Pesquisa avaliou os tempos de semáforos de pedestres no Brasil

Levantamento resulta da campanha Travessia Cilada. Do total de 177 travessias mapeadas, as dez piores estão em SP

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Fonte: Corrida Amiga  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 20 de novembro de 2019

Pedestre, espere e corra!

Tempos de travessia são inviáveis para idosos

créditos: Conexão Planeta

Estudo organizado pela organização Corrida Amiga mapeou os tempos de travessia oferecidos pelos semáforos de pedestres em 14 cidades do Brasil. O levantamento foi feito a partir de observação de voluntários durante  a primeira edição da campanha Travessia Cilada.


O trabalho foi realizado entre 4 e 7 de novembro por meio do aplicativo Colab (https://www.colab.re/), com a indicação dos endereços, tempos semafóricos e imagens dos semáforos avaliados. O objetivo central da campanha foi mobilizar as pessoas sobre a importância de garantir tempos semafóricos seguros e adequados para os pedestres.
 

Do total de 177 travessias mapeadas, as dez piores se concentram na cidade de São Paulo. Na capital paulista, o tempo semafórico é calculado com base na velocidade de 1,2 metro por segundo. Idosos, por exemplo, caminham à média de 0,75 metro por segundo, muito abaixo da prevista pelos técnicos de engenharia de tráfego, o que dificulta as travessias e provoca acidentes, por vezes fatais . Segundo relatório do Infosiga (sistema mantido pelo governo do estado de São Paulo) já foram registradas  254 mortes de pedestres na capital paulista em 2019, sendo 40% deles pessoas idosas, um aumento de 11% em relação ao ano anterior no número de atropelamentos.
 

São Paulo
A média do tempo de espera calculado nos semáforos para pedestres de São Paulo foi de 1 minuto e 30 segundos. Por outro lado, a média para travessia ficou em apenas 6 segundos de verde. Segundo o estudo, os piores tempos de espera encontrados foram encontrados nos seguintes pontos da capital paulista: 

 


Na avaliaçao dos organizadores da campanha, além de olhar para os tempos de espera é necessário analisar a questão de forma mais ampla, considerando outras possibilidades de melhorias como: adoção de semáforos sonoros e substituição do vermelho piscante por verde piscante, com contagem do tempo restante para travessia.

 


Pedestre X Semáforo
A organização Cidade a Pé (https://cidadeape.org/category/semaforo-para-pedestre) detalhou os principais problemas enfrentados pelos pedestres nas travessias dotadas de semáforos:
 

"Perda na prioridade na conversão com foco para pedestre – Na conversão, a preferência é do pedestre (CTB, Art. 36) mas, paradoxalmente, o foco dedicado ao pedestre tira essa preferência. Um ciclo de três estágios significa que o sinal abre para um fluxo de veículos, depois abre para outro fluxo de veículos, e só depois abre para os pedestres. A justificativa da segurança na verdade traz sérios prejuízos para os pedestres, pois gera grande tempo de espera e pouco tempo de travessia. Esse ciclo de três estágios é, ao contrário do que se pensa, muito mais inseguro, induzindo as pessoas a atravessarem no vermelho (67% das mortes nos cruzamentos). Há situações ainda piores, em que os pedestres sequer conseguem atravessar num sentido, sem esperar duas longuíssimas sequências. Muitos cruzamentos deixam de ter travessias nas continuidades das calçadas apenas para assegurar todo o tempo aos veículos.

 

Cálculo do tempo de travessia – Para cálculo do tempo de travessia adota-se a canhestra técnica de utilizar o “tempo médio” de travessia da via por uma única pessoa. Os padrões utilizados para fixação desse “tempo médio”, no entanto, nem mesmo foram calculados por um órgão técnico brasileiro. São utilizados índices aferidos para populações de outros países (com diferente padrão de altura, faixa etária média, número de pessoas com deficiência na população etc.). Só como um exemplo, umas das poucas pesquisas acadêmicas sobre travessias indica que “97,8% dos idosos da cidade de São Paulo não conseguem caminhar a 4,3 km/h, velocidade exigida pelo padrão apresentado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP) para os semáforos da cidade”. Além disso, se em uma rua há um fluxo muito grande de pedestres e, enquanto aguardam o sinal abrir, eles formam “pelotões” para atravessar, o cálculo do tempo semafórico apenas leva em conta o tempo necessário para a primeira fileira atravessar.

 

Botoeira – O botão que faz o pedestre “pedir licença” para atravessar. Não há padronização do seu funcionamento: ou não interferem nos ciclos semafóricos, ou demoram demais para dar o tempo aos pedestres, ou - pior ainda - o botão simplesmente não funciona.

 

Vermelho piscante – As atuais normas do Manual de Sinalização Semafórica do Denatran impuseram uma prática que se mostra totalmente inapropriada ao definir poucos segundos de verde e o restante do tempo de travessia em vermelho piscante, de forma a reduzir ainda mais o tempo de travessia. As pessoas se sentem pressionadas e frustradas ao atravessar, e precisam correr pela rua – em vez de simplesmente atravessar com dignidade e conforto.

 

O que deveria ser feito, obedecendo ao preconizado no CTB (Lei Federal 9.503/1997), na Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal 12.587/2012) e no PlanMob de São Paulo (Decreto Municipal 56.834/2016), seria priorizar o pedestre. Para isso é preciso:

- Passar a contabilizar o número de pessoas usando as vias;

- Considerar o fluxo de pessoas a pé nas travessias;

- Conhecer melhor os tempos necessários para atravessar;

- Entender as necessidades de todos os pedestres (pessoas com dificuldade de locomoção, pessoas empurrando carrinhos de bebê, carregando compras, puxando malas, dando as mãos a crianças, de muleta, com o pé machucado etc.), e não apenas da “média”.

 

Todos devem ser capazes de atravessar as ruas com segurança, tranquilidade e dignidade."


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