Trem do Subúrbio deixa de operar em um mês, o que preocupa moradores

Início das obras do monotrilho que substituirá trens em Salvador deixa população apreensiva quanto ao custo do transporte (hoje em R$ 0,50) e aos problemas de trânsito

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Fonte: A Tarde  |  Autor: Victor Rosa  |  Postado em: 27 de janeiro de 2021

Trens do Subúrbio, em Salvador, param de funcionar

Trens do Subúrbio, em Salvador, param de funcionar dia 15/2

créditos: Reprodução/ G1

O sistema de Trens do Subúrbio, que liga os bairros da Calçada e Paripe, deixará de operar a partir de 15 de fevereiro para o início das obras de implantação do monotrilho, ou, como designado pelo governo baiano, o Veículo Leve de Transporte (VLT). 

 

Apesar da alegação de que o VLT é um sistema mais moderno, moradores da região estão preocupados com o fim do valor cobrado hoje pelos trens, que vai sair de R$ 0,50 para o valor praticado nos metrôs da capital baiana (de R$ 3,90 tarifa única e R$ 4,20 no sistema de integração com os ônibus).

 

A preocupação do preço é destacada pela cabeleireira Ana Cláudia Silva, que mora na região do Subúrbio há mais de 30 anos. Ana relata que muitas pessoas pegam o trem para se locomover dentro do próprio Subúrbio, e que o aumento do valor pode representar uma grande parte do orçamento dos moradores.

 

“Diversas pessoas pegam esse transporte [trem] diariamente, sendo que muitas saem da Calçada a pé para o seu destino, justamente porque não têm como pagar. Imagina isso na semana para o trabalhador que já tem pouco dinheiro?”, questiona a cabeleireira.

 

A paralisação do trem no dia 15 de fevereiro ocorrerá para que a via seja isolada, seccionada, colocados tapumes e se inicie a retirada da parte aérea de eletrificação da ferrovia. Em seguida, será iniciada a prova de carga da via, considerada etapa fundamental para que, no futuro, sejam fincadas as estacas, depois os pilares e, por fim, a via por onde irá circular o modal.

 

Linhas de ônibus alternativas serão colocadas para fazer o percurso coincidente, integral ou parcialmente, ao trajeto realizado pelo trem, informam as autoridades de trânsito. 

 

De forma quase simultânea à interrupção dos trens, também serão construídas as estações do VLT. Já os vagões estão sendo construídos na China e a previsão é a de que o primeiro deles seja embarcado com destino à Bahia já no próximo mês de abril.

 

Além do valor da tarifa, outro ponto destacado para a utilização dos trens é a região geográfica do subúrbio, distante de outras partes de Salvador. Segundo o representante do Movimento Trem de Ferro, Joceval Tibúrbio, “as pessoas que moram perto das ferrovias têm dificuldade de se deslocar para diversos pontos da cidade”.

 

A reportagem do Portal A Tarde entrou em contato com a Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB) para saber se outras alternativas no valor atual do trem serão oferecidas para a população, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

 

Trânsito na Suburbana

Nas redes sociais, uma moradora do subúrbio, identificada como Vick Mello, questionou como vai ficar a avenida Afrânio Peixoto, conhecida como avenida Suburbana. Vick relata que o local já apresenta congestionamento com os trens funcionando e que, sem os trens, a situação pode piorar.

 

“Sou moradora do subúrbio, como vai ser essa suburbana? Com o trem funcionando ela já trava, imagine sem os trens? Atenção secretaria de mobilidade urbana, se organizar para resolver isso”, comentou a internauta em publicação no Twitter.

 

O Portal A Tarde entrou em contato com a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), que informou que a questão relacionada ao trânsito é tratada com a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador).

 

Procurada pela reportagem, a Transalvador informou que vai continuar monitorando o fluxo de veículos na avenida. Caso necessário, as devidas intervenções serão tomadas para garantir a fluidez e a segurança viária.  

 

Protesto

Com a onda de insatisfação, o Movimento do Trem de Ferro está organizando um protesto contra o fechamento das linhas de trens e a implantação do VLT.

 

Conforme Joceval, ainda não se sabe se a movimentação vai ocorrer no dia 15 de fevereiro, quando os trens serão parados, ou antes.

 

“Estamos nos mobilizando para fazer um protesto no dia 15 ou o quanto antes. Vamos resistir até o final. O governador Rui Costa vai levar este legado horroroso para a biografia dele. Vamos continuar resistindo e mostrando à população que precisa se incorporar nesta luta”, salienta.

 

Joceval frisa que os trilhos dos trens foram renovados e que não há necessidade de trocar o modal, e sim renovar as frotas de trens já existentes. “Mas é assim, eles deixam sucateados para a população achar ruim e querer que troque os trens”.

 

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