Autoridades brasileiras de trânsito poderiam aproveitar a crise momentânea na saúde para realizar uma fiscalização intensiva, rigorosa e não programada nas ruas das cidades e punir os condutores que não cumprem as normas de trânsito e acabam provocando acidentes graves nas ruas do país. A opinião é do engenheiro Horácio Figueira, especialista em mobilidade urbana e mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo.
Figueira lembra que os acidentes no trânsito mataram quase 400 mil pessoas e feriram mais de 1,6 milhão de brasileiros entre 2009 e 2019. "Mais de 60% dos leitos hospitalares e 50% das vagas nos centros cirúrgicos do Sistema Único de Saúde (SUS) são ocupados por vítimas desses acidentes, que tiveram um impacto de quase 3 bilhões de reais para o SUS. Esses acidentes sobrecarregam os serviços de saúde e impedem o atendimento de pessoas que precisariam de cirurgias cardíacas, tratamentos de cânceres ou, neste momento, de atendimento para a doença do coronavírus", justifica Horácio Figueira.
Pesquisador incansável do tema, Figueira tem feito avaliações informais sobre o desrespeito ao sinais de trânsito, pratica que se tornou uma febre, especialmente entre motociclistas: "De cada 100 motos que chegam a um sinal vermelho, pouco mais de 20 passam direto, especialmente se for um semáforo para pedestres". Não por acaso, motociclistas e pedestres são a maioria das vítimas de trânsito no Brasil.
"Não podemos ver o coronavírus, mas todo veículo tem uma placa, um condutor e um endereço. Basta que a autoridade de trânsito anote a placa e procure o condutor em sua casa. Precisamos parar de pensar apenas na fluidez do trânsito e olhar com prioridade a proteção das vidas, das pessoas. Com uma fiscalização e punição mais rigorosa teremos mais segurança no trânsito e conseguiremos liberar os serviços de saúde para atender às pessoas doentes", conclui Horácio Figueira.
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