Longo tempo nos deslocamentos para o trabalho; transporte público ineficiente, com infraestrutura mal distribuída pelo território e custo alto da tarifa comparado com a renda da população. Este é o resumo do dia-a-dia enfrentado pelos cariocas.
Preocupado com esse cenário, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil)*, em parceria com a Casa Fluminense e apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), acaba de lançar o documento O Carioca e o Transporte na Cidade**, com desafios e propostas para melhorar as condições de vida na cidade na próxima gestão municipal.
A primeira constatação das organizações é de que a maioria da população no Rio mora longe das oportunidades de emprego, saúde e educação, e isso interfere muito na sua qualidade de vida. A MobiliDADOS, plataforma de indicadores do ITDP, mostra que mais de 800 mil pessoas não conseguem acessar estabelecimentos de saúde de baixa complexidade, como clínicas e hospitais, em quinze minutos de caminhada. Além do tempo perdido nos deslocamentos, pedestres e ciclistas convivem com a insegurança no trânsito devido à falta de infraestrutura para modos ativos, como ciclovias.
Transporte público precisa de melhorias urgentes
Segundo os autores do documento, a próxima gestão precisará implementar mais de 100 km de faixas exclusivas para o transporte público, para que as pessoas percam menos tempo em engarrafamentos. Essa proposta foi definida com base em estudo realizado a partir de informações de GPS dos ônibus da cidade.
O texto diz ainda que, além das faixas exclusivas, será fundamental garantir a entrega do projeto completo do corredor da Transbrasil e a prefeitura explorar outras formas de financiamento do sistema para que a tarifa paga pelos usuários não seja tão alta e onere menos o orçamento das famílias.
O documento também evidencia a necessidade de revisar os modelos de concessão e os termos do contrato de licitação do sistema de transporte público. “Essa revisão tem potencial para dar mais flexibilidade na adoção de tecnologias que permitam tornar o sistema de ônibus menos poluente e estimular a cooperação entre operadores e o poder público”, afirma Vitor Mihessen, coordenador da Casa Fluminense.
Deslocamento seguro para pedestres e ciclistas
A falta de segurança para pedestres e ciclistas também é uma prioridade a ser enfrentada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a velocidade máxima na cidade deve ser 50 km/h. A medida objetiva reduzir a ocorrência e a gravidade de acidentes.
Além de implementar a recomendação, a nova gestão pode tornar a cidade mais amigável para pedestres e ciclistas promovendo a ampliação de ciclovias, integrando o uso da bicicleta aos demais modos de transporte - como estações de BRT, metrôs e trens - e por meio da implementação de medidas para acalmar o tráfego em cruzamentos críticos.
Segundo Bernardo Serra, gerente de políticas públicas do ITDP Brasil “é fundamental que o plano diretor da cidade seja revisado e de fato implementado por meio de uma nova lei de uso e ocupação do solo que estimule o adensamento no entorno de corredores de transporte, o aumento de moradias no centro da cidade e a distribuição de oportunidades e equipamentos no território”.
A conclusão das organizações é: a cidade precisa ser repensada e gerida a partir de um esforço coordenado entre secretarias da prefeitura, governo do estado e união que promova uma cidade mais justa, eficiente e integrada com os demais municípios metropolitanos para enfrentar a emergência climática e as desigualdades sociais.
*O Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) trabalha no mundo todo com projetos e na implementação de sistemas de transporte de alta qualidade e soluções políticas para tornar as cidades mais habitáveis, equitativas e sustentáveis.
**O documento O Carioca e o Transporte na Cidade foi publicado pelo ITDP, com parceria da Casa Fluminense e apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS).
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