Para compensar a queda no uso do transporte público, que em Lisboa foi de 70%, e ao mesmo tempo impedir que a poluição do ar dispare com a utilização mais intensiva do automóvel, a municipalidade da capital lusa quer implementar uma malha de ciclovias temporárias - ciclovias "pop-up", como chamam - até o início do ano escolar (em setembro).
No total, estão previstas para o início de 2021 mais 105 km de vias para a bicicleta, além de mais de uma centena de intervenções voltadas ao pedestre no espaço público, com proibição de tráfego de carros em várias ruas.
A proposta da Câmara Municipal de Lisboa para incentivar a mobilidade ativa no pós-pandemia compreende dois grandes projetos: "Lisboa Ciclável" e “A Rua é Sua”. Em seção online realizada nesta quarta-feira (3), o presidente da Câmara, Fernando Medina, disse que a expectativa é “fazer mais e mais depressa”, em favor da "transformação e humanização” do espaço público no período pós-pandemia.
Apresentação do Plano Cicloviário de Lisboa: ciclovias "pop-up". Imagem: Câmara de Lisboa
Durante a seção, Medina anunciou a construção rápida de uma rede de ciclovias passando por eixos importantes da cidade de Lisboa. A preocupação é sobretudo com a qualidade do ar: “É o momento de sermos claros. Só em Portugal, a poluição atmosférica causou a morte prematura de cerca de seis mil pessoas em 2016. Na Europa, segundo a Agência Europeia do Ambiente (AEA), esse número foi estimado em 412 mil pessoas", afirmou o autarca.
Para “dar nova centralidade à utilização da bicicleta”, e implementar os 105 km de novas ciclovias, o projeto será dividido em três etapas, explicou Medina. Até julho, se quer construir 26 km de vias "pop-up" para bicicletas. Nessa primeira fase, serão implantadas ciclovias nas avenidas da Liberdade, da Índia e da 24 de Julho, o que permitirá ligar Algés ao Parque das Nações - a totalidade do corredor ribeirinho lisboeta. Também nesta fase estão previstas ciclovias na Avenida Almirante Reis, na Alameda dos Oceanos e na Avenida do Uruguai, em Benfica.
Seis eixos estruturantes
A estratégia da cidade passa por “criar uma rede estruturante de ciclovias ligando os principais pontos e cobrindo os grandes eixos de deslocamento”. Será uma rede segura, de “seis eixos estruturantes”, garante Medina. As ciclovias serão “segregadas, para assegurar que as pessoas utilizem a bicicleta sem receio do automóvel”.
Mesmo sendo temporárias, à semelhança do que tem feito várias cidades de mundo durante a pandemia, a expectativa é “que possam transformar-se em definitivas” e que o traçado e o desenho possam ser adaptados, conforme seu posicionamento na via e os níveis de utilização registrados.
A segunda fase deve ser concluída até o início do novo ano letivo, em setembro, e prevê a construção de 30 km de novas ciclovias em artérias como as avenidas Ceuta, Marechal Gomes da Costa, de Berna, Conde Almoster, Lusíada ou a Avenida de Roma. Nessa via, na madrugada passada um grupo de ciclistas pintou uma via ciclável. Além de celebrar o dia mundial da bicicleta, o grupo quis dar “um sinal de encorajamento à câmara municipal de Lisboa” para que acelere a realização da rede ciclável da cidade.
A terceira e última fase de construção dos 105 km de ciclovias está prevista para o primeiro trimestre de 2021, com a implementação de mais de 20 km de ciclovias em artérias como as avenidas Gago Coutinho, da Torre de Belém, Helena Vieira da Silva e Álvaro Pais.
Incentivos à compra de bicicletas
O presidente da Câmara de Lisboa anunciou a criação de um fundo no valor de 3 milhões de euros para apoiar a aquisição de bicicletas em lojas do município. Esse incentivo já é válido a partir de hoje, mediante apresentação do recibo de compra da bicicleta, acrescentou. Ao apoio estatal, de até 350 euros na aquisição de bicicletas elétricas, junta-se agora este apoio municipal, disse Medina.
A cidade compromete-se ainda a apoiar a compra de bicicletas de carga, num montante que pode chegar a 500 euros. Para bicicletas convencionais, o apoio será de até 100 euros, embora, neste último caso, seja aplicável apenas a estudantes dos vários níveis de ensino.
Bicicletários
Outra medida de apoio à mobilidade ativa é a instalação, até ao final do ano, de 7750 vagas para estacionamento seguro das bicicletas. Os bicicletários serão construídos pelo município, sendo que desse total, 1700 lugares terão interface com o transporte público da cidade, e 1050 ficarão disponíveis em estacionamentos subterrâneos ou concessionados pela autarquia. Os restantes cinco mil serão instalados em escolas, clubes esportivos e outras entidades de interesse público que os solicitem.
Avenida da Igreja, na freguesia de Alvalade: nos fins de semana, parte da rua será destinada à “fruição” de residentes e visitantes Foto: Câmara de Lisboa
Mais espaço para os pedestres
Para incentivar os modos ativos também no que diz respeito aos pedestres, o programa A Rua é Sua prevê “mais de cem intervenções” que garantem no espaços seguros para as caminhadas na cidade. Calçadas serão ampliadas, e haverá tratamento paisagístico com áreas de sombra para mitigar as ilhas de calor. A Câmara contará nessa iniciativa com o apoio do comércio local, que está sendo convidado a instalar esplanadas no lugar de estacionamentos de carros. Um dos locais que passará por essa mudança é a Avenida da Igreja, na freguesia de Alvalade, onde, aos fins de semana parate da via será destinada à “fruição” de moradores e visitantes.
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