é uma forma de transporte muito amigável para as cidades, especialmente para os deslocamentos entre 5 km e até 10 km". Quando criamos a empresa pensávamos em oferecer seguros para celulares e tablets, notebooks e para bicicletas e afins...E com o seguro, a pessoa pode sair mais tranquila para a rua, ou para a trilha e, caso ocorra algum acidente, um furto, um roubo, ela terá assistência e será indenizada...", explicou Torres em sua entrevista ao Mobilize.

 

                                  Marcelo Torres, da Kakau Seguros Foto: Arquivo Pessoal

Quando a empresa decidiu criar o seguro de bikes já havia uma ideia de valores?
Desde o início, imaginamos criar seguros de bicicletas que custassem de mil a cinco mil reais, no máximo, pensando nas pessoas que usam a bike para ir ao trabalho, à faculdade, para passear, mas nos surpreendemos com a demanda por ciclistas esportivos, que treinam e participam de competições. Daí, tivemos que esticar o limite de valor porque esse público usa equipamentos mais caros. Depois, veio essa valorização do dólar e a pandemia, que aumentou ainda mais a procura por bicicletas, tanto as de transporte como as esportivas, porque as pessoas passaram a buscar formas de se exercitar...Então, o seguro tem sido procurado por pessoas que nunca andaram de bicicleta e que agora - na pandemia - querem treinar e experimentar, até para competir...Dai, hoje o nosso seguro atende bicicletas de 1.500 a 75 mil reais...


É possível falar em um valor médio de bicicletas seguradas?
A nossa média está em torno de 7.500 reais, considerando que temos muitos clientes com bicicletas que custam quarenta, setenta mil reais.


E quantas pessoas já aderiram ao seguro?
A empresa nasceu como uma intermediadora, que opera com seguros oferecidos por duas seguradoras (Essor e Generali). Por enquanto, nós realizamos as vendas pela internet, usando ferramentas de marketing digital. E temos parceria em andamento com fabricantes de bicicletas que querem oferecer seguros para quem está comprando uma bicicleta. Começamos a comercializar esse tipo de seguro em 2019 e hoje temos mais de 5 mil clientes. E sabemos que no Brasil existe um mercado de quase 300 mil bicicletas em condições de contratar seguros. Isso porque para uma bicicleta muito velha é difícil estabelecer um valor.


Mas quanto custa? O seguro é acessível a qualquer pessoa?
Os planos para bicicletas que custam 1.500 reais variam de 24 a 29 reais por mês. A mensalidade média hoje está em 64 reais e provavelmente corresponde ao seguro de uma bicicleta em torno de 7.500 reais. Nós tentamos fazer um produto justamente para o público que não podia pagar um seguro e que permitisse a inclusão financeira e social. Aplicamos tecnologia para montar um sistema que reduzisse os custos. É uma plataforma que funciona com inteligência artificial e que faz toda a interação com o cliente, checa os dados e até faz a vistoria on-line. O cliente manda fotos da bicicleta, essas imagens são checadas pelo sistema e a contratação é efetivada.


O que é coberto pelo seguro?
Depende do plano. Aquele valor de 64 reais corresponde a uma cobertura de roubo e furto, de danos acidentais, um seguro de responsabilidade civil, caso o ciclista, por exemplo atropele uma pessoa, há também uma cobertura para danos em viagens, de ônibus ou de avião, e também uma assistência técnica, com guincho e um serviço de leva-e-traz. Também temos um serviço de chaveiro, caso a pessoa tranque a bicicleta acidentalmente ou alguém force a tranca, por exemplo. E caso a pessoa se acidente ou passe mal e não consiga mais pedalar, há um serviço de remoção. Para uma bicicleta de 1.500 reais, essa mesma assistência ficaria em 29 reais por mês.


E no caso de um roubo ou furto, como é calculada a indenização?
O pagamento é sempre feito pelo valor de mercado como limite máximo de indenização. Mas, se a pessoa fizer alguma melhoria na bike, por exemplo, se colocar uma roda nova, ela precisa avisar à seguradora e fazer um "upgrade" no seguro. No caso de bicicletas mais caras, às vezes as pessoas montam a bicicleta com componentes de várias marcas, e isso precisa estar registrado no momento de contratação do seguro. Há casos em que as rodas são os componentes mais caros, ou o selim é especial...Então, se a pessoa teve a bicicleta roubada ou furtada nós vamos reembolsar integralmente o valor. Se o cliente sofreu um acidente e danificou a bicicleta, nós vamos fazer os reparos. Mas isso é raro e em geral nós consideramos como se fosse uma perda total. Para tudo isso, há uma franquia de 10%, ou seja, o cliente deve arcar com 10% do valor do conserto ou de uma bicicleta nova, com um mínimo de 500 reais e um máximo de três mil, dependendo do valor da bicicleta.


Mas, e no caso de bicicletas mais rodadas, com cinco, dez anos, como é calculada a indenização?
A nossa base de dados tem informações sobre todas as marcas de bicicleta, suas peças, modelos etc., considerando a depreciação para até dez anos de uso. No momento da contratação, se um cliente lança um valor de 5 mil reais, com a marca e modelo, essa informação vai para a base e ele recebe de volta um link para enviar três fotos da bike. As fotos são analisadas para verificar se as imagens batem com as informações fornecidas pelo cliente e o contrato é aprovado. Se houver alguma disparidade, ele recebe de volta a informação sobre o erro, com a avaliação realizada pela seguradora.


Quanto tempo dura o contrato de seguro?
Hoje o contrato é de 12 meses, podendo ser renovado sem vistoria. Depois de 24 meses, a pessoa deve submeter a bicicleta a uma nova vistoria para renovação do contrato. Mas nós vamos lançar agora o seguro "on demand", que pode ser acionado e desligado quando o usuário quiser, de forma que a pessoa pague o seguro apenas durante o tempo que está realmente usando. E nós temos como acompanhar os percursos do cliente e saber a velocidade, a forma de condução da bicicleta etc. O sistema vai gerar um valor ao final de cada percurso, e o cliente paga a mensalidade gerada pelo total dessas saídas.


A seguradora tem dados sobre sinistralidade? Locais mais perigosos ou perfis de ciclistas com mais riscos?
Quando começamos, em 2019, não havia dados. O mercado brasileiro tinha apenas duas seguradoras que atuavam com bicicletas, uma muito timidamente, para grupos bem fechados, e outra com cerca de 5 a 6 mil segurados...Mas é um tipo de seguro novo, então os dados eram muito escassos e por isso tivemos que entrar com uma postura mais conservadora, mais cuidadosa. Nós fizemos algumas pesquisas com ciclistas, mapeamos os dados sobre acidentes e furtos existentes no país, mas nada muito detalhado. Não temos uma diferenciação por regiões ou por perfil de ciclistas. Temos três planos e os preços são os mesmos para qualquer região do país, idade ou perfil pessoal.


Saiba mais no site da Kakau Seguros: kakau.co



Dicas de segurança do Marcelo:

Marcelo Torres sugere alguns cuidados para evitar acidentes, furtos e assaltos:

# Capacete é sempre fundamental

# Roupas claras, faixas e coletes refletores são muito importantes, especialmente à noite

# Circular sempre nas ciclovias e ciclofaixas. Quando não há ciclovias, circular sempre pela direita

# Não circular pela contramão

# Cuidar bem da manutenção da bicicleta, especialmente os pneus e freios

# Use trancas de boa qualidade para guardar sua bicicleta, prendendo o quadro e as rodas

# Evitar sair para circular muito cedo, antes do amanhecer. Há muitos casos de roubos entre 4h30 e 6h da manhã, principalmente entre ciclistas esportivos

# No caso de sofrer um assalto, fique tranquilo e não reaja. A bicicleta não vale uma vida


Notas do Mobilize Brasil:

1. Experimentamos o chatbot AnnA, que faz as contratações e atendimentos, e notamos algumas dificuldades comuns nos sistemas automatizados. Por exemplo, o sistema não entende a palavra "bike" como sinônimo de bicicleta. E também não consegue responder às perguntas não programadas. Assim, o usuário precisa ter algum paciência até compreender como funciona a interação e entender-se com a máquina. Segundo a Kakau, "o atendimento pela chatbot AnnA é respondido na hora, via Messenger. Se a demanda exigir uma solução mais específica, ainda não programada, a resposta virá no mesmo dia, em horário comercial. E-mails também são respondidos no mesmo dia se recebidos em dias úteis e em horário comercial." No fechamento desta matéria recebemos telefonema de Diogo Russo, também diretor da Kakau, que explicou os esforços que a startup está realizando para que a chabot consiga entender a diversidade de expressões que existem nas várias regiões do Brasil. Assim, em breve a AnnA estará mais amigável...

2. Uma informação importante: seguradoras não indenizam furtos simples, mas somente "furtos qualificados" de bicicletas. Furto qualificado, segundo o Código Penal, artigo 155, é "aquele em que ocorre a destruição ou rompimento de obstáculo; abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; emprego de chave falsa ou mediante concurso de duas ou mais pessoas."


Outros seguros para bicicletas:
Argo Seguros (argo-protector.com.br)
Bike registrada (bikeregistrada.com.br)
Domini Seguros (domini-seguros.com.br)
3 Seg (bikeseg.com.br)
Porto Seguro (portoseguro.com.br/seguro-bike)
Velo Seguro (veloseguro.com)


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