No trânsito de Fortaleza, os pedestres são os mais vulneráveis. Segundo a Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC), em 2010, 43% das pessoas que morreram em acidentes eram pedestres. Os dados de 2011 só serão divulgados no próximo ano.
O índice de morte entre as pessoas que andam a pé superou todas as demais categorias: motociclistas (28,9%), ciclistas (10,7%), passageiros (8,5%), condutores (7,4%) e outros (1,4%). De 365 vítimas no ano passado, 156 foram pedestres, o que representou um aumento de 11% em relação a 2009, quando 140 morreram.
Os dados fornecidos pela AMC comprovam a dificuldade que é andar a pé nas ruas da capital. O desrespeito à faixa de pedestre e até mesmo aos semáforos são exemplos cotidianos de má educação no trânsito. Para crianças e idosos a situação é ainda mais complicada. O simples ato de atravessar a rua pode se tornar um grande desafio, mesmo quando existe faixa.
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os veículos de maior porte são responsáveis pela segurança dos veículos menores, os motorizados pelos não-motorizados, e todos eles pelos pedestres. É nesse sentido que a Prefeitura de Fortaleza, junto à AMC, realiza a campanha "Pé na Faixa, Pé na Vida", que visa incentivar o bom uso da faixa de pedestre e, consequentemente, construir um trânsito melhor.
No Centro da cidade, a faixa é, muitas vezes, um item decorativo. Os flagrantes de desrespeito são notados a todo instante, até mesmo quando o sinal está vermelho para veículos. Quem atravessa é obrigado a correr para evitar as investidas de carros e motos, que, quando não avançam o sinal, ultrapassam a faixa de retenção, assustando pedestres como o vendedor ambulante Francisco Lafayete. "Além de não respeitarem a faixa, a pista ainda é irregular. Eu, que trabalho com carrinho, tenho de passar mais devagar, o que é pior", desabafa.
Mas os técnicos especialistas em trânsito acreditam que as faixas não são tão importantes quanto a conscientização dos motoristas, que, segundo o CTB, devem permitir a passagem de pedestres independentemente da existência delas. A presença das faixas é apenas uma maneira de organizar melhor o fluxo das pessoas nas vias. É dever de qualquer cidadão respeitá-las.
Educação é foco
Fortaleza tenta se espelhar em outras cidades brasileiras que realizaram campanhas de valorização do pedestre. O analista de trânsito Luís Miura, responsável pela implantação de programas educativos em Brasília (DF), Maringá (PR), Boa Vista (RO) e Campo Grande (MS), esteve em Fortaleza, na Semana Nacional de Trânsito.
Miura, que também é psicólogo comportamental, proferiu palestras e deu instruções de educação no trânsito para agentes e técnicos da AMC, além de membros da sociedade civil organizada. Geovana Brandão, chefe da Divisão de Educação da AMC, diz que o primeiro passo da campanha já está sendo realizado, que é a revitalização da sinalização, incluindo as faixas. As etapas seguintes, que ainda estão sendo estudadas, irão focar os motoristas e, posteriormente, os pedestres.
"O que acontece é que a sinalização, hoje, é voltada para o motorista, e não para o pedestre, que muitas vezes é invisível para os motoristas. A campanha é importante para mostrar aos motoristas que, no trânsito, todos são pedestres", explica.
Para Luís Miura, a hierarquia no trânsito das grandes cidades está invertida. Segundo ele, o motorista tem de reconhecer que o espaço é do pedestre e que ele deve devolvê-lo o direito de circular nas vias. A grande vantagem da educação no trânsito, para o analista, é a não necessidade de agentes de trânsito no cumprimento da lei.