Ana Carolina Nunes é uma das coordenadoras da Campanha Mobilidade Sustentável nas Eleições, ação que busca estimular os candidatos a vereador e prefeito a adotar ações concretas para a priorização dos transportes públicos e da mobilidade ativa - a pé e por bicicleta - nas cidades brasileiras. Nesta rápida entrevista ela faz um balanço inicial dos primeiros resultados obtidos pela campanha e aponta um desafio para os próximos anos: reduzir os acidentes no trânsito.
Quantas cidades estão participando da campanha?
Em 2020, nós temos a campanha acontecendo em pelo menos 26 cidades, com organizações da sociedade civil que estão contando com os nossos materiais de apoio e a nossa assessoria para fazer esse trabalho. Sabemos também que há ações em outras cidades, mas sem o nosso apoio direto.
É possível calcular quantos candidatos assinaram cartas-compromisso pela mobilidade sustentável?
Ainda não sabemos quantas candidaturas - entre candidatos a vereador e a prefeito - assinaram as cartas-compromisso, porque esse balanço ainda está sendo feito, mas todas as cidades que fazem parte da campanha elaboraram suas cartas-compromisso, e têm adotado diversas estratégias para conseguir as assinaturas, seja com visitas presenciais, comitês, seja via e-mail, entre outras formas de contato.
E como está a mobilidade sustentável nos programas e nos discursos dos candidatos?
Na minha percepção, a mobilidade sustentável sai mais forte destas eleições simplesmente pelo fato de haver uma atuação forte da sociedade civil, pautando esse tema, principalmente nas grandes capitais. E isso, de alguma forma acaba se refletindo também na disputa em outras cidades, localidades menores. A sociedade civil tem um papel primordial em mostrar para as candidaturas aquilo que importa para o eleitorado. Então, com certeza, essa atuação organizada, coordenada em várias cidades, ajuda a fortalecer a pauta.
Ainda há muito asfalto nas propostas dos candidatos?
Sim, mas é possível notar que a maioria as propostas das candidaturas foge desse lugar comum de só falar em expandir avenidas e construir vias para carros. E há cada vez mais candidatos tratando de infraestrutura para o transporte público, com prioridades para a mobilidade ativa, principalmente quando a gente fala de ciclovias. Tudo isso conectado com uma agenda mais ampla, de sustentabilidade nas cidades. Essa é uma questão que a gente percebe que está transpondo barreiras ideológicas e vemos propostas interessantes em programas de candidaturas em todas as matizes do espectro político.
Os programas apontam medidas para reduzir as mortes no trânsito?
Uma coisa que nos chama a atenção é que embora a mobilidade sustentável apareça nos programas, ainda que de maneira genérica, para tentar sinalizar uma intenção dos candidatos e candidatas em melhorar a qualidade de vida nas cidades, reduzir o custo do transporte ou buscar uma cidade mais sustentável, o tema da insegurança no trânsito, infelizmente, ainda é deixado de lado.
São poucos os programas em que a gente vê ou percebe alguma preocupação das candidaturas em reduzir velocidades, ou mesmo de investir em infraestrutura para diminuir as mortes no trânsito. Eu acredito que isso seja um reflexo da própria "naturalização" desse problema, como se as mortes no trânsito fossem uma obra do acaso, e justamente por isso chamadas de "acidentes", como se fossem uma consequência natural de termos tantos carros nas ruas. Esta é uma questão grave, que eu acredito que nós precisamos trabalhar nos próximos anos para criar esse senso de urgência entre as candidaturas das próximas eleições.
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