Muito mal cuidadas e fora da norma: as precárias calçadas de Belém

Prefeitura não regulamenta, particular não cuida. Na capital do Pará, pedestres e cadeirantes sofrem com a má qualidade do passeio público, conclui avaliação

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Regina Rocha/ Mobilize  |  Postado em: 30 de julho de 2019

Av. Rômulo Maiorana: vários equipamentos, mas intr

Av. Rômulo Maiorana: vários equipamentos, mas intransitável

créditos: Leonard Grala

"Em Belém do Pará, as calçadas em geral são mal cuidadas, com pouca ou nenhuma regulamentação, e quanto mais afastado o bairro, mais precária é a qualidade do passeio público".

 

A conclusão é do historiador e mestre em desenvolvimento sustentável Leonard Grala*, que fez as avaliações para a Campanha Calçadas do Brasil 2019, do Mobilize, na capital paraense. Segundo ele, Belém é como boa parte das cidades do Norte do país, que vivem situação parecida.  

 

"Viajante de nascença", cicloativista e também atuante em comunidades ribeirinhas da Amazônia, Grala realizou os levantamentos da Campanha juntamente com cinco outros participantes. Ao longo dos percursos, eles observaram inúmeros obstáculos ao caminho do pedestre, em especial o cadeirante, não apenas nos bairros periféricos, mas inclusive em áreas centrais como a Cidade Velha, bairro onde nasceu a cidade. 

 

Obstáculos e má conservação da calçada: riscos ao pedestre. Foto: Cris Viana

 

A situação mais grave, analisa o historiador, "são os passeios de imóveis particulares, que se encontram em zonas sujeitas a alagamentos, onde mora a maioria da população e onde se vê as piores condições de caminhabilidade". Ele explica que, ao escolher os locais para avaliações, seu grupo buscou "manter uma especialização geográfica que representasse as distinções centro-periferia na cidade."  

 

No centro de Belém, os avaliadores viram exemplos de calçadas com piso tátil instalado e nivelamentos de acordo com a regulamentação. Já as rampas de acessibilidade são "raras exceções, e mesmo quando existem estão fora do padrão estabelecido pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para uso dos cadeirantes", questiona. 

 

Nas travessias, "faltam faixas de segurança, aviso sonoro, semáforos de pedestres, além da total falta de placas com informações voltadas a quem está a pé." A lista de deficiências não pára por aí: a cidade também carece de espaços para uma pessoa poder descansar: não há recuos, nem bancos, sombras ou qualquer equipamento público que cumpra esta finalidade".

 

Arborização

O conforto para quem caminha também não está nas prioridades. Belém é uma cidade quente, mas não dispõe de um planejamento de arborização urbana. Segundo Grala, "as sombras estão mais na região central, isso graças a um plano de plantio de árvores realizado por um arquiteto há cem anos, mas que não teve expansão na cidade após esse período."  

 

Calçada com rachaduras, sem nenhuma manutenção, em área escolar. Foto: Leonard Grala

 

Regulamentação

Como já dito, uma grande dificuldade da administração é a regulamentação das calçadas. "Em gestões passadas, tentou-se disciplinar seu uso, mas a prefeitura só conseguiu avançar um pouco em áreas sob sua responsabilidade", conta Grala: "O prefeito anterior quis disciplinar o uso das calçadas implantando piso tátil diante de alguns prédios públicos. Mas ao tentar pressionar os proprietários de imóveis particulares, houve uma revolta generalizada e a iniciativa não prosperou." 

 

Conclusão do avaliador: Belém está visualmente mal cuidada; muitos equipamentos são resquícios de administrações anteriores; há uma grande variação na largura das calçadas e muitos (e acentuados) desniveis entre a calçada e a rua, o que dificulta especialmente os cadeirantes. Por sua vez, os moradores não têm qualquer compromisso com normas mínimas de circulação, e a prefeitura, a quem cabe fiscalizar, não age de maneira contundente para resolver a questão. 

 

*Leonard Grala é historiador, mestre em desenvolvimento sustentável. Participa dos coletivos ParáCiclo, Bike Anjo Belém e Ciclomobilidade Pará. Viajante desde nascença, já residiu no Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo e Pará. Desenvolve atividade profissional junto a comunidades tradicionais da Amazônia. Filho de artesãos, mantém habilidades bonequeiras da família.

 

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