A fumaça nossa de cada dia

Queimadas escureceram os céus das cidades e viraram manchetes. Mas, todos os dias respira-se um ar cada vez mais poluído pelas emissões de veículos a combustíveis fósseis

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Ricky Ribeiro / Marcos de Sousa  |  Postado em: 27 de agosto de 2019

Van diesel emite fumaça preta em rua de São Paulo

Van diesel emite fumaça preta em rua de São Paulo

créditos: Reprodução

Na segunda-feira passada a cidade de São Paulo foi invadida pela fumaça das queimadas que estão ocorrendo na Amazônia e no Centro-Oeste do país. A cidade escureceu, o dia virou noite e obrigou motoristas a acenderem farois por volta das quatro horas da tarde. Foi uma surpresa desagradável, porque se tratava de um tipo de poluição pouco comum na capital paulista. O assunto foi tema do Boletim Mobilize, que foi ao ar na Rádio Trânsito de São Paulo.

 

No entanto, os paulistanos, assim como os cariocas, recifenses, curitibanos, brasilienses  - enfim os moradores de todas as grandes cidades -, respiram todos os dias outros tipos de  poluentes que são gerados por milhões de carros, motocicletas,  caminhões e ônibus que circulam nas Regiões Metropolitanas. São gases tóxicos e material particulado que invadem casas e pulmões, e provocam doenças respiratórias, problemas cardíacos, tumores e mortes. 

 

Estudos da Universidade de São Paulo indicam que mais de 7 mil pessoas morrem a cada ano na Região Metropolitana de São Paulo por problemas causados pela fumaceira dos carros. No estado paulista, segundo outras estatísticas, seriam mais de 11 mil mortes por ano, além de outros milhares de pessoas que são afastadas de suas atividades para tratamento médico. É uma tragédia silenciosa, com enorme custo social.

 

Uma saída - a médio prazo  - seria a substituição dos motores por modelos mais "limpos", como o diesel Euro 6, ou por caminhões e ônibus elétricos. A curto prazo já seria possível a redução obrigatória do uso de veículos particulares, com pedágios urbanos e outros tipos de restrição, pelo menos nos períodos mais críticos do ano. Essa prática é comum em várias cidades do mundo, a exemplo de Santiago. Na capital chilena, quando o nível de material particulado no ar atinge o nível crítico, as motocicletas fabricadas há mais de 10 anos, caminhões, furgões e outros veículos a diesel são proibidos de circular. Simultaneamente, ativa-se um rodízio para os carros particulares conforme a numeração das placas.

 

Um dos problemas para a adoção desse "gatilho de poluição" no Brasil é a ausência de sistemas para o controle e verificação dos poluentes nas cidades do país. Apenas seis dos 27 estados brasileiros adotaram mecanismos para aferir a qualidade do ar em seus territórios, mas mesmo nesses estados e cidades os padrões de medição estão desatualizados em relação às normas da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em outras palavras: os brasileiros respiram mais poluentes do que os europeus, canadenses e norte-americanos. 

 

Curiosamente, as fábricas brasileiras de ônibus diesel já trabalham com motores da tecnologia Euro 6  - que reduz drasticamente as emissões de material particulado  - mas esses veículos são produzidos para venda em outros países da América do Sul. Aqui no país os municípios ainda comemoram a aquisição de veículos da geração Euro 5, que já é considerada um lixo tecnológico nos países mais avançados, segundo o especialista Olimpio Alvares

 

O atraso é tecnicamente inexplicável pois o Brasil está entre os cinco primeiros países em produção acadêmica sobre tema da qualidade do ar, segundo informações da pesquisadora Evangelina Vormittag, diretora técnica do Instituto Saúde e Sustentabilidade (ISS). “Nosso problema é muito mais de governança”, declarou a especialista durante seminário realizado em junho passado pelo WRI Brasil. Some-se ainda o dado que o país já conta com montadoras de trolebus, ônibus gás, a bateria e também fabricantes de bondes (VLTs) elétricos.

 

Os céticos certamente apontarão as planilhas de custos para justificar a permanência do modelo atual, mas segundo as pesquisas do ISS, a simples mudança dos motores e combustíveis para o padrão Euro 6 evitaria 148 mil mortes até 2050, com impacto positivo de 68 bilhões de reais em produtividade. Além disso, 155 mil pessoas deixariam de ser internadas, gerando uma economia de 575 milhões de reais. Resta à sociedade organizada pressionar os governantes a cumprir e aperfeiçoar as leis.


Ouça o Boletim Mobilize, que foi ao ar na Rádio Trânsito

 

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