Expresso #20: Bikes elétricas para compartilhar. Mas só no Rio

Operação começa com 500 bicicletas eletroassistidas. Entrevistamos Mauricio Villar (Tembici), Luciana Nicola (Itaú Unibanco) e Zé Lobo, da Transporte Ativo

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Da Redação/Mobilize Brasil  |  Postado em: 05 de outubro de 2020

Bicicleta elétrica do sistema BikeRio

Bicicleta elétrica do BikeRio: pedal assistido poupa esforço

créditos: Divulgação


Nesta semana o sistema BikeRio de bicicletas compartilhadas passa a operar com bicicletas elétricas que se integram às 260 estações de bicicletas disponíveis no Rio de Janeiro para uso público.
A operação é uma iniciativa da empresa Tembici, responsável pela rede de bikes cariocas e do patrocinador, o Itaú Unbanco. São bicicletas com pedal assistido, explicou Maurício Villar, co-fundador e diretor da Tembici. Ou seja, elas auxiliam as pessoas quando os pedais "sentem" uma força maior, por exemplo, em uma subida, ou no transporte de uma carga mais pesada, ou ainda para uma pedalada de maior distância. Villar explicou que a ideia é atrair um novo perfil de usuários, em geral pessoas que usam automóveis e gostariam de passar a usar bicicletas, mas não se sentem seguras em relação ao esforço necessário.


Maurício Villar, lembrou que a empresa já havia colocado vinte bicicletas elétricas nas ruas de algumas cidades brasileiras em 2019, como parte de um projeto-piloto, para testar a durabilidade e a adequação das novas bikes aos usuários brasileiros. "Foi uma experiência que realizamos para verificar como as bicicletas elétricas funcionariam, quais componentes teriam mais manutenção e também para entender o comportamento e as exigências dos usuários brasileiros", explicou.

 

Maurício Villar, da Tembici Foto: Arquivo Mobilize


O diretor da Tembici explicou que as novas bikes estão sendo montadas na fábrica que a empresa mantém em Extrema, Minas Gerais, com a tecnologia da parceira canadense PBSC Urban Solutions, usando componentes importados e alguns produzidos no Brasil. "Com essa inovação, nós colocamos o BikeRio na vanguarda, junto com os sistemas de bicicletas compartilhadas mais avançados. São poucas cidades no mundo que contam com bikes elétricas nessa quantidade", completou Villar. 

Apesar do entusiasmo, o diretor da Tembici explicou que a empresa ainda não tem planos de expandir o sistema de bicicletas elétricas para outras cidades do país enem para outros bairros do Rio de Janeiro.
Na entrevista ao Mobilize, ele respondeu à eterna pergunta:  - Quando vão chegar às periferias? Maurício Villar explicou mais uma vez que os sistemas de bicicletas precisam ser densos, ter uma concentração, uma distância ideal entre as estações para que sejam eficientes. "As estações precisam estar distantes, no máximo, a 500 metros, de forma que as pessoas possam ir caminhando para pegar as bikes". Mas, lembrou que as pesquisas da Tembici mostram que a maioria dos usuários das bicicletas moram longe das regiões atendidas pelos sistemas: "Em São Paulo, onde as estações estão concentradas no centro expandido, quem mais usa são as pessoas que chegam de ônibus, de trem ou de metrô e que usam as bikes para completar suas viagens até os locais de trabalho."


Atrair novos ciclistas
A iniciativa da Tembici com as bikes elétricas conta com o apoio do Itaú Unibanco, organização financeira que tem dado sustentação a sistemas de bicicletas públicas em várias capitais brasileiras. A Superintendente de Relações Institucionais, Sustentabilidade e Empreendedorismo do banco, Luciana Nicola, afirma que o sistema Bike Itaú é uma das maneiras que a organização encontrou para devolver à sociedade um pouco do que a sociedade investe no banco. Ela explica que o objetivo da introdução da bicicletas elétricas é - sobretudo - atrair novos ciclistas para as ruas, em especial os mais idosos ou mulheres, que ainda são minoria nas ciclovias brasileiras. "Nós notamos, ano a ano, o crescimento no número de mulheres utilizando as bicicletas, mas os homens ainda são a grande maioria".

 

Luciana Nicola, do Itaú Unibanco: elétricas podem ampliar uso por mulheres Foto: Divulgação

 

Luciana avalia que a oferta dessas bicicletas elétricas e, especialmente, a implantação de ciclovias e ciclofaixas poderá trazer mais mulheres, mães e senhoras idosas para o pedal urbano. Ela acredita que ao estimular o uso da bicicleta o Itaú está contribuindo para reduzir as emissões de carbono nas cidades e ajude a melhorar a relação das pessoas com o espaço público. E vê o sistema de bikes compartilhadas como um instrumento concreto para demonstrar e fortalecer o conceito de mobilidade integrada nas cidades.


Mobilidade durante a pandemia
A novidade está sendo muito bem recebida pelos cicloentusiastas do Rio de Janeiro, que veem a iniciativa como mais um estímulo para o uso da bicicletas nas ruas da cidade. Para o ativista Zé Lobo, diretor da Transporte Ativo, "as bikes elétricas chegam ao Rio em um ótimo momento, não apenas pelo uso intenso que o sistema BikeRio já apresenta, mas em especial pelas novas necessidades de mobilidade colocadas pela pandemia da Covid-19. "As pessoas estão buscando opções de transporte que permitam o distanciamento social e as bicicletas são excelentes para essa finalidade, além de permitir o exercício ao ar livre sem o risco de contágios".

 

 
Zé Lobo, da Transporte Ativo Foto: Arquivo pessoal


Zé Lobo também acredita que as e-bikes podem estimular outras pessoas a "experimentar o mundo da bicicleta e conhecer, na prática, suas vantagens e benefícios", mas ainda vê com certa reserva esse estímulo ao uso das elétricas. Ele faz uma analogia com o surgimento das motocicletas, há cerca de cem anos: "No início, as motocicletas eram apenas bicicletas dotadas de um motor a combustão. Ao longo do século, elas evoluíram e as bicicletas também. Com o tempo, eu creio que haverá um distanciamento, uma diferenciação maior entre as bicicletas mecânicas e elétricas", projeta Zé Lobo.


Numa visão otimista, ele crê que se o uso intenso das e-bikes contribuir para atrair usuários de carros e motos, esse crescimento será muito benvindo. "Afinal, ciclistas elétricos e mecânicos compartilham a mesma posição na hierarquia de uso das vias e podem utilizar as mesmas infraestruturas", avalia o diretor da Transporte Ativo. Apesar disso, ele acredita que as bicicletas mecânicas, sem nenhum motor, são insuperáveis pelas suas vantagens econômicas e sociais: "As bicicletas tradicionais estarão sempre prontas para atender a qualquer chamado, sem a necessidade de encher o tanque ou ligar na tomada", resume Zé Lobo.


Bikes para entregas em SP
A Tembici e a empresa de entregas de alimentos iFood anunciaram uma parceria e criaram o iFood Pedal, projeto que busca "facilitar o acesso dos entregadores parceiros a bicicletas, incluindo as bicicletas elétricas na cidade de São Paulo. Para participar, os entregadores cadastrados no sistema iFood precisam pagar uma assinatura semanal, no valor de R$ 9,90, que dá acesso às bikes convencionais e elétricas.

 

Posto de bicicletas elétricas da iFood, em São Paulo Foto: Divulgação


Com o sistema, o entregador pode retirar uma bike convencional em qualquer estação do Bike Sampa para entregas por até quatro horas. Para uso das bicicletas elétricas, os entregadores devem pagar uma taxa adicional de R$ 2 por dia. Segundo a nota de lançamento, o iFood Pedal começará em fase piloto, atendendo a poucos entregadores, mas até o final de 2020, o projeto alcançará 500 bicicletas nas ruas de São Paulo. A ideia parece boa, porque melhora a condição ainda precária desses trabalhadores. Vamos acompanhar.

 

Ouça o podcast Expresso #20:


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