Durante décadas, a China investiu no desenvolvimento e expansão de sua infraestrutura de transporte público, incluindo sistemas de alta velocidade ferroviária, metrô e ônibus rápido. Uma nova abordagem para o transporte urbano é o "bonde sem trilhos", também conhecido como Autonomous Rail Transit (ART), que chamou a atenção da comunidade internacional de transportes quando foi apresentado, em 2017, pela China Railway Rolling Stock Corporation (CRRC), uma grande fabricante chinesa de sistemas de transporte.
O bonde sem trilhos combina as capacidades do VLT tradicional com algumas das vantagens dos ônibus. As principais desvantagens dosVLTs são a sua rigidez operacional e altos custos de investimento em infraestrutura ferroviária e de alimentação elétrica (catenárias). O novo sistema roda sobre pneus de borracha em pistas normais de asfalto e, portanto, não requer infraestrutura ferroviária. Embora isso os aproxime tecnicamente dos ônibus urbanos articulados, os bondes sem trilhos oferecem uma grande capacidade de transporte, de 300 a 500 passageiros por composição, dependendo do número de carros.
O sistema foi testado pela primeira vez em 2017, iniciando a operação comercial em 2019, nas cidades de Zhuzhou e Yibin, no sul da China . Nessas cidades, os veículos são bidirecionais (têm uma cabine do motorista em cada extremidade) e compreendem três seções com capacidade para 100 passageiros. Cada composição tem 31,7 m de comprimento, 3,4 m de altura e 2,65 m de largura, com piso baixo para facilitar a acessibilidade. Pesam 48 toneladas.
Bonde (ônibus?) sem trilhos na cidade de Zhuzhou, China. Foto: CRRC Zhuzhou Institute
Segundo a CRRC, o sistema sem trilhos é projetado para operar em corredores de 8 km a 20 km de comprimento, com estações espaçadas entre 600 e 1.200 metros, permitindo o acesso a pé em um raio de 1,5 km ao redor de cada estação. Por ser um veículo longo, é necessária uma grande folga em cada cruzamento para garantir um bom raio de curvas (cerca de 15 metros), o que limita as manobras para fugir de um congestionamento, por exemplo. Mas, tem um certo nível de flexibilidade de rota e, como o sistema usa pneus de borracha, pode lidar com gradientes mais altos quando comparado aos bondes tradicionais. A velocidade máxima é de 70 km/h, informa a fabricante.
Parcialmente autônomos, os novos veículos utilizam um sistema de direção assistida baseado em sensores, que consiste em navegação por satélite e vários sensores ópticos e de radar ao longo da carroceria principal do veículo. Na frente da cabine, um sensor óptico segue as marcas impressas no chão, como um trilho virtual que guia a composição. O motorista ainda é necessário para controlar as manobras do veículo e evitar obstáculos.
Outro item de flexibilidade é a ausência de linhas para transmissão de energia. Os veículos são movidos por baterias de íons de lítio de 600 kWh, de carga rápida, que podem ser carregadas conectando-se aos pantógrafos aéreos nas estações. O carregamento em cada estação por cerca de 30 segundos fornece eletricidade suficiente para um trajeto de 3 km a 5 km. À noite, nas garagens, as baterias são totalmente carregadas, permitindo uma autonomia de 40 km.
Segundo a CRRC, o custo de implantação da tecnologia é de cerca de 6 a 14 milhões de euros (36 a 84 milhões de reais) por quilômetro, mais baixo do que os VLTs tradicionais, principalmente devido à economia no investimento em infraestrutura. Apesar disso, os novos veículos ainda estão operando comercialmente apenas nas duas cidades chinesas e o sistema não consta ainda no catálogo da fabricante.
*Tradução e edição: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil
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