Por que não usar as bikes agora, em meio à crise?

Bicicleta dá mobilidade, permite o necessário isolamento e ainda propicia o exercício ao ar livre, escreve Peter Walker, no jornal britânico The Guardian

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Fonte: The Guardian  |  Autor: Peter Walker/The Guardian  |  Postado em: 01 de abril de 2020

Mantenha distância de pelo menos 2 metros de outra

Mantenha distância de pelo menos 2 metros de outras pessoas

créditos: Tolga Akmen/AFPS

Como se locomover sem contrair - ou espalhar - o coronavírus? Esta é uma pergunta cada vez mais urgente para aqueles que ainda precisam ir ao trabalho, comprar alimentos ou visitar pessoas vulneráveis. Uma resposta pode ser andar de bicicleta, ou simplesmente caminhar.


A ressalva imediata a ser mencionada é que nem todos os deslocamentos podem ser feitos de bicicleta ou a pé. Alguém pode percorrer 40 km à noite para levar 50 kg de alimentos em uma bicicleta de carga, mas para a maioria das pessoas esta não é não uma boa alternativa.


No entanto, mais de 30% dos deslocamentos diários no Reino Unido percorrem menos de 3 km, e mais de 60% dessas viagens não chegam a 8 km. (Em São Paulo, 40% das saídas de carro percorrem menos de 2,5 km e 55% delas não chegam a 5 km). Assim, principalmente nas áreas urbanas, os deslocamentos individuais poderiam ser feitos normalmente por esses modos ativos.


Por que andar de bicicleta durante a crise do coronavírus? A bicicleta pode levar milhares de pessoas às ruas simultaneamente, em contato com o ar fresco, sem que elas estejam próximas, a menos de dois metros. Mesmo em um semáforo, na hora do rush, você quase sempre pode manter essa distância. A Itália e a Espanha proibiram temporariamente o ciclismo de lazer, mas permitem o uso da bicicleta nos deslocamentos diários para o trabalho ou compras de alimentos, sob uma fiscalização policial considerada "excessivamente zelosa".


Na semana passada, a executiva-chefe da British Cycling, Julie Harrington, escreveu ao secretário de Saúde Matt Hancock, pedindo aos ministros que adicionem o ciclismo à sua lista de atividades recomendadas durante o surto do coronavírus. E no início desta semana, um grupo de quase 50 acadêmicos e especialistas em saúde pública e transporte escreveu uma carta aberta ao governo, pedindo aos ministros que permitam a caminhada e o ciclismo em meio à pandemia, por sua importância vital na questão de saúde pública mais ampla, ou seja o de evitar o sedentarismo.


Durante qualquer confinamento, “todos os riscos sociais e de saúde existentes não desaparecem”, escreveram os signatários. A carta acrescentou: “...O confinamento, às vezes em acomodações superlotadas, com pouco ou nenhum espaço verde privado, e particularmente durante períodos de ansiedade, apresenta riscos à saúde.”


O coronavírus pode - na melhor das hipóteses - matar milhares de pessoas. Mas as consequências na saúde a longo prazo para as pessoas excessivamente inativas e sedentárias envolvem doenças como a diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer. E estas são algumas das principais causas de morte precoce em todo o mundo, todos os anos. É difícil estimar números precisos, mas uma estatística frequentemente citada sugere que somente na Inglaterra, mais de 80 mil pessoas morrem prematuramente todos os anos devido a problemas de saúde gerados pela inatividade.


Em vez de impedir, os governos deveriam facilitar o uso de bicicletas para que as pessoas possam evitar o transporte público. Em apenas algumas horas seria possível criar ciclofaixas temporárias para que mais pessoas pudessem pedalar com segurança. A capital colombiana, Bogotá, fez isso.


Mesmo a proibição do ciclismo de lazer, que é muito bom para a saúde física e mental, poderia ser questionada.  A justificativa para as proibições parece justa - aliviar os serviços de saúde, caso um ciclista se machuque e precise de tratamento - , mas a maior dos acidentes de trânsito envolvem carros e motocicletas. Andar de bicicleta é uma forma de transporte inerentemente segura, onde o perigo é quase todo externo - isto é, de motoristas e outros usuários de veículos a motor.


Se a intenção realmente é evitar acidentes, a melhor maneira, certamente, seria reduzir os limites de velocidade e exigir uma condução cuidadosa. 
Assim, por exemplo, as grandes cidades poderiam impor limites gerais de velocidade de 20 km/h, com espaço reservado nas principais vias para o uso de bicicletas. Com tantas pessoas confinadas em casa, em muitas cidades os níveis de tráfego estão caindo, com menos riscos e menores índices de poluição do ar e isso também facilitaria a prática do pedal ou da caminhada.


Em todo o mundo, os governos estão adotando ações que, apenas há algumas semanas, seriam descartadas, como mera fantasia. Mesmo o governo de Boris Johnson (primeiro ministro britânico) não está descartando a idéia de introduzir uma renda básica universal, ideia que, quando levantada pelos Verdes em 2017, foi vista com escárnio pelos conservadores.


Então, se uma crise como esta faz as pessoas mudarem radicalmente de opinião, por que não tornar o uso da bicicleta mais fácil e agradável? Com uma única medida seria possível manter as pessoas distanciadas no transporte e torná-las mais saudáveis a longo prazo. Talvez seja a hora de agir.


Leia a c
arta aberta ao governo britânico


*Título original: 
Why not encourage cycling during the coronavirus lockdown? | Tradução e adaptação: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil


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