Como a pandemia está transformando a mobilidade urbana

Após a parada forçada para contenção do coronavírus, cidades do mundo voltam a se mover: com ciclovias, mobilidade compartilhada e reformas que poderão ser permanentes

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Fonte: DW  |  Autor: DW  |  Postado em: 19 de maio de 2020

Ciclovia temporária em Berlim, já com sinalização

Ciclovia temporária em Berlim, já com sinalização

créditos: Peter Boytman/Creative Commons

Foram semanas de medidas rigorosas de confinamento, mas agora em muitas partes do mundo estabelecimentos comerciais e escolas vão, cautelosamente, começando a reabrir suas portas. 

 

E já é possível ver ruas tomadas novamente pelos carros, embora ainda que haja certo controle diário de tráfego. Mas há também várias cidades do mundo que esperam tirar vantagem dessa pausa forçada pela pandemia para lançar novas formas de mobilidade positivas para o meio ambiente.

 

A intenção é reduzir as emissões de gases do efeito estufa, melhorar as condições de vida no ambiente urbano e ao mesmo tempo ajudar quem se desloca para o trabalho ou à escola a manter a distância física necessária.

 

É o caso de Bruxelas, na Bélgica: a cidade iniciou suas medidas pós-confinamento no dia 4 de maio, e rapidamente expandiu em cerca de 40 km sua rede ciclística. A autoridade regional Bruxelles Mobilité apelou aos cidadãos para que deem preferência a bicicletas nas viagens breves e "evitem congestionar o transporte público".

 

As novas ciclovias belgas são isoladas com marcas de via e barreiras de concreto. "Grande parte da infraestrutura ciclística que estamos instalando veio para ficar", explica o porta-voz da Bruxelles Mobilité. Segundo ele, ainda deve haver alguma "sintonia fina", mas as medidas temporárias estão alinhadas com a estratégia urbana para a próxima década, lançada pela coalizão socialista-verde do governo local.

 

Outras cidades estão aproveitando o estado de exceção ditado pela pandemia para experimentar alternativas aos carro particular. Em Londres, os agentes da saúde receberam acesso grátis temporário a bicicletas elétricas, como cortesia dos vendedores de bicicletas e das companhias de mobilidade compartilhada.

 

Em Milão, metrópole no norte da Itália especialmente atingida pela covid-19, as autoridades pretendem converter 35 km de ruas em mais espaço para ciclistas e pedestres, com limites de velocidade mais baixos, ciclovias improvisadas e calçadas mais largas.

 

Reformas permanentes

Algumas mudanças provisórias já acarretaram reformas permanentes. Depois que ciclovias mais largas começaram a aparecer em Berlim e outras cidades alemãs, o governo federal introduziu regras em âmbito nacional proibindo que motoristas estacionem nessas ciclovias e tornando obrigatório o espaço de 1,5 metro entre carros e ciclistas.

 

Vancouver, Denver, Budapeste, Nova York, México, entre outras, também fecharam ruas ao tráfego automobilístico e criaram ciclovias temporárias. Especialmente ambiciosa é a rede de Bogotá, na Colômbia, que acrescentou mais de 100 km de ciclofaixas marcadas por cones de tráfego. Com isso, a proposta é não exercer pressão no sistema de ônibus BRT Transmilenio.

 

África e Ásia

Embora essas medidas pós-confinamento sejam sinais de esperança para os ativistas do ciclismo urbano, continua difícil implementá-las no Hemisfério Sul, especialmente nas megacidades em rápida expansão na África e Ásia, onde bilhões dependem ou do transporte público superlotado, ou de mobilidade compartilhada em táxis ou veículos privados.

 

Em Abuja, capital da Nigéria, as medidas ditadas pela pandemia incluíram reduzir a capacidade dos ônibus e suspender os serviços da Uber. No entanto, um projeto de pesquisa mostrou que isso resultou em transporte mais caro e restrito, deixando alguns passageiros "na mão", mais vulneráveis, especialmente mulheres.

 

Em Singra (Bangladesh), riquixás elétricos vieram preencher a lacuna deixada pela redução do transporte público. Vem sendo usados inclusive para entrega de bens de primeira necessidade, num sistema de tipo delivery. 

 

Neste caso, o projeto é apoiado pela Transformative Urban Mobility Initiative (Tumi), um grupo de mobilidade sustentável que inclui a agência alemã de cooperação internacional GIZ, e que atua também em Lviv (Ucrânia), Hoi An (Vietnam) e Addis Abeba (Etiópia), entre outras cidades.

 

Recuperação econômica 

No último dia 7 de maio, um grupo de prefeitos de todo o mundo declarou em comunicado que iniciativas de ação climática, incluindo patrocínio para o transporte público e a expansão de redes de ciclovias, poderiam "ajudar a acelerar a recuperação econômica e fortalecer a igualdade social". 

 

Esses governantes integram a força-tarefa C40 Covid-19 Recovery Task Force, que representa 750 milhões de cidadãos em cidades de todos os continentes.

 

"Nossa meta é construir uma sociedade melhor, mais sustentável, mais resistente e justa, a partir da recuperação da crise de covid-19", prossegue o comunicado, alertando que os efeitos sociais e econômicos da pandemia serão ainda "sentidos por muitos anos".

 

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