Da casa para o trabalho, do trabalho para casa; de noite, ir até um restaurante ou bar; aos finais de semana, shopping, praia, parque. São diversos trajetos e, para cada um deles, um tipo de transporte e custo diferentes. Nem todo mundo sabe quanto gasta para se deslocar e qual a forma mais eficiente de fazer isso – o que faz com que muitos optem por alternativas mais caras.
O nível de conhecimento sobre a fatia do orçamento pessoal dedicada ao transporte foi verificado recentemente.
A pesquisa “Como o brasileiro entende o transporte urbano”, feita pela Ipsos em parceria com a 99, empresa de tecnologia em mobilidade urbana, revelou que 76% dos brasileiros não têm a menor ideia de quanto gastam mensalmente para se locomover.
Segundo o levantamento, os donos de carro próprio, por exemplo, disseram gastar em média R$ 357 por mês com transporte. Quando convidados a detalhar suas despesas, porém, viram-se diante de uma surpresa: gastam de R$ 2.090 a R$ 2.534. Segundo a pesquisa, é na Classe B que está o maior erro de percepção: desembolsa-se seis vezes mais do que se imagina com o carro. Com os brasileiros da Classe C, a diferença foi um pouco menor, mas ainda assim alarmante: quatro vezes mais alta do que o estimado.
Integrar para economizar
Foi assim que Ricardo Natali e sua esposa, Thaís Davanso, moradores de São Paulo, decidiram rever os gastos e repensar a necessidade de manter seus carros. Primeiro, venderam um dos automóveis quando foram morar juntos. Dois anos depois, o outro.
A solução foi substituir o carro pelo uso de transporte público e aplicativos de mobilidade. Ricardo usa o metrô para ir ao trabalho, enquanto Thaís embarca em ônibus fretado. Quando saem juntos ou aos fins de semana, optam por um carro por aplicativo. Segundo eles, a integração entre modos de transporte permite que os deslocamentos sejam mais rápidos e baratos. “Se eu tenho uma reunião em um lugar distante, vou até o metrô mais próximo, pagando R$ 4,20, desço e chamo um 99, que costuma custar R$ 7. Economizo praticamente metade do que gastaria”, observa Ricardo.
O resultado da mudança já reflete no bolso do casal. Por mês, os gastos com aplicativos equivalem ao custo que tinham com combustível em apenas um dos automóveis, algo em torno de R$ 300 a R$ 400.
Segundo um levantamento da própria 99, para se manter um carro popular estima-se um custo anual de R$ 8.397,62 (observando-se apenas os gastos fixos, como valor da parcela, seguro e depreciação). “Depois que a gente vendeu os carros, conseguimos economizar e investimos esse dinheiro para fazer uma boa viagem por ano”, conta Ricardo.
Para onde nos levam os carros?
O casal é reflexo de outro dado revelado pela Pesquisa Ipsos: 11% dos entrevistados disseram ter abandonado o carro próprio nos últimos cinco anos. E mais: 21% diminuiriam o uso que fazem hoje, enquanto 30% abririam mão de ter automóvel. Em ambos os casos, o principal motivo está relacionado à economia.
Foi pensando em economizar que André Araujo, mestre em História, diz que nunca considerou ter carro. Morador de Guarulhos, na Grande São Paulo, ele também combina transporte público e 99 para se deslocar. “No meu caso, ter carro é um custo totalmente desnecessário. Antes, eu integrava transporte público com táxi, mas desde que os aplicativos surgiram, eu opto por esta nova opção, por ser mais barata. Inclusive, já separo um dinheiro do orçamento para isso”, relata André.
Além do fator econômico, reduzir o tempo no volante pode ser uma boa alternativa para quem quer passar menos tempo no trânsito – seja por qualidade de vida ou por segurança.
Ainda de acordo com o estudo da Ipsos, 70% dos brasileiros enfrentam congestionamento diariamente. Nas regiões metropolitanas do país, este número cresce para 80%.
Além do desperdício de tempo no trânsito, há os problemas de segurança. De acordo com dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), cerca de 120 pessoas morrem todos os dias em acidentes de trânsito no Brasil.
Thaís e Ricardo puseram os custos com carro na ponta do lápis, mudaram hábitos e hoje priorizam gastar em outras coisas, como viagens. Foto: Arquivo Pessoal
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