"É muito difícil, mas temos que encarar essa escadaria sempre. A SuperVia não valoriza quem tem deficiência". O desabafo é do vendedor ambulante André Luís Silva, de 48 anos, que por conta do diabetes perdeu dois dedos do pé. Morador de Saracuruna, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Silva tem que enfrentar os cerca de 40 degraus da estação de trem de Bonsucesso ao menos três vezes por semana, quando faz compras em um atacadão do bairro para revender na mercearia que ele mantém em casa. Na estação de trem há dois elevadores, mas parados por falta de manutenção.
Os problemas de acessibilidade se repetem, também, no metrô, onde é possível ver estações com escadas rolantes ou esteiras frequentemente paradas para manutenção, em diferentes linhas do sistema, aumentando as dificuldades enfrentadas por idosos e deficientes físicos.
O metrô possui 41 estações e três linhas em atividade, com cerca de 880 mil passageiros por dia útil. Já a SuperVia opera com cinco ramais, três extensões, 104 estações e uma malha de 270 quilômetros, alcançando 12 municípios e transportando cerca de 600 mil pessoas todos os dias.
"Carregamos no braço"
A sete quilômetros dali, na estação Maracanã, a situação não é diferente. Os elevadores estão quebrados e os passageiros com dificuldade de locomoção precisam utilizar as escadas para acessar as bilheterias. Apesar da reforma que custou R$ 175 milhões, segundo o governo do estado, o local - que recebe mais de 13 mil passageiros por dia - também enfrenta problemas, como ambulantes ilegais e moradores de rua que dormem e pedem dinheiro para quem embarca e desembarca.
"Há meses os elevadores estão quebrados e a empresa não faz nada. De vez em quando as escadas rolantes e os elevadores, de dentro da estação, param e nós precisamos ajudar cadeirantes a subir as escadas. Carregamos no braço", conta um funcionário da concessionária, que pediu para não ser identificado.
Na estação Oswaldo Cruz sequer há elevadores ou escadas rolantes. Moradora do bairro, a designer de sobrancelhas Larissa Gabrielle Rodrigues de Souza, 25, que acabou de dar à luz a pequena Vitória — de apenas um mês de vida —, conta que precisa encarar os degraus toda vez que vai embarcar no trem. "É um sofrimento muito grande, porque a escada é ingrime demais. Ao contrário de Madureira, onde tem escada rolante, aqui não tem nada", lembra Larissa, que emenda: "Quando estou com compras é pior ainda. É o peso da Vitória e o das compras. Pagamos caro na passagem para recebermos isso".
Vandalismo
Por meio de nota, a SuperVia informou que, na estação de Bonsucesso, os dois elevadores estão em funcionamento. Em relação ao Maracanã, disse que o elevador que liga o mezanino à plataforma foi vandalizado e aguarda a chegada das novas peças para o reparo. Já sobre a estação Oswaldo Cruz, a SuperVia disse que o local passa por processo de modernização, iniciado em 2012, como parte do acordo firmado entre a concessionária e o governo do estado para melhorias em todo o sistema ferroviário.
O metrô do Rio também acumula problemas e reclamações quando o assunto é acessibilidade. Na estação de Irajá, na Zona Norte, há apenas uma escada rolante. Elevador, não existe. Após diversas reclamações, a empresa decidiu instalar uma plataforma inclinada para cadeirantes e idosos. Entretanto, "há dias não é possível ver ninguém trabalhando para colocar o equipamento", diz um funcionário. O DIA esteve no local e encontrou um aviso de que a plataforma deverá ficar pronta até amanhã.
Na Tijuca, Zona Norte, moradores do bairro reclamam das escadas rolantes nos acessos das ruas Dona Delfina e Uruguai, que, segundo eles, estão sem funcionar há semanas. Na Barra da Tijuca, Zona Oeste, as escadas rolantes também estavam quebradas.
O MetrôRio informou que a estação Irajá é acessível e conta com escada rolante e plataforma inclinada, "que está sendo substituída por equipamento mais moderno", informa em nota. A substituição, segundo a empresa, é realizada durante a madrugada, para não atrapalhar o fluxo de passageiros e o prazo inicial de conclusão é até amanhã.
"Logo, não procede a informação de que as obras estão paradas há uma semana", diz a concessionária, em nota, lembrando que a escada rolante pode funcionar em ambas as direções e muitas delas com funcionamento automático.
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