Em Brasília, mais uma avenida aberta às pessoas

No feriado de 11 de junho a avenida W3 foi aberta para o desfrute dos moradores de Brasília. Pedestres e ciclistas ocuparam a via, mas mantendo o distanciamento social

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Fonte: Brasília para Pessoas  |  Autor: Texto e fotos: Uirá Lourenço  |  Postado em: 15 de junho de 2020

Feriado de 11 de junho, pedestres e ciclistas ocup

Feriado de 11 de junho, pedestres e ciclistas na W3

créditos: Fotos: Uirá Lourenço

 

Uirá Lourenço, do Brasília para Pessoas, conta como foi sua passagem pela avenida W3, no dia em que o acesso foi liberado a pedestres e ciclistas. É a segunda via aberta às pessoas na Capital Federal depois do Eixão. E todos puderam caminhar e pedalar com calma, sem riscos de contágio pelo coronavírus.


"Um dia marcante. Andar pela W3 calmamente, ao som dos pássaros, é uma experiência única1. Sem o ronco dos motores podia-se ouvir até a conversa das famílias que passeavam. Pessoas de todas as idades caminhavam, pedalavam e descobriam uma cidade bem diferente. Os diálogos que ouvi sem esforço (que delícia o silêncio na avenida!) me deixaram otimista:


“Esse é um dia histórico. Precisava vir caminhar na W3.” [Conversa entre duas moças que acabavam de se encontrar]

“Mãe, quero uma bicicleta para vir andar aqui. Na pandemia as pessoas têm que sair de bicicleta e não de carro.” [Menina com cerca de 4 anos] 

“Esse é o ponto de ônibus onde mataram o índio.” [Pai mostrava aos filhos enquanto passavam de bicicleta pela Praça do Compromisso]


Fiquei um bom tempo parado, apenas observando o movimento de pessoas. Grupos com crianças saíam das casas voltadas para a W3 e ocupavam as pistas liberadas. A badalada do sino da igreja Dom Bosco parecia um sinal de despertar. Os moradores entenderam o recado: precisamos de mais espaço para as pessoas.

 

E nem havia grandes atrações, apenas o asfalto liberado. Fico imaginando quando a pandemia passar e as opções de lazer e comércio aumentarem: pula-pula, aluguel de bicicletas e triciclos, água de coco e lanches, pontos de descanso e leitura, palhaços e teatro para crianças.
 

 

Enquanto observava o movimento, me vinham à mente frases da Jane Jacobs2: o balé dos pedestres e a importância dos olhos na cidade. Aliás, uma cena que presenciei parecia tirada do livro. Uma mulher com quatro crianças (de bicicleta e patinete) se aproximava de uma casa na avenida. Falou que estavam com sede e queriam um copo de água. O morador respondeu prontamente da janela e disse que levaria água e refrigerante.

 

O sonho de uma cidade humanizada se renovou ao caminhar e observar a avenida apropriada pelas pessoas. A ideia de que basta dar espaço (por exemplo, liberar pistas e construir calçada ou ciclovia) e as pessoas aparecem se confirmou ontem. Não vejo a hora de a pandemia passar e ver ainda mais gente.

 

Serei frequentador assíduo e sairei com a família da Asa Norte para me divertir na W3 Sul sem carros e explorar os espaços culturais próximos, incluindo o Cine Brasília, o espaço Renato Russo, a Biblioteca Demonstrativa e a quadra modelo (308 Sul)." 

 

Vídeo de Uirá Lourenço sobre a abertura da W3 aos pedestres




1. No dia 11/6/2020 a W3 Sul abriu pela primeira vez para as pessoas, a exemplo do Eixão do Lazer. A circulação de carros e ônibus foi proibida da quadra 502 até a 516 Sul. Apenas carros de moradores da região podiam acessar a via por uma faixa delimitada por cones. A decisão do GDF de abrir a W3 para o lazer se deu pelo Decreto n° 40.877, publicado em 9/6/2020.

2. Jane Jacobs lançou o livro Morte e Vida de Grandes Cidades em 1961 com base nas observações e caminhadas. Criticou fortemente o modelo de cidade voltado ao automóvel que se consolidava nas cidades dos Estados Unidos. O livro é uma grande referência para os que pensam a cidade e lutam por ambientes humanizados.

 

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